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Em crise financeira, Raízen bate 30 pregões a centavos e entra na mira de sanções da B3

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A Raízen encerrou na última sexta-feira, 14, 30 pregões negociada abaixo de R$ 1. Esse nível coloca a empresa na mira de sanções da B3, como ser classificada como penny stock e até ser excluída dos principais índices da bolsa brasileira.

Pelas normas da B3, em vigor desde 2015, empresas que mantêm o papel abaixo de R$ 1 por 30 sessões consecutivas são notificadas e obrigadas a apresentar um plano para recompor a cotação. Caso não o façam, podem sofrer sanções, como determinação de grupamento de ações (inplit) ou outras medidas para reenquadramento.

Segundo o sócio da Brazil Wealth, Felipe von Eye Corleta, não existe uma regra que determine automaticamente a saída de um papel de índices como o Ibovespa, caso se torne penny stock. “A exclusão só ocorre se a companhia não conseguir se reenquadrar”, explica.

As exclusões recentes do Ibovespa e dos demais índices da B3 – casos de Ambipar, Azul e Gol – decorreram de processos de recuperação judicial, o que não parece estar no radar da Raízen.

Mas o alto endividamento preocupa o investidor e abre um forte sinal de venda sobre a ação, que hoje é negociada a R$ 0,88, segundo cotação das 13h30. No ano, a queda é de 59,26%. Para quem se posicionou na abertura de capital em agosto de 2021, a R$ 7,40, e ainda detém o papel, o prejuízo chega a quase 90%.

A derrocada recente da Raízen na bolsa reflete uma combinação de dívida elevada, incerteza sobre capitalização e projetos que não entregaram o retorno esperado. “Mesmo assim, desembarcar agora da ação seria realizar prejuízo no pior momento, enquanto gatilhos financeiros podem reprecificar o papel”, pondera o analista Rafael Passos, sócio da Ajax Asset.

Para o analista Fábio Lemos, da Fatorial Investimentos, a Raízen vive “um momento de transição delicado”. Segundo ele, o risco para quem segue posicionado no papel “é alto”, especialmente diante da possibilidade de diluição em caso de aumento de capital.

No entanto, em uma visão um pouco mais otimista, ele cita que ainda há oportunidades, especialmente se o plano de capital vier e aliviar a dívida, destravando valor no médio prazo. As opções postas à mesa para injetar capital na Raízen vão desde a entrada de um novo sócio até a venda de usinas e de suas operações na Argentina, conforme mostrou a Coluna do Broadcast.

Caso a ação se mantenha na casa dos centavos, um inplit é provável, podendo aumentar inclusive a volatilidade, diz Lemos. “A própria B3 tem histórico de estender prazos, como ocorreu com Oi e Americanas”, lembra.

No caso da Raízen, porém, Lemos considera improvável deixar a situação deteriorar até esse ponto, especialmente pelo risco de imagem para a Shell, sua principal controladora.

Frustração

O sócio da L4 Capital, Hugo Queiroz, aponta que a queda de quase 90% desde a Oferta Pública Inicial (IPO) decorre de escolhas estratégicas que não se concretizaram – em especial o investimento bilionário no etanol de segunda geração (E2G). “A tecnologia foi vendida como uma revolução de produtividade, mas não entregou retorno nem na escala nem na velocidade esperadas”, avalia.

Além disso, a Raízen se diversificou em novas geografias e projetos de energia renovável, ampliando a necessidade de capital. No ambiente de juros altos, a falta de geração de caixa suficiente fez a dívida pesar mais. Esse cenário, segundo Queiroz, alimentou rumores de aumento de capital e até de recuperação judicial – o que acelerou a queda do papel.

Cosan e Shell têm sinalizado que não pretendem aportar recursos no curto prazo, o que manteve a incerteza. Ainda assim, Queiroz acredita que vender o papel agora “não faz sentido”.

“É um negócio resiliente, com potencial de recuperação via reorganização de portfólio, reciclagem de ativos e melhora na governança”, pondera.

O sócio da L4 ainda vê potencial de reprecificação se a reestruturação avançar – especialmente com a queda dos juros e com o movimento de formalização no setor de combustíveis após a operação Carbono Oculto, que tende a beneficiar grandes distribuidoras como a Raízen.

Alívio

Analistas destacam que o principal problema hoje da Raízen não é operacional, mas financeiro. A empresa carrega cerca de R$ 50 bilhões em dívida líquida, consumindo grande parte do caixa com despesas financeiras.

Mas a companhia pode reverter esse quadro se conseguir levar adiante a venda dos ativos da Argentina, operação que pode levantar cerca de R$ 10 bilhões e reduzir a alavancagem de mais de quatro vezes para algo próximo de três vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). “Seria um alívio relevante”, afirma Rafael Passos, da Ajax Asset.

A entrada de BTG e Perfin na Cosan reforça, segundo o sócio da Ajax, a tese de aceleração de desinvestimentos – ainda que não represente aporte direto na Raízen.

No operacional, o cenário permanece desafiador, com margens comprimidas no segmento de distribuição, em linha com a dinâmica de concorrentes como Ultrapar e Vibra.

Pessimismo

Uma evidência para parte desse pessimismo com o papel está na taxa de aluguel em Raízen PN, que está em 28%, atrás apenas de Auren (30,5%), Simpar (29,4%) e Taesa (28,7%), segundo dados de ontem, 13, da B3.

Corleta, da Brazil Wealth, explica que o nível da taxa de aluguel da Raízen é “altíssimo”, porque significa que há pouca disponibilidade de ações para emprestar e muita demanda para ficar vendido. “Quase 30% do free float alugado, e uma das maiores taxas da B3, indicam forte pressão vendedora e um mercado pessimista em relação ao valor do equity da Raízen”, afirma.

Agência Estado/ Amélia Alves
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