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Maior cultivo de mandioca na Tailândia pode impactar mercado global de açúcar

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Segundo a StoneX, com os preços do açúcar em queda e a expectativa de valorização da mandioca, muitos produtores tailandeses podem migrar da cana para a raiz no ano que vem

As mudanças no campo tailandês podem ter reflexos diretos no mercado global de açúcar na safra 2026/27 (outubro a setembro), segundo a StoneX. A consultoria relata que o país, maior exportador da mandioca, vive um momento de reavaliação em sua estratégia agrícola, à medida que a mandioca volta a ganhar espaço e ameaça a hegemonia da cana-de-açúcar nas principais regiões produtoras.

Com PIB estimado em US$ 1,9 trilhão em 2025, a Tailândia é uma das economias mais dinâmicas da Ásia e uma das principais exportadoras de arroz, borracha natural, açúcar e mandioca. Nos últimos anos, entretanto, a queda nos preços da raiz e a alta rentabilidade da cana levaram os produtores a substituírem parte das lavouras, reduzindo em 10% a área plantada com mandioca na safra 2022/23.

Essa tendência, porém, começa a se inverter. Após um período de retração, a demanda chinesa pela mandioca tailandesa voltou a crescer em 2025. A China, que havia importado 7,1 milhões de toneladas em 2022 e apenas 2,5 milhões em 2024, retomou às compras de forma expressiva. No intervalo de março e julho deste ano, o país adquiriu 4 milhões de toneladas, 80% vindas da Tailândia, segundo dados da StoneX.

O movimento foi impulsionado pela alta nos preços domésticos do milho, que fez a indústria chinesa de ração e etanol buscar alternativas mais competitivas. A valorização dos derivados da mandioca, como a tapioca chips, já começa a refletir nos preços domésticos da mandioca bruta, que subiram para 1.700 baht por tonelada – o que representa US$ 51,85 por tonelada – em julho e agosto, após atingirem 1.400 baht/t em junho (US$ 42,70), o menor nível desde 2017.

“A recuperação da demanda chinesa pode redefinir a rentabilidade das culturas na Tailândia. A mandioca volta a ser uma alternativa viável, especialmente se os preços do açúcar continuarem em queda”, avalia o analista de inteligência de mercado da StoneX, Marcelo Di Bonifácio.

Até julho, as exportações tailandesas de mandioca e derivados já somavam 4,9 milhões de toneladas, volume praticamente equivalente ao de 2024 (5,2 milhões). A expectativa é de que a recuperação se mantenha até 2026, criando um novo cenário de competição com a cana.

A disputa por área é mais acentuada nas províncias do norte e do nordeste, regiões onde o produtor costuma alternar culturas de acordo com a rentabilidade. Com o açúcar negociado abaixo de 16 centavos de dólar por libra-peso, o governo tailandês pode ser pressionado a reduzir o preço mínimo pago pela cana, o que reforçaria a tendência de migração, aponta o analista.

Segundo cálculos da StoneX, a partir dos dados do Escritório de Economia Agrícola da Tailândia (OAE), para a mandioca se tornar mais atrativa, os preços precisam atingir entre 2.000 e 2.300 baht por tonelada (US$ 61 e US$ 70,16, respectivamente, por tonelada), caso o preço da cana caia para menos de 1.000 baht/t (US$ 30,50).

“Se a cana seguir perdendo rentabilidade e a mandioca alcançar o patamar dos 2.300 baht/t, o produtor vai mudar de rota. E essa decisão pode reduzir a oferta global de açúcar já a partir da safra 2026/27”, projeta Di Bonifácio.

A possível substituição de áreas vem em um momento delicado para o mercado internacional de açúcar. Com superávit projetado para 2025/26, a commodity enfrenta pressão baixista após três safras seguidas de crescimento. A Tailândia, responsável por cerca de 10% das exportações globais, desempenha papel-chave nesse equilíbrio.

Mesmo que parcial, a redução da área de cana no país poderia limitar a produção de açúcar nas próximas safras, interrompendo o ciclo de expansão iniciado em 2022 e atenuando o excesso de oferta global.

“A Tailândia é um elo estratégico tanto para o açúcar quanto para a mandioca. Qualquer mudança no seu perfil produtivo impacta os fluxos comerciais asiáticos e o balanço global de commodities agrícolas”, destaca Di Bonifácio.

No curto prazo, a retomada da demanda chinesa dá à mandioca uma nova chance de competir em rentabilidade. No médio prazo, o que está em jogo é mais do que a reorganização das lavouras tailandesas, é o redesenho das forças que moldam dois dos mercados agrícolas mais relevantes do mundo.

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