Os preços do açúcar encerraram a sexta-feira (17) em baixa nos principais mercados internacionais. Em Londres, o contrato futuro registrou o menor nível em 4,25 anos no vencimento mais próximo, enquanto em Nova York a commodity se manteve acima da mínima de três semanas observada na última terça-feira.
O açúcar bruto com vencimento em março de 2026 recuou 0,3 centavos de dólar, ou 1,9%, para 15,50 centavos de dólar por libra-peso, acumulando queda de 3,7% na semana. Já o açúcar branco caiu 0,4%, sendo negociado a US$ 439 por tonelada.
Pressão de oferta global
As cotações seguem pressionadas pelas expectativas de forte oferta mundial. O BMI Group projetou, na segunda-feira, um excedente global de 10,5 milhões de toneladas (MMT) para 2025/26. Já a Covrig Analytics estimou, na última terça-feira, um superávit menor, de 4,1 MMT no mesmo período.
Nos últimos sete meses, os preços têm enfrentado trajetória de queda. O açúcar de NY chegou, no mês passado, ao menor patamar em 4,5 anos no contrato mais próximo (SBV25), reflexo principalmente da maior produção brasileira. Segundo a Unica, a produção de açúcar no Centro-Sul do Brasil avançou 10,8% na segunda quinzena de setembro, totalizando 3,137 milhões de toneladas. A proporção da cana destinada ao açúcar também aumentou, passando de 47,73% em 2024 para 51,17% em 2025. No acumulado até setembro da safra 2025/26, a produção soma 33,524 MMT, alta de 0,8% em relação ao mesmo período anterior.
Índia deve elevar produção
Além do Brasil, a Índia também contribui para o cenário de pressão sobre os preços. Chuvas de monções acima da média devem favorecer uma safra abundante. O Departamento Meteorológico do país informou que, em 30 de setembro, a precipitação acumulada chegou a 937,2 mm, 8% acima do normal e o maior volume dos últimos cinco anos.
A Federação Nacional de Fábricas Cooperativas de Açúcar projetou que a produção indiana cresça 19% em 2025/26, para 34,9 MMT, após uma forte retração de 17,5% em 2024/25, quando a produção caiu para 26,2 MMT — o menor nível em cinco anos, segundo a Associação Indiana de Usinas de Açúcar (ISMA).
Etanol ganha espaço no debate sobre o mix
Para o analista de mercado Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting, há um argumento sólido — e cada vez mais difícil de ignorar — de que a próxima safra deveria priorizar o etanol desde o primeiro até o último dia.
“Este exercício começou a ser debatido essa semana entre produtores e tradings e concordo com a tese. A lógica por trás dessa tese é pragmática. O etanol tem elasticidade de preço: quanto maior a oferta, maior a capacidade de conquistar mercado da gasolina, tanto no consumo interno quanto no comércio exterior. O aumento da produção pode pressionar os preços, é verdade, mas abre espaço para expandir o market share e consolidar a paridade de exportação do produto brasileiro”, disse.
Há ainda outro fator de peso, segundo ele. Os fundos especulativos continuam fortemente vendidos em Nova York, enquanto o nível de fixações das usinas para a próxima safra permanece reduzido (número da Archer é de 30-32%). “Caso o discurso pró-etanol ganhe corpo e o mercado interprete esse movimento como real, o açúcar tende a reagir — e não seria surpresa ver as cotações se aproximando novamente dos 20 centavos de dólar por libra-peso, ou até superando esse patamar”, disse Corrêa.
No entanto, segundo ele, é preciso reconhecer os limites. O etanol enfrenta um teto natural de preços, determinado pela paridade de 70% em relação à gasolina. E, com a expectativa de uma queda de 5% a 10% nos preços da gasolina, o potencial de margem no biocombustível fica mais restrito. O açúcar, ao contrário, não tem teto — e essa diferença pesa nas decisões de mix.
“Em última instância, o mix de produção é a única variável sob controle do produtor. Todo o restante — câmbio, petróleo, política tributária, comportamento dos fundos — está fora do alcance do setor. Uma decisão coordenada e consistente em torno do etanol pode gerar ganhos relevantes, inclusive em termos de percepção de mercado”, disse.
Mercado em turbulência
O momento é de turbulência. “O mercado de açúcar está em plena tempestade: fundos vendendo pesado, preços sem referência clara e usinas tentando manter o controle. É um voo às cegas, sem piloto automático”, avaliou em seu comentário semanal.
Corrêa lembra que a ausência de instrumentos confiáveis, como os relatórios do CFTC nos Estados Unidos, aumenta a incerteza sobre o tamanho das posições vendidas dos fundos. “O que se vê é um mercado vulnerável, e a falta de uma política consistente de gestão de risco no setor só amplia essa fragilidade”, afirmou.
Natália Cherubin com informações da Barchart