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[Opinião] Açúcar: em compasso de espera enquanto a chuva não vem

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O mercado futuro de açúcar em Nova York encerrou a semana encurtada pelo feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos com o contrato de vencimento para outubro/24 cotado a 18,90 centavos de dólar por libra-peso, acumulando uma queda de 54 pontos, ou 11.90 dólares por tonelada, em relação à semana anterior. Essa queda foi influenciada pelo cenário macro deteriorado que afetou todos os ativos de risco. A principal surpresa da semana foi a redução da posição vendida dos fundos, que agora somam apenas 8.734 lotes.

Esse movimento de recompra dos fundos reduziu significativamente a vulnerabilidade do mercado, anteriormente elevada pela posição especulativa dos fundos. Em um cenário de seca e redução da safra, acreditava-se que essa combinação poderia gerar uma pressão explosiva sobre o mercado de açúcar. No entanto, a recompra realizada pelos fundos não impulsionou o mercado para cima, uma vez que as usinas/tradings aproveitaram o momento de preços atrativos em reais por tonelada para fixar suas vendas, neutralizando o efeito dessa movimentação dos fundos.

A situação no campo, especialmente nos canaviais do Centro-Sul do Brasil, permanece crítica. Incêndios continuam ocorrendo em áreas isoladas, e a falta de chuvas tem agravado o estresse das plantas. As expectativas em torno do volume total de cana a ser processada e do mix de produção de açúcar já foram revisadas. Nossa previsão atual é de uma produção de 590 milhões de toneladas de cana e 37,7 milhões de toneladas de açúcar, uma redução de quatro milhões de toneladas em relação à estimativa inicial no começo da safra.

Embora essa queda na produção brasileira seja significativa, o mercado global de açúcar não deverá enfrentar uma grande escassez, uma vez que o Brasil tem mantido um ritmo robusto de exportação. No entanto, outros fatores globais estão contribuindo para o quadro de restrição de oferta no próximo ano. A Índia, por exemplo, deverá estender a proibição de exportação de açúcar para garantir o abastecimento doméstico após uma redução na produção, a primeira em quatro anos. O governo indiano tem como meta aumentar a mistura de etanol na gasolina para 20% até 2025-26, e, para isso, está considerando aumentar o preço de compra do etanol pelas petrolíferas e já autorizou o uso de melaço para sua produção.

O tamanho da próxima safra no Centro-Sul do Brasil será crucial para determinar a direção dos preços internacionais do açúcar. No entanto, é cedo para prever com precisão o impacto da seca nas plantações e o real grau de prejuízo causado pelo déficit hídrico. Ainda que não possamos mensurar esses danos no momento, já é possível conjecturar que o cenário é altista.

Atualmente, os fatores que podem contribuir para uma alta nos preços em Nova York parecem ter mais consistência e maior peso probabilístico. A seca já reduziu a produção de cana em 2,75% nesta safra e pode também afetar a próxima. A redução nas taxas de juros nos Estados Unidos, combinada com um possível aumento na SELIC no Brasil, deve atrair mais dólares e fortalecer o real, o que tende a melhorar os preços das commodities, incluindo o açúcar. Além disso, as restrições de exportação da Índia e os incentivos governamentais ao etanol naquele país também são fatores que podem sustentar uma valorização do açúcar no mercado internacional.

No mercado doméstico brasileiro, o ciclo Otto bateu um novo recorde, com o consumo de combustíveis atingindo 58,3 bilhões de litros, o que reforça a demanda por etanol e pode impactar o mix de produção de açúcar e etanol nas usinas. Entretanto, existem alguns fatores que podem limitar essa alta nos preços. Um deles é a possibilidade de uma redução no preço da gasolina pela Petrobras, já que há margem para ajustes. Além disso, a economia chinesa mostra sinais de desaceleração, e o perigo de uma recessão nos Estados Unidos, apontada por alguns analistas, também pode pressionar os preços para baixo.

Em suma, o mercado de açúcar em Nova York continua a ser influenciado por uma série de fatores, tanto altistas quanto baixistas, mas os elementos de alta, como a seca no Brasil, as restrições indianas e a expectativa de um dólar mais fraco, parecem, neste momento, ter mais peso. No entanto, como o cenário ainda está em desenvolvimento, uma análise mais detalhada sobre os danos causados pela seca e o impacto da demanda global será crucial nos próximos meses.

Análise técnica (por Marcelo Moreira): No vencimento Out-24 a média-móvel dos 200 dias encerrou a semana a 19.98 centavos de dólar por libra-peso provou novamente ser uma importante resistência a ser rompida! O Out-24 negociou na máxima a 19.98 centavos de dólar por libra-peso e encerrou a 18.91 centavos de dólar por libra-peso – “em cima” dos importantes suportes das médias-móveis dos 100 e 50 dias respectivamente (19.01 e 18.94). Rompendo esses suportes, próximo objetivo será buscar os 17,30 centavos de dólar por libra-peso!

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de mercado e diretor da Archer Consulting

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