Controle de Tráfego: prática que trará o setor sucroalcooleiro para novos patamares de produtividade

O autor traz uma reflexão sobre os aspectos da tecnologia de direcionamento das máquinas para o controle de tráfego utilizando o auxílio de um Sistema de Navegação Global por Satélite ou GNSS.

*Fernando Benvenuti

Dentre as novas tecnologias digitais, o controle de tráfego efetivo das operações mecanizadas é a prática mais importante quando se trata da produtividade da cana-de-açúcar. De nada adianta ter as melhores práticas agronômicas de conservação e correção do solo, plantio e tratos culturais se o tráfego de tratores, colhedoras e equipamentos dentro da lavoura não for controlado.

As consequências da compactação sem controle e a injúria das plantas provocadas pelas máquinas e equipamentos é fator decisivo para o não atingimento do potencial produtivo da cana. Em um estudo realizado por SOUZA,G.S.(UNICAMP/2012) ficou demonstrado que a área com controle de tráfego na colheita aumentou em 18% a produtividade da cana e 20% o rendimento de açúcar em comparação a área sem o controle. Esse efeito é percebido in loco e com muita facilidade ao constatarmos plantas com menor vigor e desenvolvimento nas bordaduras dos talhões onde o controle de tráfego costuma ser mais difícil.

Mas, a gestão para um controle de tráfego efetivo não é tarefa trivial, pois estamos falando de obtenção de precisão nominal abaixo de 5 centímetros no campo. O desafio é conciliar a formação e treinamento dos times de suporte, manutenção e de operação, com as metodologias e tecnologias disponíveis que vão desde a escolha da correção do sinal GNSS, até os dispositivos eletrônicos e mecânicos que atuam no direcionamento das máquinas agrícolas e seus implementos durante as operações mecanizadas.

Desde a popularização dessa tecnologia no Brasil, que dista cerca de 10 a 12 anos atrás – relativamente recente, o conjunto de tecnologias que possibilitam o controle de tráfego com auxílio de um GNSS vem se desenvolvendo com hardwares e softwares cada vez mais avançados e eficientes, entretanto, é preciso diminuir a complexidade de sua operação. Iniciativas nesse sentido já vem ocorrendo, mas tratarei disso mais adiante.

Dentre as operações mais importantes para o sucesso do controle de tráfego pode-se destacar três:

1) No plantio, onde tudo começa e merece atenção especial no que se refere ao paralelismo das linhas da cultura;

2) No corte, para evitar perdas excessivas e, principalmente, arranquios de soqueira;

3) No carregamento, para evitar o pisoteio da soqueira. Nessa operação, atualmente, opções de equipamentos de transbordo com eixos direcionais que copiam os traçados com maior precisão e, o desenvolvimento de caminhões projetados para operar em condições de campo, são evoluções que favorecem um melhor controle de tráfego.

Correção do sinal de GNSS

No início da tecnologia, a única alternativa recaía sobre a correção RTK – Real Time Kinematic, cujo sinal é disponibilizado por meio de bases fixas distribuídas pelas áreas de interesse das unidades produtoras. O sinal corrigido em tempo real tem precisão nominal de 2,5 centímetros até o raio de 15 km de distância da base. A partir daí, ao nos afastarmos, temos a diminuição progressiva da precisão do sinal.

As bases são equipadas com vários dispositivos – torres, abrigos, receptores GNSS, rádios, armazenamento de energia, entre outros, sendo operadas e mantidas pelas unidades produtoras. Além disso, é muito importante que sua posição esteja integrada à rede de referência geográfica do IBGE. Normalmente, para esse tipo de correção é necessário o uso de repetidoras móveis junto às frentes mecanizadas para a cobertura de áreas sem sinal ou áreas de sombra, o que acrescenta certa dificuldade ao funcionamento adequado do sistema. A quantidade e frequência do uso de repetidoras é função das características específicas de relevo de cada fazenda.

Uma alternativa ao RTK, refere-se à correção realizada por meio de satélites geoestacionários e uma rede de estações de referências mundiais, nesse caso, fornecida e administrada pelas empresas que comercializam o equipamento, tal como o Center Point RTX (Trimble), Starpoint Pró PPP (Topcon) e StarFire SF-RTK (John Deere). Essa tecnologia vem trazendo mais praticidade ao uso da ferramenta que, além de mesma precisão, dispensa o uso de repetidoras, são menos sensíveis a cintilação ionosférica – fenômeno natural que provoca paradas nas operações pois degradam a qualidade do sinal, além de dispensar a necessidade de se gerir e manter um conjunto de bases fixas.

Como uma das desvantagens em relação à correção RTK, podemos citar a necessidade de uma espera maior para convergência do sinal. Contudo, tal ociosidade vem ficando menor à medida que se incorporam as novas constelações de satélites aos novos receptores.

Sistematização do canavial e controle de tráfego

Um projeto de sistematização que conserve o solo e preserve os corpos d’água da bacia hidrográfica em que estamos inseridos é indispensável. Contudo, é preciso adotar tecnologias que conciliem a conservação e o formato das linhas da cultura para que estejam adaptadas às operações mecanizadas.

Uma área submetida ao pisoteio provocada por excesso de ruas mortas, por exemplo, gera menor infiltração de água no solo, ocasionando a necessidade de mais dispositivos de controle da enxurrada. É muito importante ter em mente realizar práticas que proporcionem a maior taxa de infiltração possível de água no solo.

Uma das alternativas para se alcançar esse objetivo é realizar o plantio da cana seguindo traçados planejados usando técnicas avançadas de geotecnologias e geoprocessamento, como o levantamento altimétrico detalhado do terreno obtido por meio de drones. Com essa informação inserida e trabalhada dentro de um Sistema de Informação Geográfica (SIG), é possível simular vários cenários entendendo o caminhamento da água e sua interação com o traçado da sulcação.

Um exemplo de boa técnica, nesse caso, seria a adoção da sulcação em arco que, além de garantir a conservação da água e do solo, irá  facilitar a obtenção de linhas de plantio paralelas. A adoção dessas práticas e sua qualidade de execução é muito importante para que as operações subsequentes ao plantio, como tratos culturais e a colheita possam operar com tráfego controlado ao longo dos cortes da cultura.

Portanto, evitar o pisoteio na lavoura exige a escolha correta da tecnologia, muita disciplina operacional com a capacitação, treinamentos e reciclagens constantes dos profissionais envolvidos no processo. Soma-se a isso, é claro, a busca e adoção de boas práticas agronômicas e o uso de tecnologias digitais, ambas, cada vez mais modernas e eficazes o que irá levar o setor para o caminho da retomada sustentável da produtividade perdida nos últimos anos.

*Fernando Aparecido Benvenuti é Mestre em Engenharia Agrícola e Consultor de Geotecnologias na AltaVista Geotecnologias (fernando.benvenuti@gmail.com)