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Opinião

O que esperar do consumo de gasolina nos próximos meses?

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Enquanto os preços do petróleo estão encurralados entre tensões geopolíticas no Oriente Médio, com potencial para prejudicar o abastecimento global, e o início tardio dos cortes de juros nos Estados Unidos, enfraquecendo assim a demanda por petróleo, um cenário curioso está se desenhando para produtos refinados, especialmente a gasolina.

No último mês, a atividade de refino nos Estados Unidos foi significativamente afetada pelas baixas temperaturas, reduzindo a mobilidade dos veículos e, consequentemente, o consumo de gasolina. Atualmente, o país conta com estoques de 247 milhões de barris de gasolina, um montante superior ao observado em 2023 e 2022.

A pergunta que fica é se esses estoques serão suficientes para atender à demanda no país nos próximos meses, período em que o consumo de gasolina aumenta substancialmente.

Fevereiro geralmente é um mês de demanda mais baixa por petróleo nos Estados Unidos. No entanto, os preços da gasolina têm reagido devido a uma parada não programada na refinaria da BP em Whiting, Indiana, no início do mês. Como uma das maiores refinarias do país, a maior do Meio-Oeste, essa instalação é capaz de produzir 435 mil barris por dia, um volume bastante significativo.

Embora os amplos estoques do país estejam ajudando a limitar o impacto da paralisação de uma refinaria de grande porte, este seria o período de acumular reservas para atender à demanda durante os meses de verão, conhecido como a temporada de maior movimento nas estradas (Driving Season).

Nesse sentido, o mercado parece ter adotado uma postura mais altista em relação à commodity. Em janeiro, o RBOB, contrato de referência para a gasolina, fechou em US$ 2,18 por galão (+3,84% de alta no mês), e tudo indica que fevereiro deverá fechar com uma nova alta.

De fato, os meses de fevereiro e março são períodos que geralmente fortalecem o backwardation da gasolina, onde os preços dos contratos futuros para entrega imediata são mais altos do que os preços dos contratos para entrega futura. Sob essa ótica, quando comparados com a trajetória dos últimos anos, o cenário não parece muito promissor, mas precisamos considerar algumas variáveis importantes para 2024.

A grande expectativa no cenário econômico para 2024 é o possível corte de juros pelo Fed, o banco central dos EUA. Esse movimento deverá impulsionar a demanda e enfraquecer o dólar, o que é especialmente relevante considerando que a maioria das commodities do mundo é negociada em dólares. Isso também se aplica aos ativos do complexo energético.

Além disso, o mercado de trabalho no país segue resiliente, com o payroll não agrícola registrando um incremento de 353 mil postos de trabalho. Com mais pessoas trabalhando, aumenta o consumo de combustíveis.

Para completar, o atual conflito no Oriente Médio pode potencialmente prejudicar o abastecimento na Europa, o que poderia elevar o preço do petróleo, principal insumo na produção de gasolina e com alta correlação com os preços da gasolina.

No momento, o cenário não mostra indícios de um mercado menos abastecido. Ao contrário dos anos anteriores, os estoques ainda estão altos e a demanda tem sido afetada pelas baixas temperaturas. Mesmo assim, será importante observar se não haverá uma reversão desse cenário em março, o que pode surpreender o mercado devido ao bom desempenho da economia americana e aos riscos altistas para o petróleo.

Por enquanto, esses riscos estão sendo superados por um corte de juros um pouco mais tardio do que o esperado nos Estados Unidos, mas o aumento da demanda nas próximas semanas pode mudar esse sentimento.

 

* Victor Arduin é analista de energia e macroeconomia da hEDGEpoint Global Markets

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