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[Opinião] Açúcar: muitas coisas para acontecer, inclusive nada

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O mercado de açúcar em Nova York encerrou a sexta-feira como um diplomata suíço: absolutamente neutro. As oscilações nos contratos listados foram inferiores a um dólar por tonelada, para cima ou para baixo — o tipo de movimento que diz muito mais sobre incerteza do que sobre direção. E incerteza é o que não falta.

Há dúvidas relevantes sobre a produção no Centro-Sul, onde a última quinzena da UNICA veio acima das expectativas, mas ainda abaixo dos volumes da safra passada. No cenário internacional, o recrudescimento das tensões entre Irã e Israel adiciona mais uma camada de ansiedade aos mercados, enquanto todos se perguntam: qual será a posição de Donald Trump nesse tabuleiro, caso reassuma o tablado geopolítico global? E como se não bastasse, o petróleo ameaça testar novas máximas e, no Brasil, o Banco Central decidiu aumentar a Selic para 15% ao ano — o que, convenhamos, é um tranquilizante definitivo para qualquer impulso de formar estoque. Resultado: o mercado negocia da mão para a boca, tentando equilibrar-se numa corda bamba estendida entre Telaviv, Teerã e Nova York.

O contrato futuro em NY com vencimento para julho/25 fechou a 16.06 centavos de dólar por libra-peso, dois pontos abaixo da semana anterior, enquanto o outubro/25 encerrou a 16.53 centavos, queda de apenas um ponto. Em reais por tonelada, no entanto, observou-se uma leve desvalorização: queda de 14 reais por tonelada na curva da 2025/26, de 18 reais por tonelada na safra 2026/27 e de 35 reais por tonelada na safra 2027/28. Esses valores consideram a conversão média dos respectivos vencimentos para reais, via NDF (Non-Deliverable Forward), um contrato a termo de moeda com liquidação financeira, em média aritmética. No fim das contas, o mercado até parece parado, mas os fundamentos seguem se mexendo por baixo da superfície — como crocodilo em rio barrento.

Ainda aguardamos os dados da UNICA, que devem ser mais elucidativos apenas na última semana de julho ou na primeira de agosto. Como já destacamos anteriormente, será esse o momento em que o mercado terá maior clareza sobre o desempenho efetivo da safra. Não temos ainda motivos para acreditar em safra maior de que 595 milhões de toneladas, e ainda mantemos o nosso número em 581 milhões de toneladas.

Durante a semana, segundo as agências noticiosas houve uma possível compra de 750 mil toneladas de açúcar por parte do Paquistão, fato que de certa forma ajudou a trazer o mínimo de sustentação ao mercado, limitando novas pressões de baixa. É fácil perceber o interesse do físico quando olhamos o spread entre os contratos de julho/25 e outubro/25 indicando um carrego anualizado de 12,13%. Isso apenas reforça a leitura de que os participantes ainda posicionados no julho estão, em sua maioria, desfazendo ou rolando suas posições. Falta de demanda, custo alto de manter estoques, menor giro pois a mercadoria se move mais lentamente, incerteza e Donald Trump.

Os feriados de quinta-feira tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos reduziram significativamente a liquidez do mercado, que operou em ritmo lento nos últimos dias. E o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, que normalmente é divulgado nas sextas-feiras pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, deve ter sido postergado devido ao feriado naquele país.

No Brasil, muitas usinas em Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul já demonstram preferência pelo etanol, diante da melhor paridade em relação ao açúcar além de economia no frete, elevação, custos financeiros e os incentivos fiscais.

Um fator que merece atenção nesse início de safra com a recente queda do TCH e da ATR, estima-se que o custo de produção esteja próximo dos 16 centavos de dólar por libra-peso — nível muito próximo das cotações atuais, pressionando a rentabilidade de diversas usinas.

Duas perguntas merecem reflexão: primeira, quem consegue produzir açúcar com margem positiva com NY negociando a 16.50 centavos de dólar por libra-peso? Segunda, no evento de uma piora no conflito do Oriente Médio e o petróleo subir, a Índia aumentará sua produção de etanol?

O cenário geopolítico traz preocupações. A escalada do conflito entre Irã e Israel pode impactar os preços do petróleo. Uma disparada do Brent, hoje novamente acima dos US$ 75/barril, tende a tornar o etanol mais competitivo, o que pode alterar a configuração do mix de produção no curto prazo.

No mercado doméstico, os preços seguem mais atrativos do que na exportação. Isso pode reabrir espaço para um movimento já conhecido: o washout, com usinas recomprando posições de açúcar bruto vendidas às tradings para redirecionar a produção ao mercado interno, onde as margens são superiores.

Em resumo: o mercado está parado, mas longe de estar tranquilo. Tem muita coisa por acontecer — inclusive nada.

Nosso analista Marcelo Moreira destaca que, mesmo com o Brent retomando os US$ 75 e o dólar abaixo de R$ 5.50, o mercado de açúcar permanece sem força para reagir. O contrato julho/25, após testar a mínima dos últimos 30 meses, encerrou a semana estável. No curto prazo, os níveis de suporte mais relevantes estão em 16.05 e 15.32 centavos de dólar por libra-peso, enquanto as resistências aparecem em 16.28, 17.25 e 17.90 centavos.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é analista de Mercado e diretor da Archer Consulting

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