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Tereos aposta em bioinsumos para acelerar metas e alcança economia de R$ 50 por hectare

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O COO da Tereos, Everton Luiz Carpanezi, explica em entrevista à Bloomberg Línea como a empresa francesa tem combinado um manejo mais sustentável sobre a produção de cana no Brasil sem deixar de lado “a parte financeira” dos negócios

Metas de sustentabilidade podem ser traduzidas em ganhos financeiros e de produtividade. É o que busca provar a Tereos, grupo francês que completa 25 anos de operação no Brasil neste ano.

Desde 2018, a companhia vem substituindo insumos químicos por soluções biológicas e adotando tecnologias de precisão em seus canaviais. Esse movimento resultou em redução de custos, aumento da produtividade dos canaviais e maior foco na descarbonização das operações da companhia, disse o COO (Chief Operating Officer) da Tereos, Everton Luiz Carpanezi, em entrevista à Bloomberg Línea.

“A nossa conta fecha e fecha bem. Tanto na questão financeira quanto na vantagem de produtividade. Acreditamos que o sustentável não passa só por ‘transformar tudo em biológico’. Eu tenho que ter equilíbrio. A questão da sustentabilidade também é a parte financeira”, afirmou Carpanezi.

Segundo o executivo, a empresa contabilizou uma economia de R$ 50 por hectare desde que começou a utilizar os bioinsumos. Atualmente, 70% dos canaviais da empresa utilizam bioinsumos, e 30%, químicos. Esse uso integrado tem contribuído com o resultado, contou o executivo.

A substituição de químicos por bioinsumos não foi feita em sua totalidade na empresa, mas tem como base um manejo equilibrado que combina fertilizantes minerais e soluções biológicas para potencializar o uso dos nutrientes no solo e reduzir custos. “Não é uma substituição em si. Quando pensamos na parte de fertilizantes, na parte de pragas, temos bastante trabalho relacionado a isso”, disse Carpanezi

O aumento da utilização de biológicos se deu com uma parceria com a Koppert, firmada em 2022. “Nós fazemos parte do conselho biológico da Koppert. É uma parceria bem sólida e que tem espaço para avançar”, disse.

O executivo explicou que essa parceria tem sido crucial para enfrentar pragas que comprometem parte dos canaviais. Segundo ele, uma das principais ameaças é o esfenóforo (Sphenophorus levis), praga capaz de reduzir a produtividade entre 30% e 50% nas lavouras.

“Não temos, hoje, o manejo que elimina essa praga, apenas o controle que, anteriormente, era 100% químico. Nós somos pioneiros no uso intensivo de manejo integrado com bioinsumo”, afirmou o executivo.

Além das soluções biológicas, a companhia tem investido em digitalização e automação no campo. Desde 2022, uma célula da empresa no Centro de Operações Agroindustriais (COA) acompanha em tempo real a performance de todas as unidades e visa otimizar rotas e reduzir o consumo de diesel.

“O nosso centro de operações agropecuárias é considerado modelo. Temos os dados de todos os nossos equipamentos e indústrias em tempo real, com uma ação rápida de correção de rota ou otimização”, disse Carpanezi.

Na etapa industrial, a companhia opera com energia 100% renovável e autogerada, produzida a partir do bagaço de cana – uma das metas de descarbonização para 2030.

“A cana é levada até a usina e se divide em duas partes: o caldo, que vai para produção de açúcar e etanol, e a biomassa, ou bagaço de cana, que vai para produção de energia. Produzimos energia que alimenta a planta e ainda temos a oportunidade de exportá-la”, disse.

Apesar dos avanços, há desafios

Há cerca de dois anos, a companhia enfrentou um dos períodos mais difíceis de sua história no país devido à estiagem e a queimadas severas na região Sudeste, que ainda hoje afetam o desenvolvimento dos canaviais.

“Nós fomos um dos mais atingidos pelas queimadas, se não o mais, pensando em uma única empresa. Isso afetou muito o desenvolvimento do canavial, juntamente com a seca”, disse Carpanezi.

Para mitigar efeitos climáticos, a empresa tem mapeado reduzir a dependência das chuvas com o uso de irrigação. “Temos 200 hectares irrigados, o que é muito pouco. Mas temos um plano diretor de irrigação dentro da companhia e, em uma situação favorável, com certeza vamos investir dentro de um cenário que comporte esse investimento”, explicou o executivo.

Segundo o relatório de sustentabilidade 2024/25, a Tereos tem avançado no cumprimento de suas metas ambientais, como a substituição de combustíveis fósseis e o uso de energia 100% renovável e autogerada em todas as usinas. Outro objetivo próximo de ser alcançado é a certificação total da própria cana.

Entre as metas que ainda exigem avanços, por outro lado, estão a ampliação da rastreabilidade na cadeia de fornecedores, responsáveis por 50,1% do volume total de cana processada.

Para 2030, a companhia estabeleceu como meta que 75% das matérias-primas processadas, provenientes tanto de cana própria quanto de fornecedores, sejam certificadas ou avaliadas como sustentáveis. Atualmente, cerca de 67% do volume total de cana processado pela Tereos é considerado sustentável.

Segundo o documento, a empresa avalia parcerias e fornecedores, “com foco em aspectos como a regularidade do Cadastro Ambiental Rural (CAR), histórico de uso do solo e desmatamento, além de critérios sociais”.

Na safra 2024/25, as análises da companhia não identificaram impactos ambientais negativos nas áreas avaliadas.

Relação com a matriz

A relação entre a operação brasileira, a matriz e os cooperados franceses da Tereos é próxima, segundo Carpanezi. “Os nossos acionistas são agricultores franceses. Somos uma cooperativa com cerca de 12 mil produtores, e isso cria uma sintonia natural com o que fazemos aqui. Agricultura é agricultura”, disse.

Na França, a maior parte da produção dos cooperados da empresa está no cultivo de beterraba para a produção de açúcar, enquanto no Brasil o foco está na cana-de-açúcar e, cada vez mais, na bioenergia.

No horizonte, a empresa avalia ampliar a diversificação produtiva com a possibilidade de produzir etanol a partir do milho, a exemplo de outros players do setor.

Carpanezi explicou que a produção a partir do milho está em fase de estudos e que a companhia observa o mercado com atenção, embora não pretenda produzir o grão localmente. “Estudamos, assim como todo mundo, o etanol de milho, para entender como funciona a indústria e aproveitar a capacidade de moagem que já temos”, disse.

Bloomberg| Naiara Albuquerque

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