Mais do que o setor de petróleo, o impacto da tarifa de 50% sobre a importação de produtos brasileiros, anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode impactar os produtores de etanol, principalmente os do Nordeste do país, avalia o sócio-fundador e diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires, colunista do Estadão.
“Se a tarifa afetar a exportação de petróleo, a gente direciona facilmente para outro lugar, e nosso principal mercado de petróleo é a China, não os Estados Unidos. Já o etanol vai sofrer mais, especialmente o etanol do Nordeste”, considerando a taxa para o etanol de milho, prevê.
Ressaltando que ainda é cedo para se avaliar a extensão exata das medidas anunciadas, Pires lembra que a carta enviada por Trump ao Brasil – com exceção das referências ao ex-presidente Jair Bolsonaro –, é a mesma enviada a outros países em prol da criação de uma nova ordem econômica mundial. A solução, avalia, é sentar-se para conversar, como fazem os outros países.
“Todo mundo está se sentando para conversar e o governo brasileiro precisa ter noção de que precisa se sentar para negociar. Não é a questão de o Bolsonaro ser preso ou não. Negociar não é abrir mão da soberania nacional, é tentar uma redução da tarifa, uma acomodação”, explica. “Essa carta do Brasil tem conotação política, coisa que ele não fez com Japão e China”.
Pires disse não acreditar em retaliações por parte do governo brasileiro, “porque o Brasil não tem cacife econômico para isso” e afirmou que, desde a campanha de Trump, o governo Lula “provoca” o governante estadunidense, que, por sua vez, é “maluco, imprevisível”, avalia.
“Lula tomou posse e nunca teve uma aproximação com o Trump. Ele disse que ia votar na Kamala (Harris, adversária de Trump na eleição de 2024), não pode fazer isso”, afirma. “Houve um distanciamento muito grande da diplomacia brasileira com a dos Estados Unidos”.
A taxação dos Estados Unidos ocorre cerca de um mês depois da volta da norte-americana Exxon aos leilões de áreas de petróleo e gás natural do governo brasileiro, em parceria com a Petrobras. O consórcio arrematou dez blocos na bacia da Foz do rio Amazonas, na polêmica Margem Equatorial brasileira.
Pires não vê como a taxação possa afetar a empresa norte-americana no curto prazo. O mesmo vale para a Chevron, que tem ativos no país, já que os investimentos do setor são de longo prazo.
“Não vejo interferência (da tarifa) no consórcio que a Petrobras fez com a Exxon, são investimentos de trinta anos. Vamos ter de esperar, mas, no primeiro momento, não seriam afetadas, a não ser que as coisas aumentem e ocorram retaliações maiores”, afirmou.
Agência Estado|Denise Luna