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Incêndios podem causar prejuízos expressivos a usinas e produtores de grãos em SP e PR

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Situação é agravada por chuvas abaixo da média no trimestre entre maio e julho

Um grave incêndio na quinta-feira, 22, na região de Sertãozinho (SP) exigiu ação rápida de produtores de cana-de-açúcar para conter o fogo. Apesar de terem achado que resolveram o problema, ao amanhecer da sexta-feira, 23, novos focos de incêndio surgiram e rapidamente se espalharam com a alta temperatura e a velocidade do vento, de cerca de 70 km/h.

Na área da usina Santo Antônio, que fica no distrito de Cruz das Posses, em Sertãozinho, e na usina de São Francisco, localizada em Barrinha, próxima da região, o prejuízo “deve ser gigantesco”, mas ainda não há condições de contabilizá-lo. É o que afirma Edmo Bernardes, assessor de comunicação das duas unidades que pertencem ao grupo Balbo.

Ele é quem está respondendo sobre os detalhes do incêndio, enquanto dirigentes, brigada e produtores tentam resolver a situação. A empresa ainda não consegue quantificar quanto de área foi queimada e ficará improdutiva. Estas usinas, juntamente com a usina Uberaba, produzem aproximadamente 3,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra.

“Hoje, há fogo nas áreas de beira de estrada dos canaviais, mas nas usinas não houve nenhum estrago. As áreas produtivas, sim, terão um prejuízo gigantesco ainda não estimado, pois há muita coisa simultânea acontecendo”, destaca Bernardes à reportagem, lembrando que há cerca de 100 dias não chove na região.

Segundo ele, incêndios desse porte em canaviais “ultrapassam o asfalto” e requerem ações muito rápidas, pois a cana que é queimada precisa ser imediatamente colhida a fim de tentar salvar algo da matéria-prima, que, com o fogo, perde o grau de açúcar necessário para moagem.

“Quanto mais tempo deixá-la secando, pior será a produtividade. Por isso, não esperamos ação de nenhum órgão e temos um combinado entre usinas e produtores de agir imediatamente. Ontem, aparentemente, tínhamos conseguido”, relata.

Ao mesmo tempo, Bernardes menciona que não é possível arriscar a mão de obra no campo para tentar colher o que sobrou, pois é preciso proteger a equipe. Para estimar o prejuízo financeiro e em volume perdido será necessário esperar os próximos dias, “torcendo para a frente fria com chuva”, acrescenta o profissional.

Bernardes conta que o céu de toda a região metropolitana de Ribeirão Preto está preto e que todas as usinas que dispõem de drones têm monitorado as imagens para acompanhar o fogo e a velocidade em que se alastra.

“A cortina de fogo que se formou é uma barreira que vai se alinhando e comendo [o canavial] como um enxame de gafanhoto. Com isso, vai entrando como uma linha gigante de quilômetros na produção”, lamenta.

Responsável pelo bioparque Santa Elisa, a Raízen informou que o incêndio, de origem ainda desconhecida, já foi contido. Mas, como nas usinas do grupo Balbo, a Raízen identificou novos focos na mesma área.

“A equipe de combate a incêndios segue atuando com todos os recursos para a extinção e não propagação do fogo. A região registra baixa umidade e fortes rajadas de vento. Não há vítimas”, afirma a companhia, em nota.

Segundo a empresa, as áreas administrativas do bioparque Santa Elisa funcionam normalmente, e a atividade industrial será retomada em breve.

Em nota, a Raízen faz um alerta à população para que não jogue bitucas de cigarro, evite fogueiras e limpeza de terrenos em áreas de grande circulação, principalmente próximas a cidades e rodovias, que têm sido os principais causadores de incêndios de grandes proporções.

Fogo se alastra no Paraná

Nesta sexta-feira, 23, o Paraná também sofre com incêndios em várias cidades do estado. O produtor Paulo Deoclécio, que cultiva soja, milho e trigo em Campo Mourão, conta à reportagem que sua área produtiva foi uma das vítimas. Segundo ele, a estiagem castigou e não houve jeito de escapar de queimadas.

“Desde o ano passado, estamos com um déficit hídrico no solo, que se juntou com a baixa umidade do ar e os ventos fortes das últimas semanas que ocasionou o começo de um incêndio próximo ao rio da cidade. O vento foi empurrando e queimou praticamente 80% de nossa área e de outros vizinhos também”, descreve.

Por sorte, destaca ele, a colheita na área queimada já havia sido concluída, porém “se perdeu anos de geração de fertilidade do solo, que era cuidado com biológicos e palhada de cobertura”. Como engenheiro agrônomo que presta consultoria na região, ele estima que cerca de 100 alqueires (242 hectares) de palhada tenham pegado fogo nos últimos três a quatro dias na região de Campo Mourão.

“Incêndios que são provocados na cidade acabam se espalhando com os fortes ventos, ficando incontroláveis”, agrega. Segundo ele, mesmo com um grupo eficiente de bombeiros locais, os profissionais não estão dando conta de conter o alastre do fogo.

Maringá e Cascavel também são outros municípios próximos que têm incêndio, de acordo com Deoclécio. A maioria dos focos da região, enfatiza o produtor, começa em lugares abandonados, por exemplo, com a queima de lixo.

Ausência de chuvas

De acordo com o modelo do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), os estados do Paraná e de São Paulo apresentaram chuva abaixo da média no trimestre entre maio e julho. Algumas áreas apresentam déficit de até 300 milímetros na comparação com a média climática.

Essa tendência de chuva abaixo da média se arrasta há um ano. Na primavera de 2023, o El Niño causou muita chuva no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, mas pouca chuva na porção central, incluindo o Paraná, o Sudeste e o Centro-Oeste.

Durante o verão 2023/24, passou a chover mais no Matopiba, enquanto, mais uma vez, a porção central ficou com chuva abaixo da média, explica Desirée Brandt, meteorologista da Nottus.

No outono 2024, voltou a chover forte no extremo sul, e a falta de chuva seguiu no Brasil central. Foram nove meses de secura que antecederam justamente a estação mais seca do ano: o inverno. “Agora, é normal estar seco. O que não foi normal foram os nove meses de chuva abaixo da média no interior do Brasil”, afirma Brandt.

Além disso, a especialista explica que os incêndios estão acontecendo porque “tem muito material a ser queimado”. Antes da falta de chuva no Sudeste e Centro-Oeste no ano passado, houve bastante chuva no começo de 2023 causada pelo La Niña.

Toda essa biomassa produzida com a chuva do início de 2023 acabou secando e está sendo queimada agora. “Além do período prolongado de seca, a presença desse material de massa a ser queimada intensifica os números altos de focos de incêndio”, afirma.

Com informações do Globo Rural/Isadora Camargo e Marcos Fantin
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