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Com juros altos e açúcar em queda, Rabobank vê “luz amarela” para as usinas em 2026

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Após uma sequência de safras rentáveis, o setor de cana enfrenta custos crescentes, preços mais baixos e incertezas no mix de produção

O Rabobank projeta um cenário desafiador para o setor sucroenergético brasileiro em 2026. Após anos de bons resultados em receita e margem, os analistas do banco apontam que os sinais de uma virada de ciclo ficaram evidentes ao longo de 2025, marcados pela queda dos preços internacionais do açúcar, pela redução da produtividade dos canaviais e pelo aumento dos custos operacionais.

Segundo o RaboResearch Food & Agribusiness, a safra 2025/26 deve encerrar com 590 milhões de toneladas de cana moídas, resultando em 39,7 milhões de toneladas de açúcar — volume semelhante ao da safra anterior — e 23 bilhões de litros de etanol de cana, uma queda de 14% em relação a 2024/25. O clima seco e os incêndios de 2024 impactaram a produtividade, enquanto a safra 2026/27 dependerá de um verão normal para confirmar o potencial de alta.

“Com um plantio maior no primeiro trimestre de 2025 e um clima mais ameno, há chance de uma safra maior em 2026/27, podendo chegar a 620 milhões de toneladas ou mais, se o verão for normal”, destacam os especialistas do Rabobank em relatório.

Mercado global e queda nos preços

O preço do açúcar bruto em Nova York caiu 18% em dólares e 29% em reais entre janeiro e outubro de 2025, em função da virada do balanço global de déficit para excedente. O Rabobank estima que o déficit de 4,2 milhões de toneladas em 2024/25 se transforme em um excedente de 2,6 milhões em 2025/26, impulsionado principalmente pelo aumento da produção na Índia e na Tailândia.

“As petroleiras indianas sinalizaram intenção de comprar menos etanol, o que pode elevar o volume de açúcar disponível para exportação. Isso ajudou a pressionar os preços internacionais”, explica o relatório.

Além dos fundamentos de mercado, os analistas apontam o posicionamento vendido dos fundos como um fator que acentuou a queda. Em setembro de 2025, o volume líquido vendido atingiu o maior nível em seis anos. Apesar de uma eventual reversão dessas posições poder sustentar os preços, o Rabobank avalia que o alto volume de fixações ainda pendentes no Brasil e na Tailândia tende a limitar ganhos.

Margens pressionadas e custos em alta

A combinação de baixo ATR por tonelada de cana, juros elevados e custos crescentes deve comprimir as margens das usinas. Mesmo que a fixação antecipada dos preços suavize parcialmente os efeitos da queda nas cotações, o banco projeta resultados mais modestos para o ciclo atual. “Os resultados da safra 2025/26 devem mostrar margens mais estreitas em comparação com as safras recentes”, diz o Rabobank.

Entre os pontos de atenção, o banco cita o risco de um dilema de mix para 2026/27: um mix açucareiro poderia acentuar a pressão sobre os preços internacionais, enquanto um redirecionamento para o etanol — em meio ao aumento da produção de etanol de milho — poderia levar a uma queda no preço do combustível.

Etanol: estoques baixos e incertezas à frente

O Rabobank projeta que a oferta de etanol de milho alcance entre 11 e 11,5 bilhões de litros em 2026/27, cerca de 2 bilhões acima da safra anterior. Já o etanol de cana deve somar 24,3 bilhões de litros, com a produção total nacional crescendo até 14%, dependendo do volume de moagem.

Mesmo com a expansão, os especialistas alertam que o mercado começa o novo ciclo com estoques muito baixos e preços firmes. O aumento da mistura obrigatória de etanol anidro na gasolina — de 27% para 30%, anunciado em agosto de 2025 — reforça a tendência de valorização do biocombustível no curto prazo.

“Com os estoques projetados em níveis muito baixos até março de 2026, não seria surpresa ver a nova safra começar mais cedo, para aproveitar os preços elevados do etanol”, aponta o relatório do banco.

Entretanto, o cenário pode mudar rapidamente. A redução de 4,9% no preço da gasolina ex-refinaria pela Petrobras em outubro de 2025 e a projeção de petróleo Brent abaixo de USD 60/barril em 2026 podem enfraquecer a competitividade do etanol na bomba.

Uma luz amarela para 2026

Os analistas do Rabobank concluem que, apesar de o setor chegar a 2026 em posição mais sólida — com menor alavancagem, mais investimentos em flexibilidade industrial e diversificação —, o momento exige cautela.

“Visto do final de 2025, com queda no preço do açúcar, juros elevados e perspectiva de uma nova safra grande, uma luz amarela está acesa para o setor”, alertam os especialistas do Rabobank.

Natália Cherubin para RPAnews

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