A Embrapa vai utilizar diversas variedades de agave em seu banco de germoplasma, como a Agave sisalana, propícia para a extração das fibras de sisal, e a Agave tequilana, mais utilizada na produção da bebida. A ideia, segundo a empresa de pesquisa, é desenvolver sistemas de cultivo para as variedades que garantam um rendimento maior. A pesquisa está sendo conduzida pela unidade Embrapa Algodão.
A Santa Anna Bioenergia, criada em 2022 para realizar pesquisas voltadas à agricultura, vai atuar em parceria com a Embrapa e já trouxe 500 mudas de agave azul (Agave tequilana Weber var. Azul) do México, onde é plantada para a produção de tequila. As mudas já passaram por quarentena.
Pesquisa em curso
Uma equipe de pesquisadores está começando a estudar como a espécie se comporta no solo do município de Jacobina (BA), onde será instalada uma Unidade de Referência Tecnológica (URT). Também serão instaladas outras duas unidades em Alagoinha (PB) e Monteiro (PB). No total, 1,8 mil mudas serão plantadas nesses três municípios, na primeira etapa do projeto.
Diferentemente da cana-de-açúcar, que demanda um volume considerável de água durante seu desenvolvimento, o agave é uma planta xerófila, o que significa que ela é adaptada a ambientes secos e com pouca água, como o semiárido nordestino e áreas desérticas no México.
Por outro lado, para que um pé de agave esteja pronto para ser colhido com rendimento, leva-se cinco anos ou mais, enquanto a colheita da cana-de-açúcar demora entre um ano e um ano e meio, a depender da variedade.
Para garantir que o cultivo de agave faça sentido econômico, será preciso plantar em etapas, explica Tarcísio Gondim, pesquisador da Embrapa Algodão.
“O escalonamento das áreas de plantio ao longo do período permitirá a estabilização da produção de biomassa para fins energéticos, garantindo competitividade na exploração comercial no Semiárido. Para que isso se concretize, é necessário investir em estudos para avançar na padronização de cultivares, no manejo da cultura, nos tratos culturais, na fertilidade do solo, na mecanização do cultivo e no processamento integral da biomassa”, diz.
No México, boa parte do cultivo de agave azul é feito de forma mecanizada, como preparo do solo, adubação, capina, aplicação de inseticidas e herbicidas. Apenas o plantio é feito manualmente. “Nossa visão de futuro é ter grandes áreas cultivadas com agave, e isso não pode ser feito manualmente”, defende Odilon Reny Ribeiro, pesquisador da Embrapa Algodão especialista em mecanização agrícola.
Os pesquisadores vão realizar ensaios para fazer recomendação de arranjos de plantio, adubação e tratos culturais. Também vão trabalhar em uma metodologia para medir o carbono e as propriedades químicas dos componentes da biomassa de agave no processo de pós-colheita.
Após ser usado na produção de etanol, os resíduos industriais ainda podem ser usados como ração de ruminantes, o que tem especial função no semiárido, já que durante a seca os animais ficam com pouca opção de forragem.
Importância do agave
Segundo Gondim, o desenvolvimento da cadeia do agave para a produção de etanol “pode contribuir para mitigar desigualdades regionais e enfrentar a precarização das áreas sisaleiras do Nordeste brasileiro”, ao resultar na produção de biocombustível, na produção de alimentos para ruminantes, e na captura de gás carbônico em regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
Atualmente, apenas 4% da biomassa do agave sisalano cultivado no semiárido é utilizado pela indústria. O Brasil produziu 95 mil toneladas de fibra em 2023, sendo a Bahia o principal produtor, com 95% do volume, dentro do chamado Território do Sisal, que abrange 20 municípios. Em segundo lugar está a Paraíba. Segundo a Embrapa, o Brasil é o maior produto de sisal do mundo.
Fomento ao Agave
Além da pesquisa capitaneada pela Embrapa, o governo da Bahia também vem investindo para estimular a cadeia do agave no Estado. Uma parceria do governo com a ABDI selecionou a Associação Comunitária de Produção e Comercialização do Sisal (APAEB), em Serrinha (BA), para capacitar ao menos 400 agricultores. Com o projeto, a ideia é que os produtores passem a utilizar 95% da planta, elevando sua renda.
Camila Ramos| Globo Rural