Por João Chierighini e Yan Ulrich
Nos últimos 18 meses, o mercado de CBIOs experimentou um movimento digno de montanha-russa. Do pico de R$ 110 em janeiro de 2024 ao tombo histórico de R$ 45 em setembro de 2025, o ativo que deveria sinalizar compromisso ambiental passou a refletir, sobretudo, a instabilidade regulatória. Em paralelo, os estoques atingiram o patamar recorde de 30 milhões de créditos — um retrato eloquente da dissociação entre oferta abundante e demanda fragilizada.
A trajetória é marcada por eventos regulatórios que, em tese, deveriam reforçar o RenovaBio. A aprovação, em outubro de 2024, da lei que endureceu penalidades contra distribuidoras inadimplentes gerou um suspiro de valorização, com preços subindo de R$ 76 para R$ 82/CBIO e queda leve nos estoques. Foi o efeito imediato da expectativa de punição. Mas a euforia durou pouco. A sanção presidencial, em janeiro de 2025, não sustentou a alta: os preços recuaram e os estoques voltaram a crescer, mostrando que o excesso de oferta anulava a força da caneta presidencial.
O quadro se agravou em abril, com a publicação do decreto regulamentador. Em vez de fortalecer a confiança, a medida expôs a incerteza sobre a aplicação prática das regras. Resultado: preços despencaram de R$ 70 para R$ 62, mesmo com estoques em alta. A mensagem implícita foi clara: sem segurança jurídica, não há norma que se traduza em valorização de ativos ambientais.
O ponto de inflexão veio em julho, quando a ANP divulgou a primeira lista de distribuidoras sancionadas. Era o momento esperado de virada, mas rapidamente neutralizado por uma enxurrada de liminares. A reação do mercado foi de ceticismo: preços parados, estoques ainda em escalada. O golpe final ocorreu em agosto, quando decisão do TRF-3 suspendeu todas as sanções. A consequência foi imediata e brutal: colapso da cotação para R$ 44 e acúmulo recorde de créditos.
O diagnóstico é inequívoco. Quando o mercado percebe possibilidade de punição real, reage com valorização, ainda que modesta. Quando a insegurança jurídica se impõe, os preços desabam e os estoques explodem. Hoje, o principal fundamento do CBIO não é a demanda regulada nem o apetite ambiental, mas a credibilidade das regras. O RenovaBio transformou-se em termômetro da instabilidade institucional. A questão que fica é se ajustes regulatórios conseguirão resgatar a confiança ou se será necessário repensar de forma mais profunda os mecanismos de mercado que sustentam a política de descarbonização dos combustíveis no Brasil.