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[Opinião] Cana em região de maior competição vale mais que usina

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Muito tem sido comentado da venda de 3,6 milhões de toneladas de cana própria e de cana contratada de fornecedores que a Usina Santa Elisa, em Sertãozinho, SP, tinha. A usina agora fica parada. Não é novidade que reduzir o alto endividamento da Raízen tornou-se prioridade zero para o novo C-Level da empresa e todo o dinheiro desta operação vai direto para aliviar tal situação.

Porém, há alguns fatos interessantes deste movimento que devem ser analisados e refletidos por quem atua no segmento sucroenergético, lembrando que tudo que comentarei foi obtido de dados e informações divulgados pela imprensa.

  1. O primeiro fato é o de que a Raízen, proprietária da Usina Santa Elisa, fez a venda deste canavial – e não só da cana de uma safra – pelo valor de R$ 1,045 bilhões de reais. Considerando que esta cana tenha em média 2 cortes até chegar a sua exaustão, quando deverá ser reformada, podemos entender que a cana foi precificada em cerca de R$ 145 por tonelada, preço no campo. Com um custo de CTT de pelo menos R$ 55 por tonelada, esta cana chegaria hoje na usina ao custo de R$ 200/tonelada, valor bem caro para os atuais preços de açúcar e etanol.
  2. Além disso, a venda deste canavial representou um múltiplo de USD 52,2 por tonelada, valor mais alto do que a própria Raízen tinha obtido na venda da usina de Leme, SP, em maio/2025. Esta usina, com capacidade de 1,8 milhão de toneladas de moagem anual, foi vendida, junto com 1,5 milhões de toneladas de canaviais, por USD 41 por tonelada. Isso quer dizer que a Raízen vendeu só os canaviais da Usina Santa Elisa – logo, continua dona da indústria da usina – 27% mais caro do que toda a indústria e cana da usina de Leme, negócio ocorrido apenas 2 meses antes.
  3. Mais um fato a ser analisado é que, como esta cana vendida atendia a pouco mais de 50% da capacidade industrial da Usina Santa Elisa, forçando-a a comprar muita cana no mercado spot, cujos preços facilmente ultrapassam os R$ 200 por tonelada. Com esta jogada, a Raízen conseguiu sair da arapuca de ter de comprar muita cana cara no mercado spot regional e de ter sua unidade processando abaixo de sua capacidade. Em paralelo, os grupos compradores da cana, que respondem por 9 usinas na região de Ribeirão Preto, com o negócio minimizam sua necessidade também de ter de comprar cana spot. A região de Ribeirão Preto possui ao menos 24 usinas canavieiras funcionando num raio de 60 km, gerando uma alta demanda por cana e fortalecendo o mercado de cana spot. Os grupos que compraram a cana da Santa Elisa respondem por 9 usinas nesta região. Logo, o mercado de cana spot não deixará de existir e mesmo de ser atrativo nesta região devido a este negócio, mas perderá um pouco de seu poder de barganha.
  4. Outro ponto importante é que, por enquanto, os 3 movimentos de ajuste de usinas da Raízen, ou seja, de venda e/ou desligamento de unidades, acontece justamente com 3 unidades da extinta Biosev. A Biosev vendeu suas 9 usinas para a Raízen em 2021. Como até agora 3 destas usinas ex-Biosev foram retiradas do portifólio de usinas da Raízen, parece estar havendo um entendimento de que aquela aquisição não foi tão positiva para a Raízen.
  5. Finalmente, outro fator interessante é de que passamos a ter uma usina canavieira parada com grande capacidade de moagem – ao redor de 7 milhões de toneladas por ano -, algo incomum no mercado, que se acha abarrotado por indústrias paradas de menores capacidade, abaixo de 2,5 milhões de toneladas por ano. Como será muito improvável que a Raízen reative a Usina Santa Elisa no mesmo local em que se encontra hoje devido a tantos inconvenientes anteriormente relatados, vem a questão: o que fazer com uma indústria deste tamanho? Picar os equipamentos e vende-los seria abrir mão de muito dinheiro em comparação com reativar a usina inteira. Mas para reativar, há que se desmontá-la, movê-la e remontá-la, outro custo altíssimo. Usar os equipamentos industriais como peças para as outras usinas on demand parece ser algo mais factível. Neste caso, teremos de esperar para conhecer o caminho que a Raízen tomará

*Ricardo Pinto é engenheiro engenheiro agrícola (Unicamp), mestrado em Agronomia na ESALQ/USP e doutorando na Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp e CEO da RPA Consultoria 

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