O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu um financiamento de R$ 500 milhões à 3tentos depois do resgate de 563 trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão no canteiro de obras de uma usina de etanol de milho da companhia, em Porto Alegre do Norte (MT). A operação, considerada a maior do ano, foi conduzida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal.
Segundo divulgado pela Repórter Brasil, a construção era executada pela Tao Construtora, responsabilizada pelas condições impostas à mão de obra. Os trabalhadores viviam em alojamentos precários, sem água e energia, com banheiros sujos, quartos superlotados e ventilação insuficiente. Houve queixas sobre alimentação de baixa qualidade e registro de servidão por dívida e indícios de tráfico de pessoas. Revoltados, alguns trabalhadores chegaram a provocar um incêndio no canteiro.
Após questionamento da Repórter Brasil, o BNDES informou que notificou a 3tentos a prestar esclarecimentos e suspendeu os repasses “até que as informações sejam apuradas”. O Ministério do Meio Ambiente (MMA), responsável pelo Fundo Clima – que também financiava a obra –, confirmou a medida.
Em nota à Repórter Brasil, a 3tentos afirmou estar acompanhando o caso e avaliando “medidas cabíveis”, reforçando que “práticas que violem direitos humanos e trabalhistas são incompatíveis com os valores da companhia”. A Tao, por sua vez, atribuiu o incêndio a um “grupo isolado de trabalhadores” e negou envolvimento em práticas análogas à escravidão.
O contrato firmado em novembro de 2024 previa recursos para ampliar a produção da planta e construir uma usina de energia a partir de biomassa. A estimativa era que a unidade produzisse 935 mil litros de etanol de milho, 587 toneladas de grãos secos de destilaria e 37 toneladas de óleo de milho por dia. O custo total do projeto é de R$ 1,16 bilhão, com conclusão prevista para 2026.
Além desse aporte, a 3tentos já havia captado R$ 560,7 milhões por meio de debêntures verdes e recebeu, em anos anteriores, financiamentos de R$ 80,3 milhões para projetos no Rio Grande do Sul.
O BNDES e o Fundo Clima têm políticas socioambientais que preveem a exclusão de clientes e cancelamento de contratos em casos de trabalho escravo.