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[Opinião] Os graves danos das queimadas e a recuperação da fertilidade do solo

Foto/Ilustração: Solo com a cultura da cana - plantio.
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Levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) revelou que, entre agosto e setembro, mais de 10 milhões de pessoas, em 531 municípios, estão sendo impactadas pelas consequências dos incêndios nos biomas brasileiros. Nesse contexto, 1,4 milhão de habitantes também enfrentam os efeitos da estiagem, com 154 cidades sofrendo as consequências da seca. Os prejuízos causados tanto pela seca quanto pelos incêndios florestais já somam pelo menos R$ 2 bilhões. Esses dados ressaltam a urgência de entender os impactos das queimadas, especialmente nos canaviais, que foram a lavoura mais atingida neste ano no Estado de São Paulo.

As queimadas, embora tenham sido abandonadas em grande parte das lavouras de cana-de-açúcar há alguns anos, ainda ocorrem em áreas de difícil colheita mecanizada. Sua abolição foi crucial, pois provoca perdas consideráveis de biomassa, emite grandes volumes de carbono e polui o ar.

Um dos efeitos mais imediatos das queimadas é a perda de elementos minerais na atmosfera, seja por volatilização na forma gasosa ou pela convecção de partículas finas na fumaça. O nitrogênio, junto com o enxofre e o boro, é um elemento particularmente vulnerável, pois volatiliza a temperaturas relativamente baixas (cerca de 200°C). As perdas de outros elementos minerais também variam conforme a intensidade das queimadas.

Em termos gerais, as perdas são expressas em percentuais das quantidades iniciais da seguinte forma: N (nitrogênio) > K (potássio) > P (fósforo) > Ca (cálcio). O nitrogênio se perde principalmente por volatilização, enquanto o cálcio é transportado por partículas, e o potássio e fósforo são afetados por ambos os mecanismos. Além disso, algumas concentrações de metais, como vanádio, manganês e níquel, aumentam no solo, enquanto cobalto e cobre permanecem constantes. O selênio e o zinco são mobilizados pelo fogo.

Embora as cinzas possam enriquecer temporariamente o solo, a relação custo-benefício das queimadas é insustentável, dado o grande dano econômico e ambiental que elas causam, além dos riscos de incêndios. Após o fogo, a matéria orgânica é mineralizada e enriquece o solo em nutrientes, mas essa vantagem é efêmera, já que a maioria dos nutrientes se perde rapidamente.

A erosão do solo após as queimadas representa, sem dúvida, o dano ecológico mais severo. Além disso, há prejuízos significativos para as lavouras, propriedades e comunidades rurais. O solo é fundamental para a nutrição da vegetação e das pessoas, e seu processo de recuperação é extremamente lento. A destruição das qualidades físicas, biológicas e químicas do solo é nociva. As perdas podem variar dependendo da inclinação do terreno, das condições climáticas após as queimadas e das características do solo. Contudo, a drenagem pode ser minimizada se a vegetação for recuperada rapidamente após o incêndio.

As perdas de nutrientes causadas pelas queimadas obrigam os produtores a compensar essa redução com o uso de fertilizantes. É importante lembrar que os adubos são cruciais para o rápido desenvolvimento das culturas, promovendo a cobertura do solo e a produção de biomassa necessária para formar palha, o que ajuda a proteger a terra contra ervas daninhas e erosão, além de aumentar o sequestro de carbono e fornecer nutrientes.

Por todas essas razões, é um erro pensar que as queimadas possam ter aspectos positivos. Para restaurar plenamente as boas condições do solo e o seu grau de nutrientes nas milhares de propriedades rurais afetadas pelos incêndios no Brasil este ano, será necessário um investimento significativo em nutrientes. Felizmente, esses nutrientes estão disponíveis! No entanto, o fator mais importante para evitar os riscos e as perdas econômicas e ambientais causadas pelo fogo é a conscientização e a responsabilidade.

 

*Valter Casarin, coordenador geral e científico da Nutrientes Para a Vida é graduado em Agronomia pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Jaboticabal, em 1986 e em Engenharia Florestal pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/USP, Piracicaba, em 1994. 

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