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Agrícola

Colhedora de cana de duas linhas: ganhos são reais

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Usinas e produtores têm conseguido quase dobrar a performance da colheita de cana-de-açúcar com o uso da tecnologia e reduzindo os custos do CT

*Natália Cherubin

Economia de combustível, redução de perdas na colheita de cana, redução de mão de obra nas operações, melhoria no transporte e ainda ganhos de rendimento sobre a vida da cultura, ou seja, canaviais mais produtivos e longevos. Esses são os benefícios que vêm sendo observados tanto em usinas como em produtores de cana que têm feito uso da colhedora de duas linhas – a CH950, única máquina hoje disponível comercialmente no mercado que colhe duas linhas simultâneas e independentes de cana-de-açúcar.

Apesar de ser um dos principais temas debatidos em eventos e rodas de conversa pelo setor sucroenergético e de diversas usinas e agrícolas pelo País já terem realizado testes internos com estas máquinas, atestando boa performance, ainda existe um ceticismo por parte de alguns com relação a tecnologia, seja por desconhecimento ou por crenças de que é preciso fazer drásticas adaptações nas operações para implementar a tecnologia.

No entanto, de acordo com Maria Renata Gonçalves, especialista de Produto e Mercado para soluções em cana-de-açúcar da John Deere, esse pensamento acaba postergando a curva de aprendizado.

“São necessárias algumas adaptações para alcançar o melhor potencial da máquina, mas o melhor caminho é usá-la como catalisadora dessas mudanças, que serão benéficas para qualquer outra colhedora. O aproveitamento de todo o potencial da CH950 virá conforme a empresa ganhar expertise. Por conta disso, não é preciso e nem possível estar 100% preparado antes para começar a utilizá-la”, afirmou à RPA news.

RPAnews (Informações John Deere)

A CH950 está no mercado comercialmente desde a safra 2019/20 e teve sua estreia na Usina São Manoel, que hoje conta com seis unidades dessa tecnologia. A companhia revelou que já registrou a colheita de 120.391 mil toneladas de cana por colhedora versus 72.152 toneladas de cana por máquina de uma linha durante a safra 2022/23.

No mercado brasileiro são mais de 150 equipamentos no campo, e desde então os números que a CH950 têm mostrado são esses:

– Quase o dobro de produtividade em colheita/máquina/dia;

– Potencial de redução de 25% na necessidade de tratores transbordos;

– Redução de 36% no número necessário de operadores de colhedora e tratores;

– Redução de 50% nas perdas por estilhaço, o que significa, aproximadamente, 3 toneladas de cana por hectare;

– Ganho de 11% de produtividade ligada ao controle de tráfego;

– Redução de 30% no consumo de combustível.

“Somos pioneiros na colheita de duas linhas simultâneas nos canaviais de espaçamentos simples. O equipamento, que foi desenvolvido para o Brasil com o objetivo de sanar as necessidades dos agricultores, auxilia na rentabilidade e sustentabilidade da colheita porque pode trabalhar com a mesma velocidade das máquinas de uma linha, impactando diretamente na redução da mão de obra e consumo de combustível. Além disso, agronomicamente, há a diminuição da compactação do solo, o que já mostra benefícios na brotação e no desenvolvimento das soqueiras”, adiciona Maria Renata.

Outro ponto destacado pela especialista é a ausência do pisoteio do canavial, porque a bitola da máquina permite que ela ande exatamente no centro da entrelinha, fazendo com que o trator também trabalhe exatamente no mesmo rastro do transbordo, criando o conceito da “pista de tráfego”.

“Pelo fato de preservar a entrelinha central, formando-se um canteiro, a área compactada é reduzida em 60%”, adiciona a especialista da John Deere.

Alguns clientes, como a Usina São Manoel, que foi precursora na adesão dessa colhedora de duas linhas, têm visto ganhos substanciais no rendimento da máquina. A companhia já observou um rendimento de colheita de 1.800 t/máquina/dia em 2022. Durante a safra 2022/23, a média da máquina de 2 linhas foi de 1.026 toneladas/máquina/dia, contra 710 toneladas/máquina/dia das colhedoras de uma linha utilizadas pela companhia.

“Já a BP Bunge conseguiu produzir, em média, 50% mais do que com a máquina de uma linha, com a qual conseguiram em torno de 1.500 toneladas. Em canaviais de até 100 toneladas, chegou a produzir o dobro da máquina de uma linha”, revela Maria Renata.

A Bioenergética Aroeira, que implementou a máquina há duas safras, atingiu uma média diária na colhedora de duas linhas de 1.500 toneladas/máquina/dia, alta de aproximadamente 74% em comparação às máquinas de uma linha, que colhem, em média, 860 t/máquina/dia. No entanto, Henrique Soares Naufel, gerente de Operações Agrícolas da Bioenergética Aroeira, diz que o volume deve aumentar conforme a empresa for ganhando expertise com a tecnologia.

“Esperamos atingir, em breve, uma média diária de 1.800 t/máquina/dia”, disse durante evento Rally da Cana, realizado pela John Deere em fazenda da Bioenergética Aroeira.

A Bioenergética Aroeira diz que a média diária de colheita das máquinas de duas linhas é de 1500 toneladas/máquina/dia, alta de aproximadamente 74% em comparação às colhedoras de uma linha.

BioAroeira reduziu custos de CT e registrou economia de 20% em diesel

Com canaviais que vão chegar à média de 97,5 t/ha na safra 2023/24 e com expectativa de moer 3.306 milhões de toneladas de cana, a Bioenergética Aroeira, localizada em Tupaciguara (MG), segue pela terceira safra na curva de aprendizado da máquina de duas linhas.

Francisco Feres Junqueira, diretor Agrícola da Bioenergética Aroeira, disse à RPAnews que a companhia começou a avaliar a tecnologia há três anos. A concessionária que atende a usina ofereceu a colhedora para demonstração em formato de aluguel, que seria revertido em investimento e desconto para a compra posterior, caso a colhedora atendesse a todos os KPIs esperados pela companhia.

“Queríamos entender melhor a tecnologia e ver resultados da máquina. No final da safra 2021/22, efetuamos a compra de uma máquina e tivemos outros desafios no dia a dia, como a questão de consumo. Mas, mesmo assim, inserimos mais uma máquina. Outra questão que queríamos observar era o impacto de uma máquina mais pesada, de 35 toneladas, em nossos canaviais em termos de pisoteio. E temos visto que todos os resultados que estão acontecendo são positivos”, disse Junqueira.

Operando há duas safras com duas colhedoras CH950 em sua frota de 16 máquinas, a Bioenergética Aroeira traçou algumas estratégias para atingir o rendimento máximo da máquina. Segundo o gerente de Operações Agrícolas da Bioenergética Aroeira, algumas das estratégias foram: utilizar a máquina em blocos de colheita maiores e próximos uns dos outros para facilitar a mudança da máquina, evitando também o transporte da colhedora por rodovias; respeitar o paralelismo e fazer o uso de piloto automático; escolha por canaviais mais eretos e limpos; pontos de carregamento com no mínimo vagas para três rodotrens, devido ao alto rendimento da frente; definição de cotas/necessidade de transbordo de acordo com o cenário de colheitabilidade; e acompanhamento dedicado de um especialista da concessionária.

A especialista da John Deere explica que para obter melhor performance, é preciso se atentar a dois pontos principais: sistematização e colheitabilidade.  “É importante evitar ‘matações’ nas linhas de sulcação do canavial e tiros longos com carregadores de acesso que facilitem a logística. A máquina deve colher posicionada nas linhas gêmeas, ou seja, onde foi o rastro do trator de plantio, para evitar que haja variação de distância entre as linhas que estão sendo colhidas”, destaca Maria Renata.

Outro fator muito importante, segundo ela, é que o dimensionamento de logística seja ideal, com malhadores bem posicionados e números de tratores transbordos suficientes para que a operação não pare por falta deles. “Esses fatores, se não observados, geram uma redução muito grande de performance da máquina”, adiciona.

Uma análise comparativa feita pela Bioenergética Aroeira nos primeiros três meses da safra 2022/23 mostrou que as colhedoras de duas linhas colheram no período cerca de 1.493 t/máquina/dia, enquanto as de uma linha colheram 856 t/máquina/dia. Em gasto de combustível, a CH950 fez 0,60 litros de diesel por tonelada, enquanto as de uma linha gastaram em média 0,74 litros por tonelada, o que aponta uma redução de consumo de 18,92%. Com relação ao CRM (Custo de Reparo de Manutenção sem considerar óleo), o da máquina de duas linhas ficou em R$ 3,81/t versus R$4,36/t dos modelos de uma linha utilizados pela usina.

Um indicador que merece atenção, de acordo com Naufel, é a disponibilidade da máquina de duas linhas, que apresentou 78% versus 80% das de uma linha. “Nossa disponibilidade engloba tudo, todas as paradas da máquina que interferem em sua produção, como abastecimento, lavagem, troca de facas e faquinhas, inclusive a manutenção na base, quando ela fica uma semana parada. Consideramos tudo que deixa a máquina indisponível para a colheita”, explicou.

Durante o período de análise, as máquinas de duas linhas trabalharam em um ambiente de colheita de cana de 132 t/ha, a uma velocidade de 3,70 km/hora. “Nossa política é fazer a colheita em até 6 km/h, mas com as máquinas de duas linhas não achamos necessário colher com mais velocidade, porque aumentamos muito as horas de trabalho”, explicou.

Na realidade da Bioenergética Aroeira, a capacidade operacional da máquina de duas linhas é de 147 toneladas/hora, enquanto a de uma linha faz 84,37 t/h, em um canavial de 127 t/ha.

Na safra 2022/23, as colhedoras de duas linhas foram responsáveis por colher 660 mil toneladas de cana-de-açúcar na companhia, uma média de 330 mil toneladas/máquina. Além de ganhos em produção, a Bioenergética Aroeira também tem registrado benefícios no quesito custos operacionais.

“Conseguimos uma boa diminuição nos custos de CT (Colheita e Transbordamento) e no consumo de óleo diesel, que chega a uma redução de 20%”, afirmou Naufel.

Quando questionada sobre o nicho que a máquina conquistará no mercado, a especialista da John Deere, disse à RPANews que o equipamento concebido pela John Deere era uma demanda antiga do mercado brasileiro, que trouxe a possibilidade de trazer mais rentabilidade para a colheita de cana.

“A CH950 foi pensada para o modelo atual de produção de cana-de-açúcar do Brasil, onde predomina o espaçamento simples de 1,50 m. Nosso objetivo não era somente aumentar a rentabilidade da colheita, mas também entregar ganhos agronômicos através da implantação de um controle de tráfego mais adequado”, conclui.

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