Negócios
Cadeias de soja e cana-de-açúcar pressionam inflação da indústria em abril, diz IBGE
As cadeias de produtos derivados da soja e da cana-de-açúcar pressionaram a inflação à indústria em abril, segundo o analista do Índice de Preços ao Produtor (IPP) Felipe Câmara. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram alta de 0,74% em abril da chamada inflação de “porta de fábrica”, sem impostos e fretes. Foi a terceira alta seguida no índice, com aumento de preços em 20 das 24 atividades investigadas pela pesquisa.
“Para entendermos a dinâmica inflacionária corrente, é importante lançar luz sobre as cadeias da soja e da cana-de-açúcar, mais especificamente sobre o preço do óleo de soja e do etanol na porta da fábrica”, afirmou.
Câmara explica que, no caso da soja, a menor produtividade da safra e o aumento do volume de exportações afetaram a disponibilidade do grão, pressionando o preço para cima. Ao mesmo tempo, houve influência da competição entre a fabricação de alimentos e a de biodiesel.
O etanol, por sua vez, foi influenciado por dois movimentos, segundo ele: a opção das usinas em direcionar a moagem de cana para a produção de açúcar e o baixo preço relativo na comparação com gasolina, que abriu espaço para remarcação no preço do álcool.
Esse cenário impactou o aumento dos bens de consumo em maio, que foi de 0,89%, com influência de 0,33 ponto percentual do índice de 0,74% do IPP. A influência foi semelhante à dos bens intermediários, com alta de 0,59% dos preços e influência também de 0,33 ponto percentual.
“O reflexo nos bens destinados ao consumo final ficou mais claro no preço da margarina, enquanto o próprio óleo bruto de soja teve seu impacto refletido na alta dos intermediários”, disse.
Na análise por atividades, a maior influência veio da indústria de alimentos, com alta de 0,80% – a primeira após três meses seguidos de queda. Com isso, o setor acumula queda de 1,41% em abril, menor do que a registrada no mês anterior (-2,19%). O resultado também foi impactado pela alta dos derivados da soja, como a margarina e o óleo bruto.
A maior variação do preço em abril foi no setor de papel e celulose, com 3,99%, com 0,12 ponto percentual de impacto. No ano, o aumento acumulado é de 7,55%, também o maior entre as atividades.
Segundo Câmara, a alta dos preços está ligada ao aumento na cotação da celulose no mercado internacional, que responde à demanda de recomposição dos estoques da cadeia consumidora e, em abril, foi pressionado também por maiores custos associados a disrupções logísticas e de oferta no âmbito do comércio internacional.
Na outra ponta, as indústrias extrativas ajudaram a segurar a alta do IPP, com queda de 3,58% dos preços, por conta do recuo de preço do minério de ferro. “O resultado das indústrias extrativas é relacionado à cotação internacional do minério, em trajetória de queda recente. O preço internacional responde às expectativas de atividade econômica na China, em particular na demanda por aço nos setores de construção e infraestrutura, que são um termômetro importante para os contratos negociados. Mas não dá para perder de vista também que a expectativa de recuperação econômica no resto do mundo não é pujante, o que reforça esse contexto de precificação”, disse o analista do IPP.
Com informações do Valor Econômico/Lucianne Carneiro
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