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20 anos do carro flex: Um caso de sucesso no Brasil

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Com a produção de etanol tendo se multiplicado mais de 300% desde 2003 e com a redução real do seu preço no período, são muitos os motivos para o consumidor optar pelo combustível verde

Por Luís Roberto Pogetti*

Hoje, 24 de março de 2023, o carro flex completa 20 anos de sucesso. Há muito para celebrar. A data é um marco para a liberdade de escolha de consumidores, para a mobilidade sustentável no país e para a imensa contribuição da qualidade do ar nas grandes cidades brasileiras. Essa tecnologia disruptiva deu ao brasileiro mais autonomia, passando a poder optar pelo etanol na bomba, uma solução acessível, disponível e verde.

Foi uma adoção natural que veio confirmar o êxito do carro flex. Atualmente, representa quase 90% dos automóveis leves comercializados no Brasil, o que se explica em parte por políticas de estímulo ao desenvolvimento do setor automotivo nacional, mas, sobretudo, pela ampla oferta de etanol e pelo interesse do consumidor pelo biocombustível.

Conforme o século 21 vai avançando, o etanol e o carro flex ganham mais impulso, uma vez que a necessidade da descarbonização da economia e a busca pela sustentabilidade tornaram-se objetivos prementes no âmbito global. A mudança de que o mundo precisa passa, sem dúvida, por um novo olhar para o transporte. É fundamental a discussão sobre o impacto ambiental dos veículos em toda a sua vida útil, do berço ao túmulo.

Neste debate, vale ressaltar que o etanol vem contribuindo para a melhor qualidade do ar e a redução significativa da emissão de poluentes nas nossas grandes cidades. De acordo com dados da Traffic Index, apesar de a capital paulista, uma das dez cidades mais populosas do planeta, apresentar o 24º pior trânsito do mundo, é apenas a 1.476ª colocada no ranking mundial de cidades mais poluídas (IQAir).

Parte importante desse resultado está no fato de a cidade ter a maior frota urbana do mundo de veículos flex e alto consumo do etanol – este com participação de mais de 40% da matriz de combustíveis de carros leves nos últimos dez anos.

Olhando para o futuro próximo, é importante deixar claro que não há uma solução única para o mundo inteiro quando o assunto é sustentabilidade da mobilidade urbana. Embora os carros elétricos a bateria ganhem espaço, ainda estão distantes do consumidor médio e, portanto, longe da realidade nacional. Além disso, a construção de uma rede eficiente no território brasileiro para alimentar carros apenas a bateria exigiria um investimento de aproximadamente R$ 1 trilhão.

Já para as soluções que contam com o etanol como rotas para a eletrificação, a questão da infraestrutura está equacionada. O biocombustível tem uma rede de distribuição pronta, disponível e eficiente, abastecendo mais de 40 mil postos de combustíveis em operação em nosso país, de dimensão continental.

Outro ponto a considerar é que a contribuição ambiental de um carro 100% elétrico não é necessariamente maior do que a de um movido a etanol. No Brasil, o veículo flex movido a etanol emite, proporcionalmente, quantidade de carbono inferior a um carro 100% elétrico na Europa e nos Estados Unidos em razão da fonte de geração da energia elétrica.

No contexto atual, o carro movido apenas a bateria não parece ser aplicável mundialmente, mas novas tecnologias vêm sendo adotadas, como o veículo híbrido, em que se usa a eletrificação através de bateria apoiada pelo motor a combustão para gerar movimento com maior eficiência. Com a alternativa flex (híbrido flex), além da autonomia e da economia, os motoristas podem ainda contribuir com o meio ambiente e a sociedade, optando pelo uso do etanol.

Também na rota da eletrificação, há outra tecnologia com potencial de futuro que poderá usar o etanol: a célula a combustível. Esse tipo de motorização seria abastecido com o etanol, usando um reformador para converter o biocombustível em hidrogênio, que, por sua vez, alimenta a energia que movimenta o veículo.

O carro flex, o híbrido flex ou, ainda, híbrido a etanol, e a célula a combustível apresentam um enorme potencial para serem replicados em outros locais com características semelhantes às do Brasil. É o caso da Índia, um dos países que mais crescem e que, de acordo com a S&P Global, deve se tornar a terceira maior economia do mundo até 2030. Produtor de açúcar em larga escala, tem 80% da sua energia proveniente da importação de petróleo.

Já existe um esforço bastante relevante para difundir o etanol por lá e em outros lugares no mundo, com o setor proporcionando troca de tecnologia para fomentar este processo. Por isso, o etanol ainda tem muitos quilômetros para percorrer, durante muitas décadas, prestando uma contribuição relevante para o desafio de contenção do aquecimento global e para a melhoria do ar que respiramos.

Um brinde ao etanol.

 

* Luís Roberto Pogetti é presidente do conselho da Copersucar. (Este artigo foi escrito e publicado originalmente pelo jornal Estado de S.Paulo)

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