Meio Ambiente
Despejo irregular de usina pode ter causado mortandade de peixes em importante rio de SP
Sucroenergética investigada alega não ser responsável, mas admite vazamento de resíduos; santuário natural de Piracicaba (SP) reúne centenas espécies de animais e tem importância turística para a cidade
O Rio Piracicaba registrou nova mortandade de peixes nesta segunda-feira, 15. Desta vez, no Tanquã, área de proteção ambiental na região de Piracicaba (SP), conhecido como minipantanal paulista. Milhares de peixes já tinham sido encontrados mortos em um trecho urbano do rio no último dia 7.
Técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) fizeram nova inspeção e medição de oxigênio e informaram que resíduos agroindustriais foram despejados de forma irregular pela Usina São José, de Rio das Pedras (SP). A empresa nega.
“Equipes fizeram a medição de oxigênio (OD) no rio Piracicaba, na altura do Bairro de Tanquã e constataram baixo nível de oxigênio dissolvido, o que evidencia que a mancha de efluentes, lançada pela Usina São José S/A Açúcar e Álcool na semana passada chegou a essa localidade e provocou a mortandade de peixes. Ontem, dia 15 de julho, foi feita nova inspeção e medição de OD, no rio do Pinga, e constatou-se que a mancha de efluentes também chegou ao local”, diz a Cetesb.
Plano de ação
Em nota, a Prefeitura de Piracicaba afirmou ao G1 nesta segunda-feira, 15, que está ciente da situação e acompanha com a Cetesb, que deve elaborar laudo final sobre a mortandade no Rio Piracicaba nos próximos dias.
Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura e Meio Ambiente (Simap), uma reunião com órgãos e instituições que integraram a força-tarefa para limpeza do rio Piracicaba está prevista para esta quarta-feira, 17, para elaboração de plano de ação de análise e estratégia para a remoção de resíduos.
O Grupo de Atuação Especial de Defesa do Meio Ambiente (Gaema) afirmou que fará uma vistoria nas instalações da usina.
Minipantanal paulista
O Tanquã é conhecido como o mini pantanal paulista devido à semelhança com o ecossistema do Centro-Oeste brasileiro. O local abriga diferentes espécies da fauna e da flora, algumas em risco de extinção. Foram registradas pelo menos 400 espécies diferentes de aves no local.
O surgimento do mini pantanal ocorreu nos anos 1960, quando a usina hidrelétrica Barra Bonita foi construída na foz do rio Piracicaba e os últimos quilômetros do rio acabaram adentrando as margens, formando uma área de remanso, com águas lentas.
O que diz a Usina São José
A Usina São José S/A Açúcar e Álcool afirmou em nota que não é responsável pela mortandade de peixes no rio. Veja a nota abaixo:
Após cinco inspeções realizadas por técnicos da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) nas dependências da Usina São José S/A Açúcar e Álcool, nada foi informado à empresa formalmente que explique o motivo ou a origem da mortalidade de peixes registrada nos últimos dias. Insinuações de envolvimento da usina nessa ocorrência são precoces e não tem, até agora, qualquer comprovação ou fundamento.
A empresa considerou precipitadas as notícias divulgadas nos últimos dias, citando poluentes que teriam sido liberados no Ribeirão Tijuco Preto e chegado ao Rio Piracicaba, a 42 quilômetros de distância. Lembra ainda que diversos incidentes envolvendo morte de peixes no Rio Piracicaba vem ocorrendo nos últimos anos, período este que a Usina São José estava inativa, tendo retomado suas atividades somente em maio deste ano.
A empresa esclarece que não poupa esforços para colaborar plenamente com a Cetesb, a Polícia Ambiental e o Ministério Público, fornecendo todas as informações e acessos solicitados para garantir uma investigação transparente e justa, que leve às causas desse incidente.
Recuperação pode levar nove anos
A recuperação da população de peixes no Rio Piracicaba após a mortandade registrada nos últimos dias pode demorar até nove anos para acontecer, o que equivale a três gerações de animais. A estimativa foi feita pelo analista ambiental, Antonio Fernando Bruni Lucas, em entrevista à EPTV, afiliada da TV Globo.
O especialista também comentou a possibilidade de “sequestro” de oxigênio pelo poluente, as perspectivas sobre a recuperação da qualidade da água e elencou medidas que podem ser adotadas para evitar descargas irregulares no rio.
“Recuperação de estoques [de peixes] é uma preocupação maior porque, pelas imagens que eu vi, eram peixes adultos. (…) Vimos que tem cascudo, mandi, piapara, curimbatá, dourado. Esses peixes daí não vão mais reproduzir, morreram. Vai ter reprodução? Provavelmente vai ter reprodução sim, porque existem outros cardumes. Não matou o rio todo, mas dentro daquela faixa perdemos uma população. Essa população ia contribuir com a reprodução desse ano”, relata.
Cetesb, MP e Polícia Civil apuram
A Prefeitura de Piracicaba afirmou na última quarta-feira, 10, que acionou o Ministério Público (MP-SP) para investigar a mortandade dos peixes. O MP informou que vai apurar o caso e que fez uma vistoria na usina para avaliar as possíveis punições. A Polícia Civil também abriu um inquérito.
Segundo a Cetesb, as mortes ocorreram após despejo irregular de resíduos agroindustriais pela Usina São José. O órgão também investiga o caso e adiantou que, pelo crime ambiental, é prevista multa no valor de até R$ 50 milhões aos responsáveis.
A Cetesb ainda informou que deve concluir o laudo sobre a dimensão do prejuízo para o meio ambiente até sexta-feira, 19.
A usina São José, por sua vez, afirmou que colabora com as investigações e reforçou que, até agora, não há comprovação de que a empresa tenha causado a mortandade de peixes.