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Açúcar

Açúcar: neurastenia coletiva

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O mercado de açúcar tem provocado em seus participantes com responsabilidade em resultados, enorme esgotamento físico por tantas modificações nos impostos dos combustíveis, dificultando a tomada de decisão; alterações no sono por não conseguir decidir se fixa ou não fixa, se vende ou não vende; dificuldade em relaxar porque Brasília é uma usina de más notícias; dificuldade de concentração, porque não sabe se o petróleo sobe ou cai; zumbidos no ouvido e tonturas, pelo verdadeiro passeio de montanha russa que tem se caracterizado esse mercado de NY; ansiedade e depressão. Uma neurastenia coletiva.

Esta semana foi prova cabal desse comportamento neurastênico. NY, na segunda-feira, bateu 19.59 centavos de dólar por libra-peso levando a narrativa para falta de produto, aumento do déficit, entre outros. Na sexta-feira, o mercado negociou a 17.87 centavos de dólar por libra-peso, fechando nesse nível com 138 pontos de baixa em relação à semana anterior, mais de 30 dólares por tonelada.

O real se desvalorizou 1.64% perante o dólar americano e encerrou a semana a R$ 5,4987. Os preços equivalentes em reais encolheram R$ 128 por tonelada para a safra 22/23; R$ 81 para a safra 23/24 e apenas R$ 13 para a safra 24/25. Os fundos, depois de estarem comprados, virarem a mão para vendidos e de novo retornarem para comprados, pelo número publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, com base na posição de terça-feira passada, dado o derretimento do mercado de açúcar, podem ter voltado a ficar vendidos novamente. Haja mau humor.

Açúcar e grãos lideraram as quedas das commodities na semana, com média de 7% de retração. Quanto vale o etanol? Nas semanas que se seguiram ao imbróglio federal que reduziu as alíquotas, ninguém sabia qual preço ofertar. Houve inclusive dúvidas em relação às alíquotas a serem aplicadas a produtos que já haviam sido despachados pelas usinas.

O que pode ter provocado a queda do açúcar na semana? Os fundos metendo os pés pelas mãos e liquidando suas posições. A Petrobras reduzindo o preço da gasolina. A Índia anunciando 500 mil toneladas a mais destinadas à exportação. O acordo Rússia e Ucrânia para o embarque de grãos represados nos portos que pode pesar sobre as commodities agrícolas e energéticas. É bom frisar que posição de contratos em aberto do açúcar em NY continua minguando, atingindo agora 697,000 contratos apenas, mais suscetível portanto a espasmos. O mercado tem razoável chance de continuar a cair.

Segundo estimativa da Associação Indiana de Usinas de Açúcar, principal entidade açucareira daquele país, a área total de cana-de-açúcar deve crescer 4% em relação à safra passada. Também estimam que no próximo ano (começando em outubro/22) a meta de 12% de mistura do etanol na gasolina será alcançada com o pais produzindo 5.45 bilhões de litros de etanol.

A terceira estimativa do volume de fixação de preços das usinas dos açúcares destinados à exportação para a safra 23/24 apurou que no mês de junho/22 houve uma aceleração nas fixações de preço. Verificamos que no mês foram fixadas 1,128,000 toneladas de açúcar ao preço médio equivalente a R$ 2,296 por tonelada FOB. Assim, até o final de junho de 2022, o total acumulado de fixações para a safra 23/24 estava em 5.76 milhões de toneladas de açúcar ao preço médio de 17.51 centavos de dólar por libra-peso sem prêmio de polarização, equivalentes a um percentual de fixação de 24.0 % do volume estimado de exportação para a safra 23/24. A fixação média corresponde R$ 2,221 por tonelada FOB Santos, com prêmio de polarização. Ela equivale a 96,69 centavos de reais por libra peso, com polarização.

Uma história sensacional que correu nas mídias sociais esta semana, vale a pena ser repetida aqui. Ela exemplifica o processo que determina o valor justo de um ativo, nem sempre uma função simples, pois depende de uma variedade de fatores tangíveis e intangíveis.

Diz a lenda que o famoso joalheiro Charles Lewis Tiffany sabia que John Pierpont Morgan tinha especial afinidade por alfinete de gravata. Um belo dia, o Sr. Tiffany encontrou um de diamante, particularmente incomum e extraordinariamente bonito. Como era o costume naquele tempo, antes de 1900, ele enviou um mensageiro ao escritório do Sr. Morgan com o alfinete elegantemente embrulhado em uma caixa com o seguinte bilhete: “Meu caro Sr. Morgan. Conhecendo seu gosto excepcional em alfinetes de gravata, envio esta peça rara e requintada para sua consideração. Devido à sua raridade, o preço é de US$ 5.000. Se você optar por aceitá-lo, por favor, envie um mensageiro ao meu escritório amanhã com seu cheque de US$ 5.000. Se você optar por não aceitar, você pode enviar seu mensageiro de volta com o alfinete.”

No dia seguinte, um mensageiro do Sr. Morgan chegou à Tiffany’s com a mesma caixa em um novo embrulho e um envelope diferente. Nesse envelope havia um bilhete que dizia: “Caro Sr. Tiffany, o pino é realmente magnífico. No entanto, o preço de US$ 5.000 é um pouco exagerado. Assim, anexo um cheque de US$ 4.000. Se você aceitar, por favor mande meu mensageiro de volta com a caixa. Se não, devolva o cheque e ele deixará a caixa com você.”

Tiffany olhou para o cheque por vários minutos. Era realmente muito dinheiro. No entanto, ele tinha certeza de que o broche valia os US$ 5.000 pedidos. Finalmente, ele disse ao mensageiro: “Você pode devolver o cheque ao Sr. Morgan. Meu preço é firme.” E assim, o mensageiro pegou o cheque de volta e colocou a caixa embrulhada para presente na mesa do Sr. Tiffany. Tiffany sentou-se por um minuto pensando no cheque que ele havia devolvido. Então ele desembrulhou a caixa para remover o alfinete.

Ao abrir a caixa, encontrou – não o alfinete –, mas um cheque do Sr. Morgan no valor de US$ 5.000 e uma nota com uma única frase – “apenas checando o preço”.

*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting

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