Nos últimos dias, a Cosan anunciou uma das maiores movimentações de capital de sua história. A operação trouxe o BTG Pactual e o Perfin como sócios estratégicos, em um aumento de capital estimado em até R$ 10 bilhões. O objetivo é claro: reduzir a alavancagem da companhia e reorganizar sua base acionária.
O que de fato aconteceu
• Serão emitidas 1,45 bilhão de ações ordinárias na primeira etapa, ao preço de R$ 5 por ação — número bem abaixo da cotação em bolsa.
• Haverá ainda a possibilidade de uma segunda oferta de 550 milhões de ações.
• O efeito esperado é uma diluição relevante: analistas falam em cerca de 48% para os acionistas atuais, podendo ser maior se o lote adicional for integralmente colocado.
• O dinheiro levantado permitirá reduzir a alavancagem de 3,4–3,7× EBITDA para algo próximo de 1,5×, dando fôlego ao grupo.
• Parte das ações adquiridas ficará sob lock-up de até quatro anos, o que significa que não poderão ser vendidas nesse período.
E a Shell nessa história?
Aqui é onde muitos se confundem.
• A Shell não é sócia da Cosan.
• Ela é sócia da Raízen, ao lado da Cosan.
• Desde o IPO de 2021, a estrutura acionária da Raízen está assim: 41% Cosan, 41% Shell, 18% em free float (ações na bolsa).
Portanto, a Shell mantém sua participação intacta.
O que muda é o “vizinho de porteira”: o lado da Cosan, que antes era controlado apenas pelo grupo Ometto, agora terá a presença do BTG como sócio de peso.
Impactos práticos
Mesmo sem mexer na fatia da Shell, o estilo de gestão pode mudar:
• Nas usinas: mais eficiência, corte de custos, projetos só com retorno rápido.
• Na distribuição de combustíveis: foco em margem, disciplina de capital e menos espaço para apostas arriscadas.
• Para os profissionais: ambiente mais competitivo, metas claras e maior cobrança por performance.
• No mercado: o recado é direto — governança e disciplina voltam ao centro do palco.
O paralelo com outras empresas
Não é novidade ver bancos assumindo papel central em grandes grupos. Em setores como telecom, energia e varejo, o padrão se repete: capital entra, mas junto vem régua mais alta de governança e foco em retorno.
Com o BTG, é razoável esperar esse mesmo padrão.
O olhar do sábio mineiro
Quem olha apenas a diluição vê perda. Quem olha adiante enxerga um ajuste duro, mas necessário.
A Shell segue firme com seus 41%, mas agora divide a mesa com um parceiro que chega com régua e prumo.
Como diz o ditado da roça:
“Às vezes é preciso podar a árvore para que ela dê mais frutos.”
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.