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Opinião

[Opinião] Açúcar: o incrível mercado que encolheu

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Apesar da derrocada dos preços na última semana - que fez os contratos de açúcar de março serem negociados a US$ 14,46, o preço foi 5,4% maior

Certamente, 2023 poderá ser lembrado de forma positiva ou negativa, dependendo da eficácia das estratégias de hedge adotadas por cada participante. Raramente vivenciamos um ano repleto de oportunidades tão favoráveis para as usinas como esse, com os preços do açúcar em reais por tonelada, ajustados pela inflação, operando em níveis excepcionalmente lucrativos, uma ocorrência observada em apenas 5% das sessões de negociação ao longo de quase 25 anos.

No entanto, é lamentável que, mesmo diante das condições favoráveis propiciadas pelo mercado futuro, sugerindo que as usinas fixassem os preços dos açúcares de exportação, alguns optaram por aguardar por melhores oportunidades, alinhando-se com as narrativas otimistas que pareciam negligenciar o fato de que o mercado estava impulsionado principalmente pela participação ativa dos fundos especuladores.

Em diversas ocasiões, utilizamos este espaço para chamar atenção à projeção de uma safra significativa de cana-de-açúcar na região Centro-Sul, com implicações diretas sobre o aumento da produção de açúcar. As intervenções da Índia no mercado, especialmente no que concerne à limitação das exportações de açúcar, mostraram-se ineficazes em alterar significativamente as tendências do mercado global. O fator determinante para a recente volatilidade do mercado foi, conforme destacado em nossas análises anteriores, a atuação dos fundos especulativos. Estes fundos desempenharam um papel central, inicialmente impulsionando os preços para patamares mais elevados e, posteriormente, contribuindo para a sua queda acentuada.

Segundo o COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes publicado hoje pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, os fundos especulativos liquidaram 52,590 contratos até a terça-feira. Devem ter liquidado mais dos pouco mais de 50,000 longs que ainda detinham naquela data. Acreditamos que a queda brusca foi exacerbada pela posição vendida a descoberto das puts (opções de venda) abaixo do preço de exercício de 27 centavos de dólar por libra-peso.

Hoje os participantes do mercado estão pouco se lixando se a Índia vai produzir mais ou menos etanol, ou se a Tailândia vai ter uma safra maior ou menor, se vai chover, se vai fazer sol, se vai ter cana bisada, se o porto está congestionado, ou se vai haver superávit ou déficit globo. Essas questões perderam a importância. Estão todos olhando para dentro de casa, coçando a cabeça e refletindo porque novamente e novamente e novamente deixaram-se levar pelas narrativas ao invés de olhar para o retorno ao acionista. Mas, se serve de consolo, tem gente pior: aqueles que acreditam que acumuladores são uma excelente estratégia de hedge, apesar de suas limitações evidentes.

Na última sexta-feira, o fechamento do mercado de Nova York para o contrato de açúcar com vencimento em março de 2024 registrou 21,99 centavos de dólar por libra-peso. Recordando uma análise que compartilhamos há seis meses, prevíamos a possibilidade de o preço atingir 22 centavos de dólar por libra-peso antes “de Papai Noel entrar pela chaminé, salvo a ocorrência de eventos climáticos adversos ou outros fatores exógenos significativos”. Não temos bola de cristal nem vocação para pitonisa. Esta previsão não se baseava em conjecturas, mas em uma análise objetiva e desapaixonada do mercado. Focamos na rentabilidade sustentada pelos fundamentos do mercado naquele momento, juntamente com a observação crítica de que os fundos especulativos estavam influenciando fortemente a tendência de alta nos preços, o que também tornava o mercado suscetível a variações bruscas.

Dessa forma, em sete semanas o mercado derreteu 700 pontos (da máxima de 28.14 dia 7 de novembro para a mínima de 21.16 centavos de dólar por libra-peso na última quinta-feira), equivalentes aproximadamente a R$ 800 por tonelada. Uma queda de quase 25% que não ocorria desde a pandemia da Covid-19. Em valores absolutos, uma queda acima de 700 pontos no mesmo intervalo de tempo ocorreu em setembro de 2011 quando NY negociou a 24.84 centavos de dólar por libra-peso depois de uma alta recente de 31.85 em agosto do mesmo ano.

No acumulado do ano, o açúcar ainda é uma commodity que está em território positivo: 24% de ganho, atrás do suco de laranja 119% e do cacau 62%. Petróleo WTI caiu 9%, trigo 29% e gás natural 58%.

Quando perguntado onde foram parar todos os altistas do mercado, o trader de uma usina de São Paulo respondeu: “escondidos atrás de algum armazém de açúcar”.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting

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