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Brasil pode liderar a produção de bioplásticos
Estudo indica que o protagonismo é possível com a fabricação do produto a partir da cana-de-açúcar em larga escala
O Brasil pode assumir uma posição de destaque na produção global de plásticos sustentáveis, aponta um estudo do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). O que pode viabilizar esse protagonismo é a fabricação de bioplásticos a partir de cana-de-açúcar em larga escala, aproveitando áreas degradadas para o cultivo da matéria-prima e promovendo benefícios ambientais, como a redução de emissões de carbono.
Segundo Thayse Hernandes, engenheira agrícola, pesquisadora do Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBR) e autora principal do estudo, o polietileno de base biológica (bioPE, na linguagem técnica) tem potencial para se tornar um material-chave na transição para uma economia de baixo carbono. “Especialmente quando consideramos o uso responsável de terras agrícolas e a promoção de cadeias de valor mais circulares.”
De acordo com o estudo, dos 35,6 milhões de hectares considerados possíveis para plantio de cana no Brasil, cerca de 3,55 milhões de hectares poderiam ser utilizados nessa substituição de tecnologia sem comprometer a biodiversidade, o que permitiria fabricar cerca de 38 milhões de toneladas anuais de bioplástico — o equivalente a 35% da demanda global atual por polietileno.
Para atender plenamente à demanda mundial até 2050, seria necessário ampliar a área para 22,2 milhões de hectares, o que, segundo o estudo, pode ser feito utilizando terras degradadas e sem necessidade de desmatamento de novas áreas.
Apesar das oportunidades, a implementação em larga escala da cadeia produtiva de bioplásticos no Brasil enfrenta desafios, segundo a pesquisadora. Hernandes explica que a produção de etanol de cana, principal insumo do bioPE, precisa ser realizada de forma sustentável. “Um dos grandes desafios é produzir essa matéria-prima de forma que o benefício da mitigação de emissões de gases de efeito estufa também traga outros benefícios ambientais ou que, ao menos, não traga maiores prejuízos em outras áreas de impacto.”
Atualmente, a produção de plástico representa entre 5% e 7% do consumo global de petróleo e cerca de 2% das emissões globais de gases do efeito estufa. Até 2050, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente projeta um salto para essa cadeia produtiva, que passaria a consumir 20% do petróleo e a responder por até 15% da emissão de carbono global.
Reciclagem eficiente
Além disso, o bioPE não é biodegradável, o que torna crucial o desenvolvimento de cadeias de reciclagem eficientes. “A reciclagem é essencial para que cadeias circulares sejam uma realidade. O processo para obtenção do bioPE demanda mais energia que o fóssil, devido à produção da cana e aos processos de produção e separação. Entretanto, esse gasto energético adicional não representa uma barreira para a produção em larga escala de bioPE, já que a integração de processos nas unidades de conversão, inclusive utilizando biomassa como combustível para geração de energia, tornam estas unidades de conversão autossuficientes”, afirma Hernandes.
Ela destaca ainda a importância de avançar em métodos de reciclagem química e biológica, capazes de preservar a qualidade do material e reduzir a necessidade de novos insumos.
A pesquisadora enfatiza ainda que o bioPE pode substituir completamente o plástico tradicional em diversas aplicações, já que possui as mesmas características do polietileno convencional.
“O processo de obtenção baseado em etanol mantém as mesmas propriedades do plástico de origem fóssil, podendo ser utilizado nas diversas aplicações usuais, como sacolas plásticas, embalagens, brinquedos, revestimentos e outros”, explica.