Home Opinião Raízen em jejum de lucro e dieta de otimismo: Cosan vende, Shell observa e o mercado
OpiniãoÚltimas Notícias

Raízen em jejum de lucro e dieta de otimismo: Cosan vende, Shell observa e o mercado

Compartilhar

Em 2021, a Raízen estreou na B3 com pompa e circunstância, como diria minha mãe. As ações saíram a R$ 7,40, captando R$ 6,9 bilhões — o maior IPO da América Latina naquele ano. A joint venture entre Cosan e Shell prometia reinventar a energia brasileira com biocombustíveis avançados, especialmente o etanol de segunda geração.

Mas o tempo passou, e os ventos da transição energética nem sempre sopram a favor. Hoje, as ações RAIZ4 são negociadas em torno de R$ 1,75 — uma queda superior a 75%. O valor de mercado encolheu para algo próximo de R$ 35 bilhões. No 3º trimestre da safra 2024/25, a empresa amargou um prejuízo de R$ 2,57 bilhões, e o EBITDA veio 16% abaixo do esperado, impactado por incêndios e custos que arderam no caixa.

Diante do aperto, a Cosan, sócia da Shell, fez o que toda boa holding faz quando a conta não fecha: vendeu. Em janeiro de 2025, saiu da Vale (com quem flertou por pouco mais de um ano) em um block trade de R$ 9 bilhões, reduzindo sua dívida em 40%. E também já colocou no mercado sua participação na Raízen, sinalizando que, por ora, não vai acompanhar novos aportes na empresa.

Enquanto isso, a Shell — parceira elegante e cautelosa — segue comprometida, mas com as sobrancelhas arqueadas. Desde 2022, tem contrato para comprar 3,25 bilhões de litros de etanol celulósico da Raízen. Mas, diante das recentes reestruturações e da necessidade de entrada de novos sócios, a petroleira faz o que qualquer britânica sensata faria: observa com discrição e exige transparência.

A Raízen segue investindo em tecnologia limpa e eficiência, e o projeto é ambicioso. Mas é inegável que a fase atual exige ajustes. A governança será testada, o alinhamento entre os sócios será decisivo — e a confiança do mercado, reconquistada com fatos, não com promessas.

Por ora, o mercado assiste em silêncio, como quem vê um trem-bala desacelerar num trecho sinuoso: os olhos seguem atentos, o coração, desconfiado. Os resultados do ano-safra, encerrado em 31 de março, são aguardados como se fossem exames médicos de um parente querido — e doente. Muitos investidores aliás, já estocam Imosec não por exagero, mas por prudência: quando a contabilidade dá sinais de febre, é melhor não subestimar os calafrios. A jornada da Raízen, repleta de inovação e promessas, ainda pode retomar o compasso. Mas, como todo bom samba, vai precisar de ritmo, harmonia e — acima de tudo — sintonia entre os parceiros.

*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.

As opiniões expressas nos artigos são de responsabilidade de seus respectivos autores e não correspondem, obrigatoriamente, ao ponto de vista da RPAnews. A plataforma valoriza a pluralidade de ideias e o diálogo construtivo.

 

Compartilhar
Artigo Relacionado
Últimas Notícias

Petrobras reduz preço do diesel em R$ 0,12 por litro a partir desta sexta-feira

A Petrobras anunciou nesta quinta-feira (17) uma redução de R$ 0,12 por...

Últimas Notícias

Uso de irrigação por gotejamento avança e ganha protagonismo na Agrishow 2025

A Agrishow, uma das maiores vitrines do agronegócio mundial, mais uma vez...

Últimas Notícias

Atvos afirma que está atenta a novas oportunidades, mas não confirma compra de usinas da Raízen

A Atvos, empresa controlada pelo fundo Mubadala Capital, estaria considerando apresentar uma...

Últimas Notícias

Rubi S.A. conclui com sucesso mais uma etapa do treinamento “Aperfeiçoar”

Quase 700 profissionais foram requalificados nas unidades de Rubiataba e Uruaçu (GO)...