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Aquisição bilionária coloca rating da Adecoagro sob pressão, segundo S&P Global

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Foto Ilustrativa: Crédito: Adecoagro/Ivinhema
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No último dia 10 de setembro, a agência de classificação de risco S&P Global colocou o rating corporativo global ‘BB’ da Adecoagro S.A. em CreditWatch com implicações negativas. A decisão foi tomada após o anúncio da compra de 40% da Profertil S.A., maior produtora de ureia da América do Sul, em uma operação avaliada em US$ 600 milhões.

Segundo a S&P, embora a aquisição represente uma estratégia relevante de verticalização e diversificação, a forma de financiamento da transação — com até US$ 480 milhões via dívida — deve pressionar a alavancagem da companhia para níveis superiores a 3,5x até o fim de 2025, partindo de 2,6x em junho. Para 2026, a expectativa é que o indicador permaneça acima de 2,5x.

Outro ponto de preocupação para a agência é o aumento da exposição da companhia ao risco argentino. Com a incorporação da Profertil, a Argentina pode passar a responder por até 35% do EBITDA consolidado da Adecoagro, ante 20% atualmente. Isso eleva a sensibilidade ao risco soberano argentino, sobretudo diante de um cenário de instabilidade política e restrições cambiais. A S&P poderá inclusive aplicar testes adicionais de transferibilidade e convertibilidade (T&C), considerando o rating soberano da Argentina em moeda estrangeira, atualmente CCC/Estável/C.

Além dos riscos operacionais e geopolíticos, a S&P também destacou a compressão de margens como fator de preocupação. A agência projeta um EBITDA de US$ 415 milhões para 2025, com margem de 28,2%, inferior aos US$ 569 milhões e 37,5% registrados em 2024. Essa queda reflete o ambiente menos favorável para preços agrícolas e custos operacionais crescentes.

Por fim, a agência observa com cautela a recente aquisição de 72% do capital da companhia pela Tether Investments, que ainda não tem histórico de atuação no setor. Embora a governança da Adecoagro não tenha sido reavaliada até o momento, a incerteza sobre a política financeira da nova controladora adiciona um elemento de risco à análise.

Controlada no Brasil mostra resiliência, mas com margens menores

Em relatório recente sobre o segundo trimestre de 2025, os especialistas da XP Investimentos — Camilla Dolle (Head de Renda Fixa), Mayara Rodrigues e Luiz Ferreira (Analistas de Renda Fixa) — destacaram o desempenho da Adecoagro Vale do Ivinhema (VDI), controlada brasileira da companhia, responsável pelas usinas Angélica e Ivinhema (MS), além da usina Monte Alegre (MG).

A controlada registrou crescimento de 16% na receita líquida no segundo trimestre de 2025, totalizando R$ 1,037 bilhão. O principal motor foi o aumento nas vendas de etanol hidratado, com alta de 19,3% em volume e receita, que compensou a queda de 5,2% nos preços do açúcar VHP. A receita com CBIOs também teve impacto positivo, com alta de 15,3% ano a ano.

Por outro lado, os analistas da XP ressaltam que a produtividade agrícola foi prejudicada por fatores climáticos, com queda de 13,5% na moagem de cana e redução de 5,8% no TCH, que ficou em 73 t/ha. O ATR médio foi de 123 kg/ton, uma baixa de 3,8%. O mix de produção foi equilibrado (50% açúcar e 50% etanol), com ênfase no etanol hidratado por sua maior atratividade no mercado interno.

Apesar do crescimento da receita, a margem EBITDA ajustada do segmento de açúcar, etanol e energia caiu para 36,6%, bem abaixo dos 61,6% no 2T24. O recuo é atribuído a perdas com hedge de commodities, marcação a mercado de ativos biológicos e aumento no custo unitário de produção, devido à menor diluição dos custos fixos.

O lucro líquido ajustado foi de R$ 30 milhões no trimestre, mas ainda há um resultado acumulado negativo de R$ 6 milhões no semestre, reflexo do ambiente operacional mais pressionado e do aumento nas despesas financeiras.

Por outro lado, o desempenho financeiro teve pontos positivos. A geração de caixa operacional foi robusta: R$ 569 milhões no semestre, favorecida pela liberação de capital de giro (estoques). O capex caiu de R$ 709 milhões para R$ 654 milhões. A dívida líquida da unidade estável em R$ 2,9 bilhões, com alavancagem de 1,4x EBITDA UDM, bem abaixo do limite estabelecido em covenant (4,0x).

Os analistas da XP alertam que um rebaixamento múltiplo poderá ocorrer pela S&P, caso a aquisição da Profertil seja concluída com financiamento integral por dívida, deteriorando a liquidez fora da Argentina. A resolução do CreditWatch dependerá de três fatores:

  • a estrutura final da operação,

  • o desempenho operacional da companhia,

  • e a política financeira adotada pela nova controladora.

“Com margens pressionadas, exposição geopolítica crescente e governança sob observação, a Adecoagro entra em um ciclo desafiador, em que decisões estratégicas serão decisivas para manter sua estabilidade financeira e reputação de mercado”, afirmaram os especialistas da XP Investimentos em relatório.

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