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Conjuntura

Artigo: O Brasil não vai acabar

Publicado

em

*Por Arnaldo Luiz Correa

Winston Churchill foi um dos maiores estadistas da história, eleito o maior britânico de todos os tempos e um dos grandes responsáveis pela derrota de Hitler na II Guerra Mundial. Churchill era dono de um humor inteligente e ácido e de tiradas no mínimo espirituosas, além de um grande apreciador de charutos degustados com doses de Red Label. Uma de suas frases lapidares é que “a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela”.

Muitos eleitores estão frustrados com a derrota do presidente Jair Bolsonaro. Tratam o revés sofrido pelo principal mandatário do País como uma decisão de campeonato em que seu time perdeu nos pênaltis. As redes sociais foram invadidas por toda a sorte de obtusos fazendo delas um campo fértil em que as pessoas trocam impropérios entre si, terminam amizades de longos anos e se indispõem com membros da família porque o candidato deles é diferente do seu.

Cada cidadão veste a camisa que representa as cores do seu candidato tal como os cavaleiros na Idade Média vestiam armaduras para as batalhas sangrentas. Instituiu-se uma guerra santa em que os oponentes são tratados como inimigos a serem eliminados apenas porque não acreditam no mesmo Deus, ou tem visões progressistas acerca das diferentes formas de afetividade humana, ou ainda, entendem que compete à mulher decidir o que faz com o próprio corpo.

Cada um desses obstinados pugnadores de cada lado da cerca imaginária em que a sociedade brasileira foi dividida incorpora o monopólio do saber. O oponente que ousa não concordar com a cartilha daquele círculo de pessoas é tratado como meliante, inepto e outros adjetivos menos publicáveis.

Nada se aproveita dessas infindáveis contendas pois, como se sabe, a grosseria, a intolerância e a desumanidade são incapazes de produzir uma única ideia de valor passível de tirar o Brasil do atoleiro. Em nada adianta postar uma imagem de luto nas redes sociais ou dizer que vai embora do País se o seu candidato não venceu. São atitudes que não vão contribuir para a regeneração da sociedade e denotam imaturidade na convivência com a democracia. Churchill resumiu bem: a democracia é intolerável quando o meu candidato não ganha. Mas, a alternativa a ela é muito pior.

Lula foi eleito pela maioria. Se o processo penal a ele atribuído foi cancelado a culpa indiretamente é nossa como sociedade. Ah, mas foi o Supremo que deixou. Então demonizemos o Supremo? Temos que refletir que se algum juiz foi eleito para o Supremo, antes disso ele teve que ser sabatinado e aprovado pelo Senado. Portanto, o Senado – escolhido por nós – tem que ser obrigatoriamente o filtro para que gente incompetente não chegue ao pretório excelso. Se as leis são fracas, pressione seu deputado.

Não tivesse o Brasil uma pletora de incompetentes eleitos para o Congresso, em sua maioria preocupados com o próprio umbigo, leis seriam feitas para reforçar o sistema de freios e contrapesos que consiste no controle do poder pelo próprio poder como diz Montesquieu, na sua obra “O Espírito das leis”.

Lula foi eleito, mas vai enfrentar um Congresso com maioria de centro-direita. Vai demandar do futuro mandatário uma enorme capacidade de negociação para aprovar seus projetos de leis e eventuais reformas administrativas, tributárias, trabalhistas e políticas. Vai ter que defenestrar a cartilha anacrônica do PT. Não vai ter vida fácil. Vai pagar triplicado pela sua falta de lealdade com FHC em seu primeiro mandato em 2002 quando recebeu um País arrumado que chamou de “herança maldita”. Que ele não se aventure em novos malfeitos. A sociedade está mais atenta hoje do que há vinte anos.

Terminada a eleição é hora de fiscalizar. Cada eleitor tem que cobrar os congressistas que elegeu, procurando no site do Congresso o telefone ou e-mail do seu representante. Pode, adicionalmente, acionar as sociedades e entidades de representação, usando a mesma energia desperdiçada nas discussões inócuas nos grupos de WhatsApp para exigir que as demandas da sociedade sejam discutidas pelos políticos.

Esqueçamos o “luto” e as lamentações. O Brasil não vai acabar. Ainda pedindo emprestado de Churchill, “Que nós nos unamos para cumprir nosso dever”. E, uma perfeita para esse momento, “o sucesso consiste em ir de fracasso em fracasso sem perder o entusiasmo”. Levantemos a cabeça e vamos lutar para um Brasil melhor com as armas que temos: a nossa democracia.

*Arnaldo Luiz Correa é consultor, palestrante, técnico para arbitragens e professor de gestão de risco em commodities agrícolas e diretor da Archer Consuliting

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