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Opinião

Agronegócio deve estar atento aos riscos na armazenagem de grãos

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou em 10 de agosto, através do Levantamento Sistemático de Produção Agrícola (LSPA), as estimativas de produção de soja para 2023. O montante esperado de 148,8 milhões de toneladas representa um crescimento de 24% quando comparamos com os números de 2022. Com isso, mesmo com os desafios climáticos enfrentados no estado do Rio Grande do Sul, teremos esse ano uma nova safra recorde.

Também podemos observar que a comercialização antecipada da safra 2022/2023 está atrasada em relação aos anos anteriores, fazendo com que haja uma maior disponibilidade de grãos no mercado. Os números mostram que até abril deste ano, apenas 30% do volume de grãos foram negociados, enquanto historicamente temos uma média de 45% para o mesmo período.
Esse aumento de produtividade e disponibilidade do grão, adicionados a uma valorização do Real frente ao Dólar, impactam diretamente no preço da soja, fazendo com que haja uma queda no preço da commodity. De acordo com dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Universidade de São Paulo (CEPEA/USP), a cotação da saca de 60 quilos de soja no Porto de Paranaguá em junho de 2022 chegou a R$ 187,18 e de acordo com a cotação atual, para agosto de 2023, o valor da saca está em R$ 148,11, representando uma queda de 20,8%.

Nesse cenário, somado ao aumento nos custos dos insumos, podemos dizer que o produtor está enfrentando uma tempestade perfeita, onde uma possível alternativa é segurar a venda dos grãos, reduzindo a oferta em uma tentativa de estabilizar os preços aos patamares anteriores.

Com o consequente aumento dos estoques, as empresas do setor devem redobrar a atenção no momento da cotação e negociação do seguro, especialmente em relação aos valores máximos de armazenagem de mercadorias em suas plantas previstos na apólice. Caso o valor declarado na ocasião da contratação conste abaixo do real, na hipótese de sinistro, e com a comprovação de que o valor declarado estava incorreto, o segurado poderá sofrer uma penalização na indenização, proporcional ao montante que excedeu o valor máximo estipulado no contrato de seguro. Por isso, identificando a discrepância na safra, o segurado deverá rever os valores declarados para não correr o risco de ser penalizado.

Outro ponto que vale ressaltar é o desafio para implementar a estratégia de armazenar o grão. Atualmente o Brasil enfrenta um colapso em sua infraestrutura. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), o déficit de capacidade estática de armazenagem de grãos deve ultrapassar 118 milhões de toneladas para essa safra. Com isso, muitas empresas adotam medidas alternativas para armazenar seus grãos, como, por exemplo, a utilização de armazéns de vinilona, os chamados silo-bags. Devido ao baixo custo de investimento e operacional, e também a capacidade de conservar o grão por até 18 meses, acaba se tornando uma alternativa viável para os produtores.

Porém, deve-se atentar novamente para a sua apólice. Armazéns de vinilona possuem alto risco de incêndio, devido ao tipo de material combustível que é construído, e também a dificuldade do controle de umidade que a soja requer. Com isso, trata-se de um risco excluído em grande parte das apólices de seguro, necessitando uma negociação especial para a inclusão dessa cobertura. Muitas vezes, o departamento responsável pela negociação do seguro na empresa está distante do que acontece no campo e não é informado sobre a utilização dos silo-bags e, em caso de eventuais sinistros, caso não tenha sido negociado, o segurado poderá ter sua indenização negada.

Podemos concluir que, com todos os desafios que o mercado do agro enfrenta, é extremamente importante que haja uma comunicação clara da estratégia corporativa com todas as áreas da empresa, fazendo com que potenciais novas exposições sejam mapeadas e tratadas antes que um eventual sinistro ocorra, fazendo que a transferência do risco através do seguro seja eficiente.

 

*Paulo Vitor Rodrigues é responsável pela vertical de agronegócios, alimentos e bebidas da Aon para a América Latina

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