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Açúcar

Açúcar: mercado futuro tem grande volatilidade, mas volume fixado fica 30% acima da média mensal

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O mercado futuro de açúcar em NY sofreu uma semana de grande volatilidade. As cotações do vencimento maio/22 se aproximaram dos 20 centavos de dólar por libra-peso, mas surgiu forte onda de vendas que pressionava o mercado em direção novamente aos 19 centavos.

De acordo com Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting, a pressão de venda veio em parte das fixações do Brasil, mas também foi acompanhada por outras origens que aproveitaram os bons níveis de preço para travar sua rentabilidade. E a Índia é uma delas.

“Aliás, como terceiro maior consumidor de energia do planeta, a Índia importa mais de 80% do petróleo que consome. Esse período de turbulência na Europa de Leste elevou os gastos do país na importação e realçou sua vulnerabilidade energética preocupando o governo quanto a um eventual choque do petróleo. Evidentemente que a Índia vai procurar envidar esforços para acelerar a produção de etanol”, disse Corrêa, em seu artigo.

De acordo com um executivo do mercado de etanol, a guerra da Rússia escancarou a fragilidade dos países e revelou a necessidade de uma reordenação da matriz energética no mundo. “O etanol certamente vai ganhar destaque nesse rearranjo e o Brasil tem área e condições de crescer de maneira sustentável se houver pesado investimento no parque industrial e a imperiosa segurança jurídica para os investidores. Essa última é nosso calcanhar de Aquiles”, disse Corrêa.

Ainda de acordo com ele, é muito cedo para dizer o que acontecerá. Petróleo, grãos, trigo e Putin são componentes instáveis numa equação de múltiplas incógnitas. “O que parece ser consensual, pelo menos, é o retorno da inflação em nível mundial, pressionando os Bancos Centrais e elevarem os juros e deixando um flanco aberto para a estagflação (baixo crescimento, ou até mesmo recessão combinado com taxa de juros altas)”, comentou.

Petróleo e mercado de açúcar

Especificamente para as commodities, a elevação do preço do petróleo – que em um mês subiu 19% e no acumulado do ano está rondando os 45% vai acarretar em aumento no frete marítimo e na composição do basis, de acordo com Corrêa. Isto é, como os importadores de commodities vão pagar um frete mais caro para receber os produtos no destino esse adicional vai ter que ser compensado com o aumento no desconto que eles se propõem a oferecer aos vendedores. A menos que haja falta do produto.

“Em mercados com escassez, o importador engole seco e paga o frete, pois se não fizer assim fica sem o produto. Mas, em mercados cujo balanço da oferta e demanda mundial é equilibrado, que é o caso do açúcar, são os vendedores (usinas) que acabam pagando a conta. No entanto, as usinas já estão fixadas em 76.75% da safra 22/23 (veja abaixo), o que pode parecer – pelo menos a princípio – que esse ônus fica com os compradores (tradings, refinarias, importadores)”, disse.

Ainda de acordo com ele, tudo indica que o mercado de açúcar se moverá para o custo e carrego, consistindo em pressão maior nos vencimentos mais curtos fazendo com que estes fiquem mais baratos do que os vencimentos seguintes. Explicando melhor: juros altos inibem formação de estoques, inibem o consumo, assim os compradores tendem a postergar suas compras e os vendedores são forçados a dar descontos maiores para se livrar da mercadoria. Se a gente pensava que 2022 ia ser mais tranquilo que 2021, é melhor pensar de novo.

Fixação de açúcar das usinas

Falando sobre fixação das usinas, de acordo com a Archer Consulting,  em fevereiro 3,25 milhões de toneladas de açúcar foram fixadas pelas usinas ao preço médio de R$ 2,176 por tonelada FOB Santos. A bolsa de NY negociou 3,2 milhões de contratos futuros de açúcar durante o mês, 42% acima do volume do mês anterior e 30% acima da média mensal dos últimos doze meses.

O valor médio acumulado de fixação na safra 22/23 é de 16,90 centavos de dólar por libra-peso, sem prêmio de polarização, equivalentes a R$ 2,178 por tonelada FOB Santos, ou R$ 0,9479 por libra-peso, ambas incluindo o prêmio de polarização.

“Não dá para deixar de comentar a lambança promovida pelo governo federal. O presidente se empenhou, mas não conseguiu. Mas, nada garante que ele não vá tentar de novo.  É o vale tudo para tentar a reeleição e nada como lançar mão de um recurso inquestionavelmente ineficiente e várias vezes testado pela imensa maioria dos populistas ignaros que o antecederam: o congelamento do preço dos combustíveis. É um total contrassenso para quem se elegeu sob a égide do liberalismo”, afirmou Correia.

Se implementado, o congelamento poderia durar até três meses e, pelos cálculos preliminares da Archer Consulting, uma ação desastrosa como essa traria uma perda na receita das usinas de R$ 4 bilhões, apenas com o hidratado. “Não custa lembrar que quando o etanol bateu R$ 4,5600 o litro em outubro, houve movimentação dentro do governo (vinda sabe-se lá de onde, ironia minha) para que se diminuísse o percentual de etanol na mistura com a gasolina. O lobby contra o setor é bem eficiente. E, quando o setor abaixa a cabeça para não confrontar o governo diante de suas peripécias populistas, paga a conta. Mas, não paga sozinho”, diz Corrêa.

A conta da diferença entre o preço que a Petrobras paga pelo combustível importado e o preço menor que ela repassa às refinarias será bancada pelo Tesouro. E o dinheiro do Tesouro é aquele dos cidadãos pagadores de impostos, explica Corrêa.

“A estatal brasileira do petróleo, por conta dessa política, pode se colocar em risco de ser novamente processada (como no Petrolão) pela SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), agência independente que protege e regula o mercado acionário americano. Se a empresa for obrigada a ressarcir (como no Petrolão) se comprovada gestão temerária e danos causados aos acionistas. Adivinha quem vai pagar a conta? Nós, os contribuintes”, afirmou.

Com informações da Archer Consunting

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