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Benefícios com projetos de captura de carbono na bioenergia podem superar desafios, diz BCG

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O alto investimento inicial e a falta de políticas de estímulo ainda limitam o desenvolvimento de projetos de bioenergia associados à captura e ao armazenamento de carbono (BECCS, na sigla em inglês) no Brasil, a despeito do grande potencial do país.

No entanto, estudo do Boston Consulting Group (BCG) aponta que os benefícios dessa tecnologia superam as dificuldades existentes, com perspectiva de geração de receitas atraentes para as empresas.

“Esses projetos de BECCS estão ganhando muita relevância no mundo, porque o pessoal se deu conta de que precisamos procurar fontes de crédito de carbono, e essa fonte existe, é até um pouco óbvia, mas estava um pouco escondida”, diz o diretor executivo e sócio do BCG, Ricardo Pierozzi, ao Broadcast Energia.

O investimento inicial em projetos de BECCS é elevado: entre US$ 100 milhões a US$ 1 bilhão, a serem destinados a instalações industriais e processos relacionados ao armazenamento do CO2 em definitivo. No entanto, o valor que vem sendo atribuído aos créditos de carbono gerados por essa tecnologia no exterior alimenta o otimismo sobre sua viabilidade econômica.

Segundo Pierozzi, por ser um crédito considerado mais nobre, os poucos projetos que hoje existentes têm conseguido valores de US$ 200 a US$ 300 por tonelada de CO2 equivalente, montante superior ao atribuído a créditos gerados por projetos florestais, seja de reflorestamento, seja de preservação. “Esses projetos são mais caros de fazer, ao mesmo tempo, tendem a receber uma contrapartida de um valor mais alto, que os viabiliza”, diz.

Por outro lado, o executivo lembra que nos Estados Unidos e na Europa, dentro dos programas de subsídios e políticas públicas que foram criados para apoiar a transição energética, foram desenhados incentivos específicos que abrangem BECCS, propiciando fontes de financiamento e outros estímulos, o que também contribui para fomentar o desenvolvimento de projetos nesses mercados.

No Brasil, no entanto, ainda não há discussão madura nesse sentido. Para Pierozzi, é isso que falta para a tecnologia deslanchar no país. Ele defende alguma política específica ao produtor (como acesso a crédito, como ocorre nos EUA) ou à demanda (que estimula o consumo, como ocorre na Europa). O executivo também diz acreditar no impulso proveniente do esperado desenvolvimento do mercado de carbono, a partir da regulamentação hoje em discussão no Congresso Nacional.

Dentre os segmentos que mais se favoreceriam com a instalação de projetos de BECCS no Brasil estão o da produção de etanol – seja de milho, seja de cana de açúcar – e a indústria de papel e celulose. Nesses setores, a disponibilidade de biomassa é abundante e o processo produtivo integrado facilita a captura do carbono biogênico, que pode ser guardado definitivamente tanto na forma gasosa, em cavernas, quanto na forma sólida, que depende, porém, de processos mais complicados.

Por ora, a iniciativa mais conhecida é a da FS Bioenergia, maior produtora de etanol à base de milho do Brasil. Em 2021, a empresa anunciou um projeto de BECCS em Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso. Nesta semana, em meio ao anúncio da lei do Combustível do Futuro, a companhia divulgou a segunda fase de investimentos na iniciativa, de R$ 350 milhões, para a implantação da tecnologia, após ter investido inicialmente R$ 110 milhões em estudos técnicos e na perfuração de poços para comprovar a viabilidade geológica do armazenamento de CO2.

Dados da Agência Internacional de Energia (IEA) apontam que, até 2022, apenas 2 milhões de toneladas de CO2 eram capturadas anualmente a partir de fontes biogênicas. No entanto, considerando os projetos em fase inicial e mais avançadas de implementação, a entidade projeta uma expansão a 40 milhões de toneladas de CO2 capturadas anualmente por meio de projetos de BECCS até 2030.

A instituição contabilizou mais de 50 novas instalações envolvendo BECCS anunciadas, em diferentes aplicações, impulsionadas por compromissos de países e empresas em zerar suas emissões. “Esta década é super importante para esses projetos iniciais ganharem tamanho, comercialidade e escala, para mostrar que isso pode ser, de fato, um caminho relevante”, diz Pierozzi.

Ele cita estimativas da AIE que apontam que haveria espaço para os BECCS chegarem a uma capacidade de cerca de 200 milhões de CO2 capturados atualmente até 2050, quando o mundo almeja alcançar o NetZero.

Com informações da Agência Estado/Luciana Collet
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