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El Niño é um risco de alta para o mercado de açúcar e etanol, por quê?

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O clima desempenha um papel significativo sobre o lado da oferta das commodities agrícolas. Para um bom desenvolvimento vegetativo, cada cultura depende de um determinado tipo de solo, temperatura e regime de precipitação. Esse é um, e possivelmente o principal motivo, que induz certa vantagem competitiva na produção de certas commodities por diferentes países e não é diferente para a cana-de-açúcar.

Padrões climáticos, como La Niña e El Niño, são responsáveis por mudanças nas condições climáticas normais e, portanto, podem afetar a oferta de commodities agrícolas. Cada cultura tem suas particularidades e são afetadas de formas diferentes. Não só isso, mas, dependendo do estágio de desenvolvimento vegetativo da planta, mudanças nos padrões normais podem ser tanto positivas, quanto negativas para seus rendimentos e produção final.

Em seu último relatório, a hEDGEPoint traz fundamentos atuais e os principais riscos relacionados ao El Niño para o mercado de açúcar e etanol. De acordo com análise da companhia especializada em commodities, o possível estresse logístico de exportação do Brasil com a probabilidade crescente de um evento El Niño adiciona tempero ao mercado  que já está em alta.

Cada país e região tem seu calendário de safra, mas tanto a cana-de-açúcar quanto a beterraba precisam de chuva, umidade do solo e sol para um bom desenvolvimento durante a fase de crescimento. Assim, mudanças nas condições climáticas regulares podem afetá-las diretamente e, portanto, a produção total do adoçante.

“Por exemplo, um verão mais quente e seco do que o normal e um inverno mais frio foram extremamente prejudiciais para a produção de beterraba na UE nesta temporada (22/23), induzindo uma expectativa de quebra de safra de quase 2 milhões de toneladas”, afirmou a hEDGEPoint em relatório.

Para entender as mudanças nos padrões climáticos, torna-se essencial mergulhar no que é considerado normal. Em condições regulares (neutras) no Oceano Pacífico, os ventos alísios sopram para o oeste, criando uma corrente de água quente da América do Sul em direção à Ásia. Este fluxo permite que a águas frias emerjam das profundezas. O El Niño e o La Niña, também chamados de ciclo El Niño/Oscilação Sul (ENSO), são padrões climáticos opostos que quebram a formação desse ciclo, afetando o clima global e a produção de commodities.

Durante um evento La Niña, os ventos alísios se intensificam, empurrando ainda mais água quente para a Ásia, reduzindo significativamente a temperatura da costa oeste das Américas. Ao contrário disso, durante um evento El Niño, os ventos alísios ficam mais fracos e a água quente é empurrada para o leste, tornando a costa oeste dos Estados Unidos mais quente. Mas como isso afeta o açúcar?

No Brasil, de acordo com relatório, a fase de crescimento da cana começa em meados de setembro e vai até março. Durante esta fase, o ideal é ter precipitação abundante, luz solar adequada e umidade do solo. Na época da moagem, pouca precipitação induz maior teor de sacarose, o que costuma acontecer no inverno brasileiro.

No geral, um evento La Niña tende a ser positivo para o Centro-Sul brasileiro. A janela junho e agosto torna-se ainda mais seca, enquanto entre dezembro e fevereiro a precipitação se intensifica, induzindo um maior teor de açúcar da safra atual e impulsionando o desenvolvimento da próxima, respectivamente. No entanto, também pode tornar o inverno mais rigoroso e aumentar a probabilidade de geadas, resultando em rendimentos mais baixos e aceleração do ritmo de moagem.

“Se o período seco se estende para além agosto, podem ocorrer incêndios, afetando também negativamente a produtividade e o ritmo da lavoura. Não só isso, mas se o evento climático for muito intenso, a seca pode comprometer safras futuras. A combinação de tudo isso aconteceu entre 20/21 — quando o Brasil colheu os benefícios do primeiro ano do La Niña e produziu 605Mt de cana — e 21/22, quando geadas, incêndios e estiagem levaram à moagem de apenas 523 milhões de toneladas”, afirmou a hEDGEPoint.

O El Niño pode levar a um inverno mais úmido — ruim para o ritmo da safra e concentração de sacarose — sua ocorrência costuma impactar negativamente a produção total do adoçante na região. Além disso, durante a janela mais importante de desenvolvimento da cana (dezembro a fevereiro), a precipitação no Centro-Sul diminui, principalmente no Norte de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, comprometendo a próxima safra. No entanto, as correlações ENSO são menores para a precipitação durante o El Niño, reduzindo seus efeitos esperados.

Na América Central, o La Niña é responsável por intensificar as chuvas durante a fase de desenvolvimento da cana (junho a setembro) — que, se não forem excessivas, tendem a ser benéficas para a produtividade. No entanto, caso prolongadas, podendo atrasar o início da safra ou até atrapalhar seu ritmo. Além disso, se forem muito intensas, as chuvas podem reduzir a concentração de sacarose, diminuindo a produção final de açúcar.

O El Niño faz o contrário e leva a região a um clima mais quente e seco do que o normal. Entre junho e agosto, se os países não contarem com métodos de irrigação, a cana pode sofrer e não se desenvolver adequadamente.

Na Índia, ambos os padrões climáticos afetam as regiões da Índia de forma diferente. Como os principais estados produtores de açúcar estão localizados ao norte, a análise é focada nessa região.

“Durante junho e agosto, o La Niña tende a levar a precipitação a níveis ligeiramente mais baixos, no entanto, o padrão tem pouco efeito na região durante setembro e novembro e março e maio. Nesse sentido, muito do seu impacto depende da sua intensidade, podendo trazer benefícios ao tornar o período da moagem (dezembro e fevereiro) mais seco. O El Niño tende a ir na mesma direção, só que mais forte. Durante a janela de junho a novembro, basicamente toda a janela de desenvolvimento da cana, o padrão torna o clima mais seco — levando a monções abaixo da média e possivelmente comprometendo a produção de açúcar”, afirmou o relatório.

Na Tailândia, durante junho e agosto –  principal janela de desenvolvimento da cana – um evento La Niña tende a reduzir a precipitação. No entanto, seu efeito pode ser limitado, pois de setembro a maio pode levar a chuvas acima do normal. Assim, dependendo da intensidade, o La Niña pode reduzir o teor de açúcar e atrapalhar a moagem.

Em oposição a isso, o El Niño traz um clima mais seco que a média na maior parte do ano, exceto no período de dezembro a fevereiro, sendo extremamente preocupante, pois afeta negativamente o desenvolvimento da cana e o ritmo de moagem.

Já na Europa, de acordo com o relatório, embora ambos os padrões climáticos tenham pouco efeito e correlação, para ambas temperatura e precipitação na região, eles são bastante semelhantes.

“De março a agosto, um La Niña ou um El Niño podem ser responsáveis por um leve aumento na precipitação — principalmente na França e na Alemanha. Portanto, pode ser benéfico, pois é exatamente durante o estágio de desenvolvimento da beterraba. A diferença é que quando a Europa atinge o pico da colheita, de setembro a novembro, enquanto o La Niña pode garantir um clima mais seco do que a média, um El Niño pode levar ao prolongamento das chuvas , dificultando a atividade do agricultor.

Confira aqui o relatório completo

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