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Mesmo com mais cana, valor do ATR cai e pode causar retração de cultivo de cana

O grande desafio que se desenha para usinas e produtores de cana é como recuperar a produtividade sem a garantia de que até maio, período importante para o desenvolvimento da cana e para as áreas de plantio, teremos chuvas regulares. (Foto: Natália Cherubin)
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A safra de cana-de-açúcar brasileira deve atingir 600 milhões de toneladas, com o Centro-Sul moendo cerca de 542 milhões de toneladas e o Norte e Nordeste participando com 58 milhões de toneladas. Essa é a última estimativa da consultoria Datagro, que reduziu sua previsão inicial para o Centro-Sul, de 545 milhões de t, devido ao atraso da colheita devido às chuvas.

Segundo Plínio Nastari, diretor da Datagro, 2022/23 foi uma safra interessante, de altos e baixos e mudanças de perspectivas. “Desde o início apontamos que o canavial que seria colhido no segundo semestre deste ano, seria um canavial muito melhor do que foi no mesmo período do ano passado e que isso teria consequências para a produção. Só não esperávamos que viria tanta chuva, mesmo com o La Ñina”, disse o analista.

Até o dia 20 de outubro, de acordo com ele, houveram muito mais dias perdidos acumulados por chuva do que na safra anterior. Foram 16,6 dias perdidos contra 10,4 em 2021 e 7,1 dias em 2020. São esses 6,2 dias adicionais, algo em torno de 3,3 milhões de toneladas por dia que deixaram de ser colhidos,  que ajuda a explicar o atraso que a moagem enfrenta. Isso fez com que o atraso inicial da safra se somasse aos dias perdidos de chuva. “E agora, os produtores do Centro-Sul caminham para o dilema de até quando podem esticar a safra para poder aproveitar essa disponibilidade de cana, contra o malefício do pisoteio”, disse.

Com um clima melhor, Nastari diz que fica claro o melhor rendimento dos canaviais especialmente no desvio apurado a partir de agosto de 2022, que indica condição e canavial com um TCH maior. “No nosso levantamento serão 12,9% de aumento no rendimento agrícola até 30 setembro de 2022”

A moagem acumulado até 1 outubro está com 431,1 milhões de t, contra 467,6 milhões até a mesma data, desvio de 36 milhões de t de diferença. A produção de açúcar esta 9,9% abaixo do que foi em 2022, que foi um ano ruim 523 milhões de t de cana. A produção 5,8 % abaixo, mas na primeira quinzena de outubro, esperamos que a moagem de cana seja  cerca de 10 a 11 milhões de t acima do mesmo período do ano passado, reduzindo esse diferencial.

Produtor de cana pode reduzir ainda mais áreas

O preço do ATR, que determina o valor da cana ao produtor, permanece em queda nessa safra, mas ainda acima dos valores observados nas safras 2019/20 e 2020/21. Apesar de terem cruzado a curva de preço do ano passado, o quadro é preocupante, de acordo com Nastari, porque, na média, os produtores de cana estão enfrentando margens negativas na cana, enquanto no caso dos grãos essa margem é positiva.

“Vemos o custo agrícola de produção de cana no Centro-Sul, na estimativa R$ 183,7 por tonelada, e vemos que esse custo de produção começa a cruzar a curva de preço do ATR, comprometendo, portanto, a margem para o cultivo de cana-de- açúcar. Quando comparamos essa margem, negativa em 9,1% no Centro-Sul, com a margem de soja, de 7,8%,  isso ajuda explicar a retração na área cultivada de cana e prevemos que na safra 2023/24 vamos ter redução de 1,8% na área de cana, o que levamos em conta nas nossa estimativas”, afirmou Nastari.

De acordo com Bruno Rangel, presidente da Coplana e diretor secretário da Socicana (Associação dos Fornecedores de Cana de Guariba), existe um movimento dos produtores em expandir áreas de grãos. “Alguns estão postergando o plantio do canavial fazendo mais uma cultura de grão antes de plantar cana. O movimento de arrendar as terras para as usinas também continua. Em áreas mais distantes das indústrias, já vi um movimento de mudança total, exemplo região de Assis, SP”, disse à RPAnews.

No entanto, na região de Guaruba, SP,  como existem muitas usinas, acontece uma disputa natural pela cana, de acordo com Rangel. “Mesmo assim, as margens realmente apertaram muito e essa queda do valor do ATR pode acelerar ainda mais essa migração”, afirmou Rangel.

Mas, por que o ATR está caindo? De acordo com Haroldo Torres, economista e gerente de Projetos do Pecege, até o meio do ano de 2022, desde que foram aprovadas as políticas de desoneração tributária, ou seja, redução dos impostos federais, o etanol veio caindo, em patamares abaixo do mesmo período do ano passado.

“Desde então, para o etanol anidro e hidratado, estamos operando no menor valor para um ano, se comparada com o ano passado, por isso há um recuo muito forte do etanol. Na mesma linha, a medida que temos uma oferta melhor de cana e o Brasil desviando mais para o açúcar, vemos um açúcar com níveis de preço menores que na safra anterior e é isso que justifica os níveis de preço do ATR”, explica Torres.

No entanto, a projeção do Pecege é um pouco diferente no que diz respeito a cultivo de cana. Para Torres, a cana-de-açúcar tem enfrentado um aumento de custos de produção e retração dos preços do ATR, enquanto os grãos tem sustentado patamares de preços mais elevados e estáveis. Mesmo assim, o Pecege enxerga que os produtores estão entrando com percentual de grãos para maximizar a receita conjunta da atividade na áreas de reforma. “Ou seja, não é um momento de debandada e sim maximização. A gente imagina uma migração de cana para grão em algo próximo a 1%, porque já teve muita migração de área, mas acreditamos que vai continuar em uma menor intensidade”, concluiu o economista do Pecege.

Natália Cherubin para RPAnews

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