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Edição 176

Régua da produtividade

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Desenvolvida no projeto Ambincana, nova metodologia permite prever a produtividade dos canaviais de acordo com as características dos ambientes de produção

Natália Cherubin

Ambiente de produção é a interação das condições dos solos (físicohídricas e químicas), com o clima (precipitação e as perdas de água pela evapotranspiração). Os componentes dos ambientes de produção são representados pela profundidade, a qual tem direta relação com a disponibilidade de água e com o volume de solo explorado pelas raízes; pela fertilidade, como fonte de nutrientes para as plantas; pela textura, relacionada com os níveis de matéria orgânica; capacidade de troca de cátions e disponibilidade hídrica; e pela água, vital para a sobrevivência das plantas e como parte da solução do solo.

Saber quais ambientes de produção existem em um canavial não só possibilita que os produtores tenham informações mais detalhadas, como também que entendam como os ambientes de produção junto a outras variáveis impactam na produtividade dos canaviais.

Segundo Prado, ao se ter conhecimento da nota de ambiente de produção específica de uma propriedade ou empresa é possível que se meça se a nota está de acordo, mais baixa ou mais alta em relação ao potencial de produtividade previsto

Com o objetivo de ajudar os produtores a qualificar os seus ambientes de produção de cana-de-açúcar, o projeto Ambicana, do Centro de Cana de Ribeirão Preto do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) da APTA (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios) do Governo do Estado de São Paulo, coordenado pelos pesquisadores Hélio do Prado, Marcos Landell e André Cesar Vitti, desenvolveu não só pesquisas como também uma nova metodologia para medir ambientes de produção e, consequentemente, o andamento da produtividade dos canaviais. E de maneira bem simples: através de uma régua que permite organizar os dados de produtividade de maneira mais fácil para que os gestores tomem as decisões de manejo de forma mais rápida.

“Nos últimos 15 anos, o estudo Ambicana, realizado em 30 usinas no Brasil e uma no México, gerou um grande banco dados pedológicos relacionados com as produtividades de cana-de-açucar em diferentes condições climáticas. A partir deste estudo, desenvolvemos uma régua simples de ser utilizada”, destaca o pesquisador e especialista em Solos e Ambientes de Produção do IAC, Hélio do Prado.

Nesta régua são encontradas as notas dos ambientes de produção, que variam de 0 a 10, com as respectivas produtividades médias de 5 cortes (TCH5) menor ou igual a 50 t/ha, e maior ou igual a 100 t/ha. Para as notas intermediárias os valores de TCH5 são também intermediários.

De acordo com o pesquisador, para saber qual é nota do ambiente de produção da propriedade ou usina, é indispensável que primeiramente se faça o levantamento de solos semidetalhado ou detalhado e o conhecimento climático histórico local. “Sendo assim, basta calcular a nota média de ambiente de produção ponderando-se a porcentagem de ocorrência de cada ambiente de produção com a nota da régua, dividindo-se por 100. A soma dos demais cálculos resulta na nota final ou TCH5 final.”

No enquadramento dos ambientes de produção da régua é considerado o manejo básico, ou seja, boas práticas de preparo e conservação do solo, fertilização, controle de ervas daninhas, de pragas e doenças; e as corretas épocas de plantio e colheita, além da alocação varietal da planta de acordo com suas características genéticas e exigências nutricionais e de água.

“Se além do manejo básico for aplicado o manejo avançado, ou seja, irrigação semiplena ou plena, aplicação de vinhaça, torta de filtro, adição de cálcio em profundidade, plantio da cana-de-açúcar no mesmo local onde existiam, por longo tempo, gramíneas, leguminosas e frutíferas, certamente os ambientes de produção serão alterados”, explica Prado.

A régua foi apresentada durante o Seminário Irrigacana, realizado no final de outubro em Ribeirão Preto, SP. Prado afirma que a troca de informações com os especialistas de irrigação do Brasil e do exterior foi muito importante para conhecer os bancos de dados com elevadas produtividades no manejo avançado com irrigação plena e semiplena. “Esses dados farão parte da futura régua de ambientes de produção, com produtividades médias de 8 cortes (TCH8) e 10 cortes (TCH10) nos respectivos limites extremos de produtividades de 101 a 200 t/ha e dos valores intermediários.”

DADOS DE PRODUTIVIDADE

Usar a régua para medir os ambientes de produção é uma forma que o produtor tem de organizar os dados de produtividade da sua cana-de-açúcar e ajudá-lo a entender melhor a produtividade em diferentes épocas do ano. Afinal, as produtividades variam conforme a época de colheita. “Conhecer estes dados é essencial para um manejo agrícola olimizado”, afirma Prado.

Segundo Prado, ao se ter conhecimento da nota de ambiente de produção específica de uma propriedade ou empresa é possível que se meça se a nota está de acordo, mais baixa ou mais alta em relação ao potencial de produtividade previsto na régua pelas letras A1 a G2 no manejo básico.

“Se a nota estiver abaixo do valor indicado como ideal, certamente existe algum erro de manejo em relação às boas práticas agrícolas e se estiver acima, com certeza foi feito algum manejo avançado em relação aos que foram citados. Antes se sabia que existiam vários ambientes de produção, mas com o uso da régua é possível saber que a produtividade média ponderada pode ser aumentada ou diminuída. Se melhores terras forem adquiridas ou arrendadas a nota do ambiente de produção vai aumentar, mas se forem as piores terras, o que deve ser evitado, a nota  diminui. Portanto, a empresa logicamente precisa decidir pelos melhores solos e alocar as variedades de acordo com essas mudanças”, finaliza.

Produzida através de informações de mais 40 usinas, a régua é específica para a cana-de-açúcar e pode ser utilizada tanto no Brasil como em países de clima tropical.

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