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Emissão de CO2 equivalente pode ter queda de 78% até 2050, afirma Observatório do Clima
O Observatório do Clima (OC) aponta, em estudo lançado nesta terça-feira, 22, para uma redução potencial de 78% das emissões de dióxido de carbono equivalente (CO2e) do setor de energia no país no intervalo de 2022 a 2050. O cenário considera um crescimento médio do PIB em 2,1% ao ano, além de diretrizes para áreas como transportes de carga e de passageiros e produção de biocombustíveis.
No panorama apresentado, as emissões passariam de 462,9 milhões de toneladas de CO2e em 2022 para 102,1 milhões de toneladas de CO2e em 2050. O estudo mostra, por outro lado, aumento das emissões para 558 milhões se houver continuidade da exploração e uso de combustíveis fósseis, bem como no cenário de ausência de “iniciativas disruptivas” na transição energética.
Para evitar esse prognóstico desfavorável, o Observatório do Clima defende, por exemplo, que o uso de gás e outros combustíveis fósseis na indústria deve ser reduzido “em taxa e velocidade definidas de acordo com as características de cada subsetor industrial”. O grupo defende a substituição das fontes de energia e cita como exemplo o uso de hidrogênio verde e biomassa.
Já nos transportes de carga, ferroviário, hidroviário e, especialmente, rodoviário, a transição energética deve ir além da eletrificação das frotas. O relatório sugere a necessidade de explorar outras “opções e combinações” de combustíveis, como o biodiesel e o diesel verde – já na mira do governo.
“Cabe ressaltar que o transporte de cargas, majoritariamente rodoviário, continuará sendo, em ambos os cenários (de maior ou menor emissão), a principal atividade emissora do setor de energia”, indica o estudo. “A atividade é a que apresenta os maiores desafios por conta das dificuldades de eletrificar caminhões pesados e semipesados, seja pelos custos das baterias e de outros componentes, seja pelas longas distâncias percorridas”, complementa.
Para o Observatório do Clima, a maior oportunidade para reduzir as emissões “rapidamente” está no transporte de passageiros. Para além da substituição da gasolina por etanol nos veículos flex e na gradual eletrificação da frota, o grupo recomenda mudança “dos paradigmas das cidades”, com aumento dos investimentos em transporte público coletivo por ônibus, metrô, VLT e na infraestrutura para o uso das bicicletas.
Biocombustíveis
Apesar de defender aumento da participação dos biocombustíveis líquidos (etanol, biodiesel e diesel verde) na matriz energética brasileira, além do biogás e do biometano, o estudo aponta para riscos. A produção em massa pode representar um “elemento de pressão ambiental”.
“Se não for controlada, a produção desses biocombustíveis podem provocar mais desmatamento, uso excessivo de água, além de trazer impactos ao solo devido à monocultura extensiva”, analisa o relatório.
O grupo defende salvaguardas socioambientais, como o controle de quais áreas e quais recursos devem ser empregados para produzir essas fontes, além de regulamentar zonas de exclusão, como a floresta Amazônica. “É importante ressaltar que áreas já degradadas e que não sofram estresse hídrico precisam ser usadas de forma prioritária para o plantio de cana-de-açúcar, soja, milho e outras culturas”, diz.
Início lento
Pela expectativa apresentada no relatório, a redução das emissões deverá ser relativamente lenta até 2040, tendo em vista o aumento do uso de biodiesel e eletrificação parcial, concentrada em caminhões médios e leves. A partir de 2040, contudo, esse processo deve ser acelerado com a maior inserção do diesel verde.
Para a coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo, o relatório mostra que “é possível reduzir o uso de combustíveis fósseis mesmo em um cenário de crescimento econômico”.
A instituição defende que o Brasil defina como Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) a redução 92% das emissões líquidas até 2035, em relação aos níveis de 2005. Seria uma atualização da proposta adotada no âmbito do Acordo de Paris.
A atual NDC do Brasil inclui os objetivos de reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 53% até 2030 e de zerar as emissões líquidas até 2050.
O Observatório do Clima, fundado em 2002, conta com 119 integrantes, entre ONGs ambientalistas, institutos de pesquisa e movimentos sociais.