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[Opinião] Apesar de historicamente doloroso, tem sentido o fechamento da Usina Santa Elisa pela Raízen

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Imagine um negócio. Seja comércio, varejo ou indústria. Em qualquer segmento. E esse negócio tem várias “lojas, filiais ou fábricas”. E esse negócio passa por uma crise e suas dívidas aumentam. Você, como dono, por óbvio, precisa tomar decisões. Buscar ineficiências econômicas e atacá-las. Eventualmente, até fechar uma delas.

Analisando, você identifica uma delas em que o “aluguel” e a “compra da matéria-prima” estão inflacionados. É uma questão de contexto competitivo, não de competência. Existem muitos concorrentes ao seu redor. É a região “berço” do seu negócio. Com isso, você precisa ir buscar fornecedores mais longe, o que pressiona ainda mais seus custos de produção. E ainda assim não consegue atingir seu potencial, de modo que o seu negócio trabalha com 50% de sua capacidade.

Eu não sei em que negócio você pensou. De qual setor ou segmento é. Mas, esse é justamente o cenário da unidade Santa Elisa do Grupo Raízen.

Sertãozinho (SP), local da unidade, é uma das regiões mais caras para se produzir cana e, consequentemente, açúcar e etanol. Faz parte do eixo “PRETO” sucroenergético. Delimitado, a grosso modo, pelas regiões de Ribeirão PRETO e São José do Rio PRETO. Um polo de produção que concentra muitas usinas e, por óbvio, tem matéria-prima/terras limitadas. No setor da cana, é a expressão mais nítida da clássica e universal relação econômica de oferta e demanda. Resultado: preços mais elevados e competitividade espremida.

Neste eixo “Preto”, é comum valores de arrendamento acima de R$ 4 mil por hectare/ano, enquanto a média do centro-sul canavieiro, de acordo com o Pecege Consultoria e Projetos, gira em torno de R$ 2,5 mil por hectare/ano. Portanto, 60% acima da média.

Os valores negociados pela matéria-prima seguem a mesma linha de raciocínio, com sobrepreços que alcançam 30-40% em relação ao mercado. Ainda que esse seja um indicador difícil de acompanhar. Inclusive, a presença de cana spot é uma das características dessa região. É praticamente um “leilão de cana”, especialmente, em safras de menor produção (como a atual, 25/26).

Outro efeito colateral dessa pressão por cana é o aumento do raio médio. Com canas próximas mais caras e nem sempre disponíveis, o jeito é captar matéria-prima mais longe. O efeito, mais ou menos impactante, é o mesmo: aumento dos custos e pressão das margens da atividade.

No fim, não tem cana pra todo mundo. Evidência disso é a capacidade industrial da Santa Elisa ser de 7 milhões de toneladas e a negociação da área agrícola ser de “até 3,6 milhões de toneladas” (comunicado oficial). Isso releva uma ociosidade do ativo de 50%. E uma usina sem cana, é uma usina cara.

Ainda que o o contexto aponte para que não, espero que essa paralisação seja temporária. Realmente, é um fim triste para uma das joias pioneiras do setor. Mas, como diria minha mãe: vão se os anéis, ficam se os dedos. Por mais difícil que seja.

 

*João Rosa, o Botão, é sócio-diretor do Pecege Consultoria e Projetos e apresentador dos programas “Chupa Cana Show” e “Cana para não agrônomos”

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