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Açúcar: etanol dá as cartas

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O mercado futuro de açúcar em NY encerrou a sexta-feira a 19.34 centavos de dólar por libra-peso no vencimento maio/22, uma queda de 27 pontos no acumulado da semana, quase 6 dólares por tonelada.

A moeda brasileira uma vez mais encerrou a semana fortalecida em relação ao dólar, cravando R$ 4,6560 o nível mais baixo desde março de 2020. Com essa recuperação do real, os valores do açúcar em NY convertidos para a moeda brasileira caíram 64 reais por tonelada na média dos fechamentos da safra que se inicia, e metade desse valor para as duas safras seguintes.

Dois terços das usinas do Centro-Sul devem iniciar a safra na segunda quinzena de abril. Incertezas quanto à disponibilidade de açúcar seguram o spread maio/julho que negocia a um prêmio de 4 dólares por tonelada.

Os fundos não-indexados, segundo o COT (Commitment of Traders), o relatório dos comitentes publicado pelo CFTC (Commodity Futures Trading Commission), a agência americana reguladora do mercado de commodities, com base na posição da última terça-feira, continuam long 97,550 contratos. Na semana aumentaram 2,655 lotes.

O primeiro trimestre do ano encerrou com as commodities energéticas liderando as altas: o gás natural no topo com 53%, seguido do óleo de aquecimento 49%, gasolina 42%, petróleo tipo Brent (que é usado como referência pela Petrobras) 34%, petróleo tipo WTI 32%. Depois, os grãos: trigo 28%, milho 24%, soja 18%, e no final da lista açúcar 2% e café 1%.

As variações acima são bastante fortes para fundamentar uma possível mudança de mix pró-etanol que estamos prevendo para a safra 22/23 que se inicia agora. Essa alteração no mix só não será mais expressiva porque as usinas estão comprometidas/fixadas com pelo menos 20 milhões de toneladas de açúcar para a exportação este ano.

Os fundamentos do açúcar e do etanol pendem positivamente para o último. Enquanto perdurarem dúvidas acerca de como a matriz energética do mundo vai se comportar após o término da guerra da Rússia, o petróleo vai encontrar suporte ao redor dos US$ 100 o barril (agora está abaixo disso depois de Biden ordenou a liberação de reservas de petróleo). O real vai continuar valorizado enquanto o dinheiro de curto prazo dos investidores estrangeiros estiver entrando para comprar ações baratas. No entanto, não parece razoável pensar que essa valorização vai perdurar em especial com as eleições presidenciais deste ano.

O açúcar, por sua vez, não avista nenhum obstáculo no suprimento em nível global. Índia, Brasil e Tailândia vão colocar no mercado volume suficiente para uma demanda mais acanhada num mundo que é afetado pela inflação, pelo depauperamento da renda das famílias e desestímulo na formação de estoques das industrias alimentícias. Assim, como a tendência delas nesse momento é de trabalhar da mão para a boca, tudo leva a crer que a curva de preços do açúcar se desnivele.

O etanol hidratado negocia a prêmio sobre o açúcar de NY em 150 pontos (!!!), em função da queda do dólar contra o real. No entanto, com o hidratado saindo a R$ 4,1000 o litro com impostos, B3 está bem defasada em pelo menos R$ 150-200 por m3.

A nomeação de Adriano Pires para a presidência da Petrobrás certamente pegou o mercado de surpresa. Desta vez, uma agradável surpresa. Pires é Doutor em Economia Industrial pela Universidade de Paris e uma das maiores autoridades no mercado de energia do País, trabalhou na ANP (Agência Nacional do Petróleo) e era nome constante na lista de ministeriáveis para a pasta de Minas e Energia.

Há apenas três semanas, Pires afirmou em artigo publicado na imprensa que o controle de preços de combustíveis é um tiro no pé. Alertou que o debate sobre os preços dos combustíveis não pode ser um Fla-Flu, em que você decide ser contra ou a favor da Petrobras respeitar a paridade internacional.

Em um par de seminários que participou como panelista, que tive a oportunidade de atender, Adriano Pires sempre deixou clara sua visão liberal, ainda que tenha recentemente admitido que em situações de estresse (como na invasão russa à Ucrânia) pudesse ser criado um fundo para atenuar a volatilidade de preços. Dinheiro que viria, diga-se de passagem, não do tesouro, mas dos polpudos dividendos distribuídos pela Petrobras aos seus acionistas, o maior deles o Governo.

A defasagem de preços em relação ao mercado internacional, como expressa Pires no mesmo artigo, traz dois gravíssimos problemas: o primeiro, que as empresas que compraram as refinarias da Petrobras na Bahia e em Manaus, se tiverem que praticar preços abaixo do mercado internacional, terão prejuízo na operação e consequentemente, exportar sua produção pelo valor justo de mercado. O segundo, é que defasagens de preço normalmente desaguam em desabastecimento. Pior que pagar caro a gasolina é não ter gasolina para comprar.

A menos que queira destruir uma reputação construída ao longo de eminente carreira de mais de 30 anos no mercado de energia, Pires vai fazer exatamente o que seu antecessor fazia, mas não vai cometer o mesmo erro. Os reajustes de preços deverão ter maior celeridade para evitar que as distorções entre o preço internacional e o praticado pela empresa na refinaria se acumulem e a Petrobras seja obrigada a dar um reajuste cavalar como aconteceu recentemente e culminou na defenestração de Joaquim Silva e Luna menos de um ano no cargo.

Pires foi um bom nome para que o presidente em campanha abafe o escândalo de corrupção que atinge o MEC e faça a mídia olhar para outro assunto. Mas, se ele pensa que a política de preços vai mudar, pode tirar o cavalinho da chuva.

Adriano Pires sabe bem que a empresa que vai presidir tem contas a prestar aos seus acionistas, aqui e lá fora. Pires é um profissional pouco afeito a ouvir conversa mole de sindicalistas e políticos populistas. Depois do assalto do PT aos cofres da empresa, que apenas no governo de um poste chamado Dilma, levou a um prejuízo sem precedente de mais de R$ 40 bilhões.

Além disso, a política na formação de preços de combustível favorecia a indústria automobilística com carros sem IPI, financiamento de veículos com 84 meses e gasolina barata às custas dos contribuintes, que culminaram em prejuízo de mais R$ 100 bilhões devido à contenção dos preços administrados pela trupe petista.

Hoje, existem internamente procedimentos que impedem que seus administradores tenham gestão temerária. Isso impede, por exemplo, que importem gasolina a um preço mais alto do que o preço de venda no mercado interno.

Resta saber qual será o comportamento do planalto ao ver a continuação de uma política acertada e em linha com as melhores práticas do mercado, mas para a qual o presidente torce o nariz. Vale lembrar, no entanto, que – como me disse o Conselheiro de uma grande empresa do setor –  “no Brasil de hoje, amanhã é longo prazo”.

 

*Arnaldo Luiz Corrêa é diretor da Archer Consulting

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