Ô de casa, já tem uns meses que o mercado anda cismado. E quando os homi cisma, é porque viram o sinal antes da porteira ranger.
A Cosan — aquela que virou referência em energia integrada — parece estar arrumando as malas devagarzinho. O pacote de até R$ 15 bilhões em desinvestimentos, noticiado esta semana pelo Valor Econômico, pode ser mais que uma faxina: talvez um adeus discreto à sociedade com a SHELL na distribuição de combustíveis. Ainda mais se a gente prestar atenção no cenário político que ronda a Petrobras.
De onde vêm os postos da Raízen? Pra entender esse xadrez, é bom lembrar os primeiros lances da partida.
Em 2008, a Cosan comprou a operação da Esso no Brasil, levando cerca de 1.400 postos pro balaio. Em 2011, uniu forças com a Shell e criou a Raízen, com:
• ~1.400 postos ex-Esso (Cosan)
• ~2.200 postos da Shell Brasil
Hoje, são mais de 4.700 postos Shell só no Brasil e quase mil no exterior. A Cosan não entrou só com dinheiro — entrou com bomba, loja, frentista e ponto bom. E se o tabuleiro mudar?
Imagine um cenário mineiramente pensado:
1. A Shell pula fora da Raízen e se despede com classe, como fez a Esso.
2. Os postos são vendidos em outro pacote, separados da logística.
3. A Cosan fica leve, com posto sem bandeira forte , pronta pro altar se a Petrobras quiser dançar esse forró — com a Rumo, seus trilhos e terminais a tiracolo.
Separar os postos da distribuição pode ser a costura ideal pra uma saída limpa da Shell. E sejamos francos: ela já flertou com o “bye bye, Brasil” antes… só não contava com o Grupo Ometto atravessando o salão. E a Petrobras, entra nesse baile?
O governo vem ensaiando a volta à distribuição faz tempo. Faltava só a chance — com respaldo técnico, político e uma noiva com pedigree. Talvez a Cosan, com posto, sem Shell e com uma logística que ninguém mais tem, seja a candidata ideal. Seria um retorno pela porta lateral. Sem susto. Só com costura fina.
E você, o que acha desse trem?
Se a Cosan vender sua parte e a Shell sair mesmo…
• Os postos seguem operando sob nova direção?
• A Petrobras poderia comprar os Shell e voltar com força?
• A Shell sai pela porta da frente, como boa inglesa?
• A Cosan vira potência logística sem igual no país?
• E o CADE? Vai chiar ou aplaudir?
Aqui, cisma boa vira conversa. E conversa boa abre clareira no mato fechado.
*Wladimir Eustáquio Costa é CEO da Suporte Postos, especialista em mercados internacionais de combustíveis, conselheiro e interventor nomeado pelo CADE, com foco em governança e estratégia no setor downstream.
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