Depois que publiquei uma análise sobre o fechamento da Santa Elisa, recebi dezenas de comentários — alguns técnicos, outros emocionados. Mas todos legítimos. E alguns me tocaram fundo.
Um leitor escreveu:
“Mais de 1.800 trabalhadores perderam o emprego e não foram sequer mencionados.”
Outro comentou:
“O processo é doloroso. Sobretudo para quem fica do lado de fora.”
E é verdade. Quando uma usina histórica como a Santa Elisa fecha as portas, não é só o setor sucroenergético que sente.
É o comércio local que esvazia.
É o caminhoneiro que roda menos.
É o eletricista, o mecânico, o vigilante, o operador, a copeira — todos impactados por uma decisão que parece distante, mas que cai como pedra no telhado das famílias.
Meu texto anterior focou na reestruturação, nos números, nas estratégias de portfólio e dívida. Tudo isso é importante.
Mas não existe análise completa se a gente não ouve o chão de fábrica.
E aqui vai meu reconhecimento público:
– Mais de 1.800 pessoas foram desligadas.
– Parte delas trabalhava na Santa Elisa há décadas.
– Alguns leitores compartilharam lembranças difíceis, incluindo episódios que marcaram suas trajetórias pessoais.
Não cabe aqui julgar responsabilidades, mas é impossível ignorar a dor de quem viveu momentos desafiadores em campo ou dentro da usina. Todo relato merece ser ouvido com respeito.
A empresa tem seus motivos, certamente amparados em números, auditorias e decisões colegiadas. Mas quem viveu a história de dentro, também tem suas verdades. E essas verdades doem.
Lá em Minas, aprendi com meu pai que “até poda precisa de carinho se quiser que a planta volte a crescer”.
A boa gestão — a de verdade — é a que equilibra eficiência com empatia.
É aquela que, mesmo em reestruturação, cuida da transição humana com o mesmo zelo com que cuida dos ativos.
É a que entende que usinas são feitas de aço, mas são sustentadas por gente.
Este artigo não é para julgar decisões — mas para lembrar que toda grande empresa tem também uma grande responsabilidade social.
Sobretudo quando tem as mãos fincadas no agro, onde tudo nasce da terra… mas floresce com dignidade.
Aos ex-colaboradores da Santa Elisa, deixo aqui meu respeito e minha solidariedade.
Aos líderes do setor, meu convite: que repensemos modelos de transição que valorizem, com justiça e humanidade, quem construiu cada hectare moído.
Porque, como dizemos por aqui, não é só a tonelada que pesa. É o silêncio de quem foi desligado sem ser ouvido.
E esse peso, o Excel não mede.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.