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Raízen faz parceria para desenvolver SAF e biobunker de resíduo do E2G

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Produção de biocombustíveis avançados não implicaria na exploração de novas áreas agrícolas

A Raízen deu seu primeiro passo efetivo para explorar a produção de biocombustíveis avançados, como bioquerosene de aviação (SAF) e biocombustível marítimo (biobunker), a partir de um resíduo da produção do etanol celulósico ou etanol de segunda geração (E2G).

A companhia assinou um Acordo de Desenvolvimento Conjunto (JDA, na sigla em inglês) com a biorrefinaria holandesa Vertoro para aumentar o valor agregado da lignina, uma molécula que garante a rigidez dos tecidos vegetais e que é quebrada no processo de produção do etanol a partir de biomassa. A ideia é transformar a lignina em SAF, biobunker e, também, em produtos químicos e materiais.

“Nos próximos dois anos, a gente quer validar a planta de demonstração e ter contratos de venda dessa lignina para abrir esse mercado, e aí viabilizar nossa primeira planta aqui no Brasil”, disse à Reuters o diretor de transição energética da Raízen, Mateus Lopes.

O próprio E2G já é fruto de uma produção a partir de um resíduo agrícola. Desta forma, a produção de biocombustíveis avançados a partir da lignina não implicaria na exploração de novas áreas agrícolas nem na exploração de novos recursos.

Segundo Lopes, a ideia é fazer um “upgrade” do uso atual da lignina, pensando no aproveitamento completo da biomassa e, também, na demanda mundial por novas soluções de baixo carbono baseadas em resíduos.

Essa rota de produção já é pesquisada na academia. Em 2019, a Fapesp e o Biotechnology and Biological Sciences Research Council (BBSRC) firmaram uma parceria para entender o potencial de conversão da lignina em biocombustíveis avançados e outros produtos.

A Raízen tem hoje duas plantas de E2G em operação. Outras duas estão terminando de ser construídas e devem ficar prontas ainda neste ano. Mais três estão em fase de investimento. Segundo a companhia, estas sete unidades anunciadas deverão gerar até 1,5 milhão de toneladas de lignina como resíduo (base úmida).

“Nossa visão é de que toda planta de E2G teria biogás e lignina no futuro conectados a ela, aumentando nosso ‘pool’ de produtos”, acrescentou Lopes.

A parceria com a Vertoro se concentrará inicialmente na produção de amostras em larga escala na unidade de demonstração da biorrefinaria holandesa. Essas amostras, tanto na forma líquida quanto em pó, serão distribuídas a produtores selecionados nos setores de combustível, produtos químicos e materiais para testes de aplicação.

“Vamos mandar (amostras) para clientes, para refinaria testar coprocessamento, empresa de motores de navio, empresa de polímeros para testar em poliuretano, resina epóxi”, exemplifica o executivo.

O plano da Raízen é que, uma vez validados os bioprodutos resultantes do processamento da lignina, a companhia consiga já assinar contratos de compra mínima garantida para apoiar a construção de uma unidade anexa a uma planta de E2G sua no Brasil.

A tecnologia da Vertoro, que tem a gigante de navegação Maersk como um de seus principais investidores, transforma quimicamente a lignina em um produto puro, com baixo teor de enxofre, altamente processável e de baixo peso molecular, adequada para uma ampla gama de aplicações de base biológica.

Cofundador e co-CEO da Vertoro, Michael Boot explica que a lignina será tratada em processo que se assemelha ao do preparo de um café expresso, permitindo que uma única molécula possa ser vendida para toda uma cadeia de valor, desde combustíveis até o mercado farmacêutico.

Lopes, da Raízen, observa que a lignina já vem sendo explorada por empresas do setor de papel e celulose, como a Suzano, em diferentes aplicações.

“É um caminho que a indústria de papel e celulose vem fazendo, mas a gente entende que a nossa lignina tem características específica, que vamos encontrar mercados especiais”, disse o executivo. “É uma jornada de indústria, dessa neoindustrialização no país”, finalizou.

Camila Souza Ramos
Com informações adicionais da Reuters

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