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Ex-tratorista virou especialista em ilustrações agrícolas para o agronegócio

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Denis Dalben, que desde muito jovem trabalha no campo, desenvolve desenhos personalizados e que retratam operações específicas e bem detalhadas tanto de canaviais como de outras culturas, auxiliando empresas na capacitação e até mesmo no treinamento de colaboradores

O agronegócio é um dos grandes protagonistas da economia brasileira e por conta disso, possui espaço para diversas áreas de trabalho, inclusive, para artes e ilustrações. Com seus lápis e pincéis, Denis Dalben traz para o agronegócio e para o setor canavieiro, cores, texturas e informações importantes. Para além do visual, suas ilustrações técnicas permitem o registro pouco abordado de implementos e operações agrícolas específicas do mundo canavieiro.

Para o artista, existe uma pergunta simples: “Atualmente, qual câmera de vídeo consegue entrar dentro do solo ou mesmo filmar detalhes internos de implemento agrícola? ” Denis acredita que suas ilustrações são uma boa maneira de instruir não só os operadores de máquinas, por exemplo, como também demonstrar como funcionam, em detalhes, equipamentos, ajudando o setor com informações de maneira didática.

“Vejo que o meu principal papel no agronegócio é ajudar no crescimento do setor. Tenho plena convicção de que meu trabalho auxilia inúmeras pessoas. Nossa arte ajuda as equipes a se tornarem mais qualificadas trazendo mais segurança nas atividades e, consequentemente, até mesmo salvando vidas, uma vez que um indivíduo mais consciente dos procedimentos, corre menos riscos de acidentes. O objetivo é retirar do agro aquele estereótipo de gente humilde e sem leitura”.

Cartilha sobre acidentes que podem ser evitados produzidos por Denis.

O artista conta que o agro sempre fez parte de sua essência, inclusive, ele nasceu e foi criado no campo. Desde criança trabalhava com sua família e seguiu durante algum tempo os passos de seu pai e avô. Mas foi só após o seu primeiro trabalho em uma usina sucroalcooleira que percebeu a importância das ilustrações para o agronegócio.

“A primeira empresa grande que trabalhei foi uma unidade do Grupo Viralcool, trabalhei por quatro anos como tratorista e foi ali que despertei para a importância do desenho no agro. Com uma iniciativa realizada na empresa, pude desenhar para um campeonato de desenho, vindo a conquistar o primeiro lugar na época. O desenho mostrava em uma única folha todos os riscos e perigos existentes na atividade de colheita de cana queimada. Eu era tratorista e sabia muito bem como era difícil saber o que fazer e como fazer com segurança as atividades agrícolas. Através das dificuldades que passei, fui percebendo que com meu dom no desenho tinha um poder em minhas mãos. Acreditava que poderia ajudar milhares de pessoas.”

Sua família também o incentivava. Denis relembra que seu pai o fazia desenhar peças, implementos para tratores, ferramentas, rascunhos de galpões, casas e muito mais. Isso o estimulou a fazer desenhos que pudessem ser úteis para algo.

“Desenhar eu desenho desde que me lembro por gente. Comecei a trabalhar com ilustrações para o agro quando notei que existia um mercado nessa área, pois recebia bastante pedidos de pessoas que eu havia conhecido na minha trajetória profissional. No começo, desenhava em aquarela, mas vendo como a demanda por artes digitais tinham melhor aceitação, migrei para o digital. No começo foi difícil, é bem complicado manusear as ferramentas de desenho no digital, mas, após muito esforço e horas de treinamento, comecei a me adaptar. O ingrediente chave é não desistir. Hoje, eu diria que ainda estou engatinhando no digital, mas quando se tem um propósito em mente fica mais fácil. Enquanto não adquiria os equipamentos necessários para desenhar, eu fazia tudo no celular, aliás, quem quiser começar e tiver um smartphone, já é meio caminho andado. Está dada a dica! ”

Denis Dalben (Foto divulgação)

Entre os muitos trabalhos que Denis já prestou para o setor, há um que se destaca. A cartilha de qualidade na colheita de cana que foi feita em apenas um mês.  O artista relata que o trabalho foi realizado após ele perceber que os colaboradores levavam diversas folhas de procedimento para o campo. O resultado foi uma cartilha feita em apenas uma única folha de papel.

“Me dediquei ao máximo, sentei na frente do computador e de uma pilha de papéis e aquarela, comecei o trabalho. O mesmo foi propagado para 11 unidades de uma multinacional que mantinha usinas em todo território nacional. Outro também que tenho muito apreço, é um desenho que mostra a troca de facas de colhedora de cana. Neste, deixei a formalidade dos padrões de lado e arrisquei toda a minha criatividade. Criei literalmente uma historinha em quadrinhos com personagens reais da empresa. O ponto chave desse trabalho era que os telespectadores/colaboradores se identificassem com os materiais, comprassem a ideia e, subconscientemente, os fizessem aprender. ”

O artista, que já foi tratorista, conhece tão bem o setor que desenhas as operações em detalhes.

De acordo com um estudo do cientista William Glasser, o processo de aprendizagem do ser humano ocorre da seguinte maneira: 10% quando lê, 20% quando escuta, 30% quando apenas vê e 50% quando vê e escuta. Denis é crente desta teoria e afirma que a ilustração para o agronegócio possui uma boa demanda.

“Sem dúvida alguma, é uma terra fértil. Conversando com colegas do setor, vemos que ainda ocorrem diversos acidentes que poderiam ser evitados se o colaborador tivesse um pouco mais de instrução, se tivesse em mãos o passo a passo da atividade ou todo o risco existente daquela ação, por exemplo. Além disso, observamos também o desperdício de insumos, de defensivos agrícolas e muito mais. Nossa arte pode qualificar e otimizar os processos agrícolas, trazendo lucratividade para a empresa. Não tenho dúvida quanto a isso tendo em vista a quantidade de pedidos que sendo solicitados”, afirma Denis.

Contanto histórias reais

Apesar do artista trazer em suas obras informações importantes e de forma didática, não é somente isso que atrai seus clientes. Denis conta que é muito gratificante entregar um trabalho e perceber a alegria de seus clientes ao ver o projeto finalizado. “Essa é a parte boa desse trabalho. Através dele não oferecemos apenas ilustrações técnicas, mas satisfação e sentimentos de prazer aos nossos clientes. Há pessoas que imprimem as ilustrações e as colocam na parede de casa, pois, devido a riqueza dos detalhes que conseguimos expressar, elas se tornam verdadeiras obras de arte do agro.”

Denis contou à RPAnews que após ouvir os relatos de duas senhoras, desenvolveu um trabalho que acabou parando no Museu da Cana, que fica em Sertãozinho, interior de São Paulo. Nesta obra, o artista revela que reconstituiu, a partir dos olhos das duas mulheres, não só a colheita de cana da forma como era feita no passado, como também a vida delas. “Foi muito recompensador ver a felicidade nos olhos daquelas senhoras”, lembra.

Hoje, Denis faz o uso de ferramentas digitais para o desenvolvimento dos seus desenhos.

Para o futuro, Denis conta que tem projetos a serem concretizados. Um deles está sendo digitalizar as artes, que haviam sido produzidas em tinta e lápis, com o tema qualidade na colheita de cana-de-açúcar.

“Eu acredito que ainda haja má operação nesse setor, falta de adequação, calibração e erros nas regulagens de equipamentos. Estou procurando parceiros que compactuem com o mesmo propósito que o meu, que é revolucionar o setor agrícola brasileiro. Quero criar também um almanaque do agro, cuja ideia é mapear todos os processos, desde da preparação da área até a colheita. Vejo muito potencial neste material e acredito que se tornaria uma bíblia do agro, que poderia ser utilizado em faculdades, em empresas e muito mais.”

Maria Vitoria Trintim, sob supervisão e edição de Natália Cherubin
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