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[Artigo] O mercado não espera a gente voltar do almoço

Após duas temporadas consecutivas de superávit mundial de açúcar, a safra 2019/20 pode registrar déficit.
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O desempenho do contrato futuro de açúcar em NY nesta semana mostrou uma vez mais que, independentemente da narrativa ilusória que se queira impingir ao mercado e seus participantes, no final, os fundamentos prevalecem aos devaneios e aos artificialismos. Às vezes demoram, mas resistem.

A Índia tem sido o principal protagonista quando o assunto é chacoalhar o mercado. Mesmo com uma safra que se iniciou há algumas poucas semanas, notícias atingiram o mercado dando conta de que uma quebra de 7% já era esperada. Não faz nenhum sentido esse tipo de observação no início de uma safra. O mesmo ocorre aqui no Centro-Sul, quantas vezes vimos safras que nas três primeiras quinzenas tiveram um desempenho pífio (vide a safra 15/16) e terminaram com volume muito bom; e o inverso também é verdadeiro, começaram muito e bem e depois minguaram (vide a 2018/19).

A narrativa, no entanto, ajuda a posição comprada dos fundos não-indexados que continuam muito long (comprados) com 162,200 lotes, segundo o COT (Commitment Of Trades), relatório dos comitentes, publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), agência independente do governo dos Estados Unidos, que regula os mercados de futuros e opções das commodities, com base na posição da última terça-feira.

NY encerrou a sexta-feira como vencimento março/23 cotado a 20.09 centavos de dólar por libra-peso, uma alta de 49 pontos (10.90 dólares por tonelada) em relação ao fechamento da semana anterior. Os contratos de maio/23 até outubro/24 fecharam todos em território positivo entre 9 e 36 pontos (de 2 a 8 dólares por tonelada). Com o real se desvalorizando ligeiramente frente ao dólar americano (fechou @ R$ 5,2970), os valores do açúcar apreciaram 33 reais por tonelada para os vencimentos da safra 23/24 (maio/março) e apenas 14 reais por tonelada para a safra seguinte.

As usinas do Centro-Sul têm aproveitado os bons preços negociados em NY e aceleraram nas fixações de açúcar para a safra 23/24 nas últimas semanas. Ainda bem que estão fazendo isso, pois os exportadores indianos, coma rúpia mais desvalorizada em relação ao dólar, certamente não vão deixar passar essa oportunidade. Nós estimamos o custo de produção de açúcar bruto indiano em 18.50 centavos de dólar por libra-peso.

De acordo com nosso modelo, até o dia 30 de novembro de 2022, o volume total de fixações de açúcar para exportação para a safra 23/24 por parte das usinas brasileiras alcançou 14.6 milhões de toneladas de açúcar ao preço médio de 17.27 centavos de dólar por libra-peso sem prêmio de polarização, equivalentes a um percentual de fixação de 61.0 % do volume estimado de exportação para a safra 23/24. A fixação média corresponde a R$ 2,225 por tonelada FOB Santos, com prêmio de polarização, equivalentes a 96,85 centavos de reais por libra peso, com polarização.

Analisando a curva de preços de NY convertida em reais por tonelada, desde 2004, e ajustada pela inflação mostra que o valor médio acima (de R$ 2,225) superou os fechamentos diários de NY ao longo desses mais de 18 anos, em apenas 25% das vezes.

Prepare-se para 2023. Será um ano que vai demandar atenção redobrada na gestão de risco, na redução de custos fixos e nas margens que prometem ser reduzidas. Observe que o volume de contratos negociados na bolsa de NY por dois anos seguidos tem estado de 16% e 19% abaixo do volume médio negociado no triênio 2018-2020. Essa extraordinária queda indica menor giro das tradings e consequentemente menor ajuste do Trading book. Isso normalmente reflete no binômio a) maior necessidade de capital de giro para mantem a máquina rodando e b) seletividade na escolha do parceiro comercial, que por sua vez implica na redução de margem considerando que mais competidores estarão disputando os melhores clientes. A alternativa a essa estratégia é aumentar o risco ou buscar mais dinheiro no mercado para recompor a perda de receita devido ao menor giro. Os principais players, com certeza, serão mais seletivos.

E, como num processo Darwiniano, a seleção natural vai impor duros reveses àquelas empresas que estão no último quartil de seu segmento, aquelas que estão basicamente respirando por aparelhos. O processo de consolidação no setor está apenas começando e vai levar uma década, pelo menos.

A verdade nua e crua é que essas empresas sem governança, sem estratégia, sem profissionalismo, iludidas ao suporem que podem navegar em mares revoltos sem foco, sem bússola, sem disciplina e sem conhecimento, vão jogar o barco contra as rochas. Se não se afogarem, vão pedir ajuda aos pajés de plantão que vendem conselhos em troca de poções mágicas com gosto amargo e preços idem. E o ciclo se encerra.

É necessário impor maior agilidade ao processo decisório dentro da empresa, em especial na área comercial. Tenho visto diuturnamente empresas de várias commodities perderem oportunidades de ouro no mercado futuro e de opções, seja na fixação da matéria prima, ou na fixação de venda, ou no aproveitamento de distorções via spreads, arbitragens, entre outras porque a operação “precisa do aval” do Conselho ou de seja lá de qual alçada. Inacreditável que isso ainda ocorra. Todos precisam ter a consciência de que o mercado não espera a gente voltar do almoço. Uma boa oportunidade perdida pode custar o ano comercial. Capacitar pessoas é o nome do jogo e para isso, não pode haver corte de custos. Boa sorte a todos.

 

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting

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