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Etanol: qual a situação e capacidade de estocagem para essa safra?

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Por Natália Cherubin

Diante das mudanças sofridas pelo mercado de etanol brasileiro no último mês devido não só a pandemia do Coronavírus, como também pela guerra de preços do petróleo travada entre Rússia e Arábia Saudita (que já mostra sinais de arrefecimento), as usinas sucroenergéticas estão se vendo obrigadas a adotar a estratégia de carregar o máximo possível do estoque desta safra. Mas será que tem capacidade suficiente para isso?

De acordo com o diretor-técnico da Unica (União da Indústria da Cana-de-açúcar), dentre todas as atividades do agronegócio, a que tem a maior capacidade de estocagem é o setor sucroalcooleiro.

Dada a característica de uma produção sazonal – entre março e novembro – com responsabilidade de atender toda a demanda do ano safra, a capacidade de estocagem de etanol hidratado do setor sucroenergético supera 12 bilhões de litros.

“Essa capacidade foi aumentada nos últimos dois anos porque muitas empresas fizeram investimentos em capacidade de destilação e de tancagem, já se preparando para cumprir as metas do RenovaBio”, disse em entrevista à RPAnews.

Desde o início da safra 2020/21, o mercado de etanol vem sendo atingido duplamente com a redução na demanda por combustíveis do ciclo Otto, em função do menor crescimento da economia brasileira e do efeito do isolamento social. Além disso, a perda de competitividade do etanol hidratado em relação à gasolina implicou na destruição de margens com a produção e comercialização do etanol por algumas usinas.

Só para se ter uma ideia, em março, as vendas totais de etanol, incluindo ao exterior, recuaram 12,94% ante o mesmo mês de 2019. Segundo dados do Pecege Projetos, a estocagem de etanol, neste contexto, mostra-se crítica num cenário de queda nas vendas de combustíveis e da baixa remuneração do biocombustível.

Capacidade de estocagem

Dados mais recentes sobre a estocagem de etanol de 2019, reunidos pelo Pecege, mostram que em relação à capacidade estática de armazenamento no Brasil, as unidades produtoras são capazes de armazenar, na verdade, cerca de 17,2 bilhões de litros.

Desse total, a capacidade de tancagem para o etanol anidro é de 5,3 bilhões de litros, representando 31% do total – e para o etanol hidratado é de 11,9 bilhões, ou seja, 69% da capacidade nacional.

“Proporcionalmente, porém, a capacidade de estocagem do etanol anidro é maior, cerca de 50,7% do total da produção da safra 2019/20, contra 48%, no caso do etanol hidratado. Tal situação se dá, principalmente, devido ao espaçamento temporal dos contratos com as distribuidoras”, afirmam os pesquisadores do Pecege.

Há dois grandes grupos em relação à rede de armazenamento de etanol do Brasil:

  1. Tanques de combustíveis pertencentes às usinas;
  2. Tanques das distribuidoras, dos terminais da Transpetro, dos centros coletores de etanol e, em menor escala, pelos terminais portuários.

As usinas brasileiras possuíam tanques suficientes para armazenar 48,8% de sua produção total de uma safra, tal como observado em 2019, entre etanol anidro e hidratado.  Por essa métrica, explicam os pesquisadores do Pecege, a maior capacidade de armazenamento (em termos relativos) estaria na região nordeste e a menor, no Centro-Oeste, ambos no caso do etanol hidratado.

“As usinas estão bem capacitadas, principalmente como herança da necessidade de estocagem decorrente do ProÁlcool e de safras mais curtas no passado”, afirmam.

A relação entre o maior estoque identificado no ano de 2019 e a capacidade total de armazenamento dos produtos, ilustrado na tabela 2, mostra que nas regiões Sul e Sudeste, no caso do anidro, as taxas já se aproximavam de 80% e 90%, respectivamente.

Segundo o Pecege, desde a safra 2014/15, a capacidade estática de armazenamento de etanol tem se mantido constante, ao redor dos 17 bilhões de litros. Dada uma capacidade de armazenamento praticamente estagnada, o crescimento da produção de etanol nas duas últimas safras (2018/19 e 2019/20) levou ao aumento da utilização dos tanques existentes, alcançando, na safra 2019/20, cerca de 66,7%.

Na safra 2014/15 ocorreu um armazenamento mais elevado por conta do aumento da mistura de anidro à gasolina. É possível, de acordo com os pesquisadores, observar um grau crescente de utilização das instalações de tancagem, o que, embora reduza o capital ocioso, pode colocar a produção em risco em situações atípicas, especialmente quanto ao anidro.

Mix açucareiro pode reduzir pressão dos estoques

A alteração do mix de produção esperado para a safra 2020/21 para mais açúcar, cerca de 44% do mix, é um fator que pode contribuir para redução da pressão sobre o armazenamento de etanol.

“No caso do cenário de redução do mix em 15%, a capacidade de armazenamento seria de 63,27% da produção. De forma geral, a pressão sobre a tancagem seria reduzida, porém, a simulação não considera estoques carregados da safra anterior, o que pode agravar a conjuntura. Em contrapartida, a retomada da demanda no segundo semestre pode reduzir a necessidade de armazenamento retratada”, afirmam.

Setor opera com folga

Apesar do aumento da produção de etanol e dos baixíssimos níveis de investimento em expansão da tancagem nos últimos anos – que se mantem nos 17 bilhões de l – o setor ainda opera com uma folga de quase 30% em termos de nível de armazenamento.

O Pecege estima que, em média, uma usina possua capacidade de armazenagem de até 48,8% da sua produção anual de etanol, tal como observado em 2019.

“Na safra 2020/21, as receitas obtidas na comercialização do açúcar serão utilizadas para compensar as perdas decorrentes da manutenção dos estoques. As usinas adotarão a estratégia de carregar o máximo possível o estoque de etanol. As estratégias de carregamento da produção do biocombustível ao longo dos meses para evitar preços baixos serão limitadas pela estagnação da tancagem. Sendo assim, faz-se necessário a criação de mecanismos para favorecer o estoque privado”, afirmam em documento os pesquisadores.

O trabalho completo do Pecege você confere AQUI

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