As sobretaxas impostas pelo governo dos Estados Unidos a produtos brasileiros desde agosto já provocam impactos relevantes na balança comercial de Alagoas, especialmente na indústria sucroenergética. Segundo o presidente do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Etanol no Estado de Alagoas (Sindaçúcar-AL), Pedro Robério Nogueira, as medidas adotadas pelo governo norte-americano inviabilizaram a exportação de 80 mil toneladas de açúcar por ano, um volume que representa metade da cota preferencial brasileira destinada àquele país.
Essas cotas especiais de exportação, concedidas há mais de seis décadas a produtores do Norte e Nordeste, eram integralmente absorvidas pela produção alagoana. “As cotas preferenciais para os EUA totalizam 160 mil toneladas anuais, sendo 50% oriundas de Alagoas. Esse volume representa cerca de 15% das exportações totais de açúcar do estado, mas responde por 20% do valor exportado, girando em torno de US$ 28 milhões por ano”, explica Pedro Robério.
A perda do acesso preferencial ao mercado norte-americano ocorre em um momento de retração nas exportações para os Estados Unidos. Dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços mostram que, em agosto deste ano, as exportações alagoanas para os EUA somaram apenas US$ 115,2 mil, o equivalente a 0,5% do total exportado pelo estado. Em relação ao mesmo mês de 2024, a queda foi de 45,5%, com uma redução absoluta de US$ 96,1 mil.
Apesar da queda nas vendas para os EUA, o resultado global das exportações alagoanas em agosto foi positivo, puxado pelo desempenho do setor mineral. O estado registrou um crescimento de 262,7% nas exportações no mês, com movimentação de US$ 25,1 milhões. Esse crescimento foi impulsionado pela venda de minério de cobre para a Suíça, que respondeu por 95,6% da pauta exportadora no período.
Ainda assim, o açúcar segue como o carro-chefe das exportações alagoanas. No acumulado de 2025, os açúcares e melaços representam 74,4% da pauta estadual, seguidos pelos minérios de cobre (22,1%) e tabaco em bruto (1%).
Início da safra traz preocupações para produção de açúcar
A nova safra de cana-de-açúcar em Alagoas foi oficialmente iniciada no começo de setembro, mas o ritmo de moagem só deve se intensificar a partir da segunda quinzena do mês. A perspectiva para o ciclo 2025/2026, no entanto, é de redução no volume processado, conforme alertam produtores e técnicos do setor.
O motivo é o déficit hídrico registrado nos últimos meses, que resultou em canaviais com menor densidade, plantas mais curtas e perdas significativas em áreas de rebrota. Esses fatores devem impactar diretamente o volume total a ser colhido no estado, acendendo um sinal de alerta para a indústria.
Segundo o presidente da Associação dos Plantadores de Cana do Estado de Alagoas (Asplana), Edgar Antunes, o momento exige cautela. “A perspectiva é de uma safra bem difícil e com preços complicados. Ainda é cedo para termos um cenário real de como a moagem vai se comportar, mas a previsão inicial é de redução. Além de a cana estar mais curta em relação ao ciclo passado, também houve perda significativa em áreas de rebrota por conta de um verão rigoroso”, afirmou.
Segundo o boletim da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado em agosto, a produção de cana no Nordeste deverá alcançar 55,2 milhões de toneladas nesta safra, uma leve alta de 1,6% em relação ao ciclo anterior. O crescimento modesto é atribuído à recuperação parcial de áreas cultivadas em outros estados da região, mas não elimina os riscos enfrentados por Alagoas diante das adversidades climáticas e agora também comerciais.
Informações Jornal Movimento Econômico