Estagnação no rendimento por hectare revela gargalos em solo, clima, manejo e investimento; recuperação exige ação coordenada entre genética, tecnologia e incentivos
Por Marco Ripoli
A produtividade da cana-de-açúcar no Brasil tem se mantido historicamente entre 73 e 78 toneladas por hectare (t/ha), segundo dados do PECEGE, mesmo diante de avanços tecnológicos, mecanização e melhoramento genético. Essa estagnação reflete uma combinação de fatores agronômicos, climáticos, estruturais e econômicos, que limitam o potencial de incremento da produção.
Entre os principais fatores de limitação, destaca-se o esgotamento do potencial genético das variedades cultivadas. As plantas atualmente em uso já atingem rendimentos próximos do máximo disponível comercialmente, e as inovações genéticas recentes têm priorizado resistência a doenças e adaptação à mecanização, mais do que ganhos expressivos de produtividade.
O manejo do solo também contribui significativamente para a estagnação. Plantios contínuos, muitas vezes sem renovação adequada ou rotação de culturas, reduzem a fertilidade e o vigor das plantas. Práticas tradicionais, como a queima da palha antes da colheita, agravam o problema ao degradar matéria orgânica e nutrientes. Paralelamente, fatores climáticos, como seca ou excesso de chuvas, interferem diretamente no ciclo da cana, e a variabilidade crescente decorrente das mudanças climáticas torna os ganhos consistentes ainda mais desafiadores.
Questões econômicas e estruturais completam o cenário. A adoção de tecnologias de ponta, agricultura de precisão e irrigação, embora já presentes em grandes unidades, ainda não é generalizada. Além disso, o preço da cana e do etanol influencia a decisão do produtor sobre investir em renovação de plantios ou práticas mais eficientes.
Para reverter esse quadro, é necessário um pacote integrado de soluções que combine genética, tecnologia e manejo sustentável:
- Renovação genética: adoção de variedades de maior rendimento e resistência a doenças.
- Agricultura de precisão: uso de sensores, drones e imagens de satélite para aplicação localizada de insumos.
- Manejo sustentável do solo: rotação de culturas, cobertura vegetal e biofertilizantes.
- Irrigação estratégica: ampliação de sistemas para regiões com risco de seca.
- Otimização da colheita: substituição da queima por colheita mecanizada direta, preservando nutrientes e solo.
- Capacitação e incentivos econômicos: programas de extensão, treinamento e acesso a crédito para adoção de práticas modernas.
- Análise de dados: monitoramento contínuo para tomada de decisões estratégicas e mitigação de riscos climáticos.
Fator Limitante | Descrição | Potencial de aumento de produtividade |
Limites genéticos | Variedades próximas do máximo rendimento | +3 a 5 t/ha |
Esgotamento e manejo do solo | Fertilidade reduzida, monocultura, queima da palha | +4 a 6 t/ha |
Clima e variabilidade | Seca, excesso de chuva, mudanças climáticas | +2 a 4 t/ha |
Manejo e práticas agrícolas | Baixa adoção de agricultura de precisão | +2 a 3 t/ha |
Irrigação limitada | Falta de água em períodos críticos | +3 a 5 t/ha |
Custos e incentivos econômicos | Limitação para investir em tecnologias e renovação | +1 a 2 t/ha |
A estagnação da produtividade da cana-de-açúcar brasileira não é irreversível. Por meio de estratégias integradas, combinando genética avançada, tecnologia digital, manejo sustentável e incentivos econômicos, é possível recuperar e superar o potencial produtivo, garantindo competitividade do setor no cenário global e sustentabilidade ambiental.
*Marco Ripoli é graduado em Engenharia Agronômica (ESALQ-USP), com Programa de Residência Agronômica na Universidade da Califórnia (UC Davis), Mestre em Máquinas Agrícolas (ESALQ-USP) e Doutor em Energia na Agricultura (UNESP) e diretor da PH Consulting House e Bioenergy Consultoria