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Planejamento técnico é o primeiro passo para o sucesso da irrigação por gotejamento na cana

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Especialistas destacam que diagnóstico, plano diretor e manejo adequado são fundamentais para garantir produtividade, eficiência e longevidade dos canaviais irrigados

O avanço da irrigação por gotejamento na cana-de-açúcar tem transformado a realidade produtiva de diversas regiões do Brasil. Antes concentrada no Nordeste, a tecnologia se consolida também no Centro-Sul, impulsionada pelas oscilações climáticas e pela necessidade das usinas de assegurar previsibilidade e estabilidade na produção. Mas, segundo especialistas da Netafim, o sucesso de qualquer projeto começa muito antes da instalação dos tubos: exige planejamento técnico e diagnóstico preciso.

“O setor acordou para a irrigação. Com o clima cada vez mais irregular, produtores e usinas perceberam que irrigar é um seguro de produção, uma forma de garantir contratos e reduzir ociosidade industrial”, afirmou Daniel Pedroso, engenheiro agrônomo e especialista agronômico sênior da Netafim, durante participação no DaCanaCast.

Segundo ele, o setor historicamente produzia no sequeiro, mas a instabilidade climática mudou o cenário. “Com a variação das chuvas e a queda de produtividade, a irrigação se tornou uma necessidade para manter rentabilidade e reduzir custos.”

Apesar da resistência inicial ao investimento, Pedroso destacou que esse paradigma vem caindo: “Havia o paradigma do payback, do quanto eu vou ter de retorno e em quanto tempo. Mas as usinas estão percebendo que aumentar produtividade é o caminho mais barato de produzir. E, mais importante, os resultados já estão comprovados.”

O crescimento dos projetos confirma essa confiança. “Antes, as usinas investiam em áreas pequenas, de 100 ou 200 hectares. Hoje vemos projetos de 800, 1.200, 1.500 hectares. Elas testaram, validaram o conceito e agora estão entrando de cabeça nisso”, destacou João Trosdorf, diretor de operações da Netafim.

Diagnóstico e planejamento

A pressa ainda leva a erros de gestão. Pedroso relatou um caso emblemático: “Uma usina do oeste paulista instalou irrigação em áreas distantes, a 40 km da indústria, e ainda em terras arrendadas. A produtividade aumentou, mas o custo de transporte foi altíssimo e, no fim, o dono da terra pediu a área de volta. A usina perdeu a tecnologia. Tudo isso por falta de planejamento.”

Para evitar esse tipo de problema, os especialistas reforçam a importância de um plano diretor de irrigação. “O plano diretor evita decisões improvisadas, facilita o processo regulatório e permite uma expansão racional. Ele ajuda a usina a decidir por onde começar, buscar financiamentos e prever etapas de licenciamento. Corrigir erros depois que o projeto está implantado é impraticável financeiramente”, afirmou Trosdorf.

O primeiro passo, completa Pedroso, é o diagnóstico técnico. “Fazemos um estudo edafoclimático e um balanço hídrico da região, analisando a relação entre precipitação e evapotranspiração. A partir disso, determinamos a lâmina de projeto, ou seja, a quantidade de água que será entregue ao canavial. Irrigar não é molhar — é aplicar água de forma precisa, quando e onde a planta precisa.”

O estudo do solo define espaçamento dos emissores e o mapa hidráulico da área. Além disso, a escolha da variedade influencia diretamente nos resultados. “Existem variedades que são mais responsivas, e esse conhecimento ainda está em evolução. Mas podemos citar algumas com bons resultados: a RB 579, desenvolvida no Nordeste; a IAC 95-5094; e a CTC4, que tem mostrado alta produtividade e longevidade sob irrigação”, explicou o agrônomo.

Custos, operação e tecnologias associadas

Essas decisões impactam diretamente a viabilidade econômica. Para Trosdorf, em muitos casos faz mais sentido irrigar áreas marginais do que as mais férteis, já que o ganho relativo pode ser maior.

O tempo médio entre o início do planejamento e a operação do sistema varia de quatro a seis meses, explicou Heverton Lima, gerente de PMO da Netafim. “A parte mais demorada costuma ser a liberação de energia e outorga, não a instalação. A execução em si é rápida, especialmente quando o cliente tem equipe dedicada.”

Ele também destacou a importância de envolver os operadores no processo. “Quando os operadores participam desde a instalação, conhecem o sistema e se tornam mais zelosos. Isso faz diferença na durabilidade e eficiência da operação.”

Hoje, praticamente todos os novos projetos incluem fertirrigação e automação. “Não faz sentido investir em irrigação e não aproveitar o sistema para aplicar fertilizantes e produtos biológicos. Isso reduz custos operacionais, elimina passagens de máquinas e aumenta a eficiência do uso de insumos”, disse Pedroso.

Segundo Trosdorf, a automação tem retorno rápido. “Essas tecnologias permitem otimizar o uso de energia elétrica e mão de obra. Em grandes áreas, o custo se dilui e o retorno é rápido. Hoje, praticamente todos os projetos acima de 500 hectares já nascem automatizados.”

Resultados em campo

Em áreas irrigadas por gotejamento e com fertirrigação adequada, os ganhos superam 30 toneladas por hectare em relação às áreas de sequeiro. Mesmo em anos chuvosos, as diferenças de produtividade se mantêm. “A chuva é concentrada, não regular. Então, mesmo em anos úmidos, a irrigação traz estabilidade e ganho de TCH”, explicou Pedroso.

A longevidade dos canaviais também surpreende. “A irrigação localizada tem mostrado longevidades acima de 12 anos. A Usina Coruripe, por exemplo, atingiu 18 anos, em Alagoas, e 23 anos em Minas Gerais, reformando apenas os tubos gotejadores e mantendo a estrutura hidráulica. Isso é um marco”, destacou o especialista.

Além disso, os custos de reforma entram na conta. “Uma reforma de canavial custa em média R$ 8 mil por hectare. Só a economia de uma reforma já cobre mais de 60% do investimento em irrigação — sem contar o aumento de produtividade.”

Para Heverton Lima, o segredo está no planejamento antecipado: “O ideal é que o projeto seja pensado com pelo menos um ano de antecedência. Isso garante previsibilidade de materiais, mão de obra e prazos — e evita decisões apressadas que comprometem o resultado.”

Segundo Trosdorf, o setor chegou a um ponto de virada: “As usinas do Centro-Sul estão conscientes da importância de irrigar. Há novos projetos, grandes grupos investindo e resultados comprovando que irrigação é produtividade, sustentabilidade e segurança para o futuro do setor.”

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