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Açúcar

A indústria global de açúcar deve passar por diversificação

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A percepção e a evidência da desaceleração de consumo de açúcar, muito mais pronunciada em algumas regiões do que outras como, por exemplo, em regiões na Europa, América do Norte e Austrália, são tendências que estão incentivando mais o interesse das empresas produtoras de açúcar em diversificação.

De acordo com um estudo realizado pelo Rabobank, há uma tendência do mercado global de açúcar continuar sendo importante, mas com uma expectativa de crescimento futuro sendo ajustada para baixo. De acordo com o analista do banco Andy Duff, existem empresas buscando crescer que estão percebendo que o açúcar vai entregar menos possibilidade de crescimento que dava há 10 anos atrás.

“A segunda tendência, especialmente durante e depois da Pandemia, é que temos um interesse maior, dentro dos entes da sociedade em geral, governos e empresas, em uma economia mais sustentável e mais focada em renováveis. E isso cria mais oportunidades no setor de energia, setor de produtos químicos etc. Isso abre muitas oportunidades”, disse em podcast do Rabobank.

Como nos últimos anos a situação financeira das empresas produtoras de açúcar tem sido melhores em termos de receita e lucro, elas têm  recursos para investir e estão ativamente buscando investimentos, segundo Duff. “A convergência dessas três tendências que estão levando a esse assunto de diversificação.”

Enquanto a indústria de cana-de-açúcar brasileira sempre foi diversificada, com produção de etanol, biogás e bioenergia, outras indústrias de açúcar do mundo são diferentes. “No setor de Beterraba não tem nada parecido. Quando olhamos no ambiente regulatório em várias regiões e indústrias, vemos que no Brasil temos sorte de ter um ambiente em que o etanol tem muito apoio, por conta de medidas como a mistura à gasolina e os carros flex, que criaram um mercado bom para o hidratado”, explica Duff.

O analista do Rabobank deu o exemplo do México, onde é basicamente proibido vender eletricidade na rede para as usinas, que não tem tido apoio e criação de políticas para desenvolver um mercado de biocombustíveis.

“A Índia é muito mais parecida ao Brasil. A exploração de energia sempre foi apoiada e muitas empresas de açúcar estão envolvidas nisso. E, recentemente, houve um estímulo para a produção de etanol, tanto a partir da cana como grãos. Então, a Índia está aumentando a diversificação”, disse Duff.

Bioplástico e produtos químicos renováveis fazem parte da diversificação

Com as iniciativas de eletrificação da frota em várias partes do mundo, projeções do Rabobank indicam que daqui dez anos, com eletrificação em massa, como nos EUA, países da Europa e lugares como a China, a indústria petroquímica está projetada para virar a maior usuária de petróleo, e isso está colocando essa indústria nos holofotes, no sentido que se destaca como uma indústria que ainda está muito dependente de combustíveis fósseis para fins de energia e também como matéria-prima para um leque de produtos.

De acordo com Duff, as empresas atuando nesse setor estão cientes disso e entendem que tem que mudar para uso de matérias-primas renováveis. “Existem muitas coisas já acontecendo, de empresas que estão migrando para esse modelo. Temos o exemplo do Brasil com a Braskem, que já virou a maior produtora de polietileno verde, mas isso é só um exemplo ao redor do mundo”, destacou.

Para o setor de açúcar e etanol ainda existem alguns dilemas a serem resolvidos. Segundo análise de Duff, é difícil ter um papel relevante em um negócio dessa natureza, porque existem outras matérias-primas que são aptas para a produção de produtos químicos renováveis.

“Nos EUA, por exemplo, já existem iniciativas usando amido de milho como matéria-prima para vários produtos químicos renováveis, assim como na Ásia. Ou seja,  já existe concorrência para o açúcar e o etanol como matéria-prima e isso acaba sendo uma batalha a respeito de custo relativo. Além disso, várias dessas empresas já estão olhando mais adiante. E na mesma maneira que no mercado de etanol, o etanol 2G sai mais barato do que commodities como milho e açúcar, essas empresas que estão desenvolvendo produtos químicos renováveis estão olhando isso também, então é outro aspecto de concorrência”, explica Duff.

Investimento em P&D

De acordo com o estudo feito pelo Rabobank, uma tendência para as indústrias agregarem valor para o futuro vai ser por meio da criação de tecnologia próprias. “Falamos com muitas usinas sobre estratégias de diversificação e muitas falaram de estabelecimento de parcerias com startups. Sabemos que empresas multinacionais conseguem ter departamento de pesquisa porque tem capacidade financeira, mas empresas de menor porte precisam ter parceiros para desenvolver novos produtos. No entanto, é preciso reconhecer que é impossível explorar todas as oportunidades que estação surgindo”, disse Duff.

Segundo ele, outra tendência tem sido estabelecer parcerias a longo da cadeia. “A compra de propriedade intelectual é uma opção e a compra de licenças também. O ponto é que para explorar as oportunidades fica cada vez mais claro que parceria e colaboração é essencial. Talvez agora não seja um padrão para a indústria, mas faz parte da percepção dessa mudança de mundo”, concluiu o analista do banco.

Natália Cherubin para RPAnews
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