Agrícola
Canhões elétricos: mais segurança no combate a incêndios nas usinas
Tecnologia inédita automatiza a operação do canhão de água acoplado em caminhões bombeiro trazendo, além de segurança para o operador, mais agilidade no combate ao fogo
As usinas e produtores de cana vêm, ao longo dos últimos anos, evoluindo significativamente na operação de combate aos incêndios em suas áreas com a adoção de diversas tecnologias de última geração, que são capazes de prevenir e combater incêndios com muito mais rapidez e eficiência.
Hoje, por exemplo, as tecnologias vão desde o monitoramento por meio de câmeras com inteligência artificial até a automação dos canhões dos caminhões bombeiro, permitindo que toda a operação seja feita de dentro da cabine do veículo, trazendo mais segurança e também conforto à equipe que faz o combate do fogo.
A São Martinho, um dos mais importantes grupos sucroenergéticos do Brasil, conta com um robusto sistema estruturado e composto por várias tecnologias e inteligências que contribuem tanto no suporte às ações de prevenção quanto ao combate.
Dentre várias tecnologias, a companhia faz uso de um sistema de câmeras de longo alcance e alta resolução, que rastreiam todo o canavial e, através de inteligência artificial, fazem detecção automática dos focos de incêndio e, mediante triangulação entre as câmeras, fornece o local exato do fogo.
Segundo Idnei Dela Marta, gestor de Serviços Agrícolas da Unidade São Martinho, localizada em Pradópolis, SP, todos os caminhões de combate a incêndio são equipados com um rastreador que, através da visualização em tempo real, permite orientar a melhor logística nas emergências de incêndio.
“Os caminhões também são equipados com um sistema de três câmeras para monitoramento de fadiga e visualização do ambiente de combate; computador de bordo para alertas operacionais; tablets com imagens via satélite das fazendas e sua respectiva localização; sistema de comunicação via rádio com frequência exclusiva e um canhão eletrônico composto com quatro câmeras, que permite operar por meio de um joystick de dentro da cabine do caminhão”, destaca Dela Marta.
A São Martinho também inovou com o desenvolvimento (detentora da patente) de uma plataforma elevatória, mudando a localização do canhão eletrônico que era fixado na parte superior do tanque de água para a parte superior da cabine do caminhão. Essa alteração, segundo o gestor de Serviços Agrícolas da São Martinho, trouxe ganhos significativos no combate ao incêndio.
“Também temos uma Central de Monitoramento que opera 24 horas, em 365 dias no ano, conectada com os sistemas de previsão meteorológica – velocidade e direção do vento, temperatura, umidade do ar – para análise dos cenários e alertar sobre possíveis impactos nas próximas horas”, adiciona Dela Marta.
A BP Bunge tem a iniciativa Brigada 4.0, um amplo programa de prevenção e combate a incêndios estruturado sobre os pilares Prevenção Efetiva, Detecção Rápida, Combate Ágil e Ação Segura.
De acordo com Mario Sergio Salani Junior, gerente Corporativo de Mecanização Agrícola da BP Bunge, a companhia aposta em recursos tecnológicos voltados à detecção por meio de um sistema de monitoramento por satélite, que alerta sobre as condições climáticas favoráveis para o aumento da propagação de focos de fogo, além da utilização de câmeras de alta definição em torres de observação localizadas em pontos estratégicos para detecção rápida de incêndios. Tudo isso monitorado de forma online pela Central de Incêndios Agrícola.
As unidades de Moema (SP), Guariroba (SP), Pedro Afonso (TO), Itumbiara (GO), Ituiutaba (MG) e Tropical (GO) já contam com essa tecnologia de câmeras de alta definição. Até o fim de setembro as unidades de Ouroeste (SP) e Santa Juliana (MG) também receberão a tecnologia e, até 2024, as demais unidades contarão com o recurso.
“Desde 2020, a BP Bunge tem sua operação de combate a incêndios com canhões automatizados com o objetivo de reduzir os riscos de exposição ao fogo e queda. No início de suas operações, a BP Bunge atualizou sua frota de caminhões bombeiros”, afirma.
Na Atvos, para apoiar o trabalho de prevenção, além de uma agenda de treinamentos frequentes, as equipes adotam procedimentos rigorosos com o suporte de equipamentos portáteis que evitam qualquer risco de fogo na operação, como a utilização de termohigroanemômetros e termômetros digitais a laser.
Segundo Leonardo Mendes, gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente da Atvos, esses equipamentos realizam a medição a cada hora da temperatura das colhedoras e, caso ela esteja acima do indicado, o veículo é encaminhado para avaliação mecânica na hora, evitandos riscos de incêndios.
A companhia também faz uso de uma faixa de rádio exclusiva que otimiza a comunicação entre as equipes que estão na operação, brigadistas, PAMEs e Corpo de Bombeiros dos municípios das regiões onde atua, o que contribui para um melhor monitoramento das áreas.
“Temos uma estrutura completa com mais de 1 mil profissionais capacitados para evitar o fogo e auxiliar no combate em todas as nossas unidades agroindustriais. Contamos ainda com sistemas avançados e equipamentos nos caminhões, como os Kits LGE (Líquido Gerador de Espuma, um produto não-tóxico e biodegradável utilizado para extinguir as chamas com mais rapidez), além de mangueiras, motobombas, sopradores, enleiradores, aceiradores, entre outros”, adiciona Mendes.
Tecnologia aliada da segurança no combate ao fogo
A maioria dos implementos que possuem canhão para combate a incêndios são constituídos com um equipamento de operação manual, muito usado devido ao baixo custo de aquisição.
Felipe Michelin, sócio fundador da N.Michelin, empresa especializada em soluções de combate a incêndio, destaca que a economia na aquisição do implemento acaba expondo os operadores a riscos de acidentes, além de apresentar alto custo operacional no longo prazo.
Segundo ele, a comunicação precária entre o operador do canhão e o motorista do sistema manual pode levar os dois colaboradores para uma situação de risco que muitas vezes pode ser irremediável. “Surpresas no caminho como um ninho de formigueiro, já podem resultar em um tombamento do veículo, por exemplo. Além do risco de tombamento, o operador do canhão manual fica exposto à inalação de fumaça quente e há também muitos relatos de operadores que pulam do caminhão em situações de desespero”, adiciona.
O gestor de Serviços Agrícolas da São Martinho, explica que no sistema manual o operador precisava subir e permanecer em uma área protegida, sobre o tanque de água durante a operação de combate ao incêndio. Os operadores sempre precisavam, de forma ágil, descer da cabine e subir as escadas do tanque para acessar o canhão e iniciar o combate. Um risco calculado, porém, mitigado com treinamento, procedimento e disciplina nessa operação”, afirma.
Com adoção da tecnologia de canhão elétrico, o operador da São Martinho faz a mesma operação através de um joystick de dentro da cabine, com visualização do foco incêndio também através de uma tela. “Essa mudança proporcionou mais conforto e segurança para o operador”, adiciona Dela Marta.
A BP Bunge tem 97 caminhões-bombeiro. Todos eles possuem canhões automatizados N.Michelin e são controlados pelo operador por joystick no interior da cabine, evitando a exposição do brigadista. Segundo o gerente Corporativo de Mecanização Agrícola da BP Bunge, o sistema de canhão automatizado pode ser adaptado em qualquer equipamento bombeiro, no entanto, 100% da frota BP Bunge já possui essa tecnologia, assim como todo caminhão adquirido no plano de renovação de frotas já vem com essa tecnologia.
“Toda a operação é realizada de dentro da cabine, através de câmeras e joysticks, reduzindo assim a exposição dos nossos colaboradores ao risco, além disso, possuímos também compartimentos com líquido gerador espuma, o que possibilita o aumento da capacidade de combate dos caminhões”, afirmou Junior à RPAnews.
A Atvos também adaptou sua frota de combate a incêndios com a instalação de canhões automatizados. Segundo Mendes, a chegada dos canhões automatizados é uma evolução que elevou o nível de segurança para os brigadistas que atuam nessas frentes, além de maior precisão no controle e direcionamento do jato d’água.
“Vemos vários benefícios, mas o principal, sem dúvida, é com a segurança do operador. Além disso, o dispositivo garante maior agilidade no atendimento à ocorrência”, explica Mendes.
Muito além da segurança
Os acidentes de trabalho foram o principal motivador para a N.Michelin no desenvolvimento de uma tecnologia que evitasse a exposição do colaborador ao risco desses acidentes nas usinas. O canhão batizado de Agrotech, desenvolvido pela companhia, que tem sede no Rio Grande do Sul, permite operar o canhão por um joystick de dentro da cabine ou por um controle remoto que funciona a um alcance de até 1km.
“O Agrotech traz o que há de mais moderno em tecnologia. A instalação do canhão elétrico no caminhão bombeiro é feita com a substituição do canhão manual antigo utilizando a mesma tubulação, não necessitando de grandes adaptações. Vale lembrar que nossos canhões elétricos são produtos exclusivos e patenteados, possuindo um sistema construtivo único dotado de uma robustez inigualável”, destaca o diretor da companhia à RPAnews.
O modelo Agrotech foi desenvolvido com base na experiência de oito anos da companhia, que atua em diversos setores com esse tipo de equipamento. “Uma função muito importante da tecnologia no combate ao fogo é a oscilação automática, que permite que o operador não tenha que ficar realizando movimentos cíclicos de comando. Basta apertar um botão e o canhão oscila de forma autônoma”, explica.
Dentro da cabine, o motorista pode controlar o canhão pelo joystick fixo ou o auxiliar pode operar pelo controle remoto. O joystick fixo possui um painel de teclas na parte superior que controla todas as funções do canhão. Já o controle remoto, foi projetado com uma capa de borracha para protegê-lo contra quedas, e suas baterias proporcionam uma durabilidade de mais de 20 horas em operação contínua.
“No canhão é fixado um farolete para combate noturno e uma câmera que envia imagem para um monitor dentro da cabine do veículo. Esses acessórios giram junto com o equipamento sempre mostrando no monitor para onde o canhão está direcionado. A válvula de abertura da água é operada tanto pelo joystick quanto pelo controle remoto e possui um sistema para abertura manual de emergência”, adiciona Michelin.
Ainda de acordo com ele, após a instalação do canhão elétrico a equipe de brigada é treinada para operar o equipamento. “Esse treinamento aliado com as boas práticas de combate das usinas permite um combate mais seguro. O joystick fixo fica direcionado para o motorista, permitindo que o mesmo possa atuar rapidamente e de forma independente em algumas situações de incêndio. Já o controle remoto permite que o auxiliar, ou outro operador, controle o canhão de dentro da cabine ou até mesmo fora do caminhão”, detalha.
Um exemplo é um caminhão bombeiro equipado com um canhão elétrico localizado na frente de colheita. No caso de um princípio de incêndio em uma máquina colhedora, apenas uma pessoa pode entrar no caminhão e atuar no incêndio diretamente com o canhão, enquanto outras pessoas operam mangueiras e outros acessórios.
No caso de caminhões localizados em pontos estratégicos nas áreas de plantio, o próprio motorista consegue fazer intervenções rápidas enquanto aguarda a chegada do líder de brigada com os auxiliares.
“O segredo do sucesso em qualquer combate é uma equipe bem treinada. Cada um dos nossos clientes acaba trabalhando da forma que acha melhor para sua equipe, sendo o canhão elétrico mais uma ferramenta de segurança no combate”, completa Michelin.
Mendes explica que com a adoção dessa inovação tecnológica, a Atvos precisou capacitar os operadores para utilizarem corretamente o canhão d’água automatizado. “Isso também possibilitou ampliar a especialização deles no combate a incêndios, mas, de maneira geral, a mão de obra não foi reduzida”, disse à RPAnews.
Na BP Bunge, os caminhões destinados exclusivamente ao plantão de incêndio têm auxiliares que operam de dentro da cabine. Já nos caminhões que compõem as frentes de colheita, a companhia tem operadores e auxiliares que são integrantes da equipe de combate a incêndio, possuem os treinamentos teóricos e práticos com carga horário acima de 60 horas para operarem os canhões”, afirma o gerente Corporativo de Mecanização Agrícola da BP Bunge.
O sócio proprietário da N.Michelin lembra que as grandes empresas já possuem normas de segurança que obrigam terceiros a ter automatização em seus veículos para, justamente, evitar acidentes de trabalho com a operação do canhão. “Essa tecnologia hoje é uma grande aliada para trazer segurança na operação e evitar até mesmo problemas trabalhistas”, conclui.
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