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Agrícola

Usina Santa Adélia investe em projeto para 4 mil hectares de irrigação por gotejamento

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O projeto, que inicialmente irrigará mil hectares de cana pelo sistema de gotejamento com tecnologias da Netafim, teve um aporte de R$ 40 milhões por parte da companhia

Com o objetivo de trazer aumento de produtividade para os seus canaviais, a Usina Santa Adélia, com duas unidades no Estado de São Paulo, vem há dois anos investindo mais fortemente em sistemas de irrigação. A empresa, que já faz uso de pivô e irrigação por salvamento, acaba de investir R$ 40 milhões em um grande projeto de irrigação por gotejamento em sua unidade de Pereira Barreto, que fica localizada na região de Araçatuba, SP. O projeto deve abranger 4 mil hectares de cana-de-açúcar, mas no início, atenderá 1 mil hectares que estão previstos para inicio da operação até o próximo ano.

A companhia, que hoje tem uma capacidade de moagem de 5,8 milhões de toneladas, chegou a processar 5,17 milhões toneladas em suas duas unidades na safra 2022/23 e a expectativa para a safra 2023/24 é de chegar a moagem de 5,670 milhões de toneladas, número muito próximo da sua capacidade instalada.

“O aumento já na safra 2022/23 se deu em função do clima melhor, desde a primavera do ano passado, com melhores condições pluviométricas e investimentos em alguns manejos que vem sendo alterados em busca da maior qualidade dos canaviais. Esse ano, a estimativa é ainda mais próxima da capacidade de instalada, sendo que em Pereira Barreto, vamos rodar até um pouco acima capacidade máxima, que é de 3,200 milhões de toneladas de cana. Já em Jaboticabal, existe ainda um certo gargalo, mas estamos chegando perto com o aumento da produtividade dos canaviais”, revela Cássio Paggiano, diretor Agrícola da Santa Adélia à RPAnews.

Para a temporada atual, a expectativa é que o TCH da unidade de Jaboticabal salte das atuais 85 t/ha na safra 2022/23 para 90 t/ha de média. Em Pereira Barreto, a companhia sai das 66 t/ha para uma produtividade média de 81 t/ha, 22% a mais do que na temporada anterior.

De acordo com o diretor Agrícola da Santa Adélia, a fim de melhorar na questão da produtividade, a empresa voltou a investir em uma série de manejos e um deles é a irrigação. A unidade de Pereira Barreto tem uma estrutura montada para irrigação de salvamento, que começou a operar no ano passado, onde que é possível fazer até 10 mil hectares por ano de irrigação em cana soca.

A irrigação é um tema bastante estratégico para que a companhia consiga mitigar um pouco os efeitos da falta de chuva e ter maior previsibilidade sobre a quantidade de cana ao longo das safras. “Temos um pivô, temos irrigação de salvamento e agora iniciamos um trabalho forte de irrigação deficitária por gotejamento. É um projeto para 4 mil hectares, mas estamos iniciando com mil hectares. A irrigação por salvamento foi iniciada pela companhia em 2022 e a estrutura montada cobre até 10 mil hectares por safra. Falo isso porque é uma estrutura que tem condições de fazer isso, mas que depende muito das condições de chuva e se vamos fazer mais ou menos áreas. Se tivermos retenção de água suficiente no solo, por exemplo, não fazemos a irrigação. Já a estrutura de pivô hoje atende 220 hectares”, explicou Paggiaro.

O projeto de gotejamento já está em implementação. As condições legais, contratuais, as contratações de engenharia, construção civil e escavação já estão em andamento. Inclusive, a companhia acaba de firmar um contrato com a Netafim que será a fornecedora de toda a tecnologia e equipamentos em irrigação por gotejamento. “Esperamos que no próximo outono, de 2024, estaremos com os 1000 hectares irrigados”, disse.

A Santa Adélia espera iniciar a operação do gotejamento no próximo outono de 2024. (Irrigação por gotejamento/ Crédito: Netafim)

Usina tem projeto de irrigação para 15 mil hectares

A Santa Adélia tem duas unidades localizadas em duas regiões bastante distintas quando falamos de qualidade de solos e chuvas. Apesar das precipitações anuais de ambas as regiões serem bastantes parecidas – em torno de 1200 a 1300 milímetros – a distribuição das chuvas é bastante diferente na região de Pereira Barreto, que também sofre um outono/inverno mais rígido e com temperaturas mais altas, o que causa uma evapotranspiração muito maior nas plantas e uma necessidade maior de água. “Já que temos alta temperatura em um momento em que não temos água, vamos aproveitar essa temperatura para a cana continuar crescendo com uso da água por irrigação”, disse Paggiaro.

A companhia já tinha feito um projeto grande que abrange 15 mil hectares de irrigação na unidade de Pereira Barreto, que está posicionada entre três grandes rios, o Rio Tietê, o Rio Paraná e o Rio São José dos Dourados, que dão uma condição de captação de água muito interessante.

“Em função dos invernos e outonos bastantes restritos em relação a condição hídrica, a usina já começou a pensar, lá atrás, e tem um pré-projeto de 15 mil hectares que são divididos em polos, cada qual com seu polo de captação, sua outorga, inclusive, com a maioria das outorgas já emitidas”, explica o diretor Agrícola da companhia.

O projeto de irrigação por gotejamento deve expandir em hectares, mas, de acordo com Paggiaro, dependerá de uma série de fatores como os resultados que serão obtidos nos mil hectares implementados inicialmente e a curva de aprendizado da operação por gotejo.

“Temos algumas consultorias que vem nos orientando. Para cada polo fizemos um estudo para saber o que seria mais adequado em relação ao tipo de irrigação, principalmente pivô X gotejamento. Fazendo todas as ponderações, o gotejamento para o nosso caso é mais interessante por uma série de razões como melhor aproveitamento da água, a condição melhor para fazer a fertirrigação, controle de algumas pragas, principalmente dos besouros como migdolus e sphenophorus. Tenho visitado muitas empresas que estão bastante evoluídas nesta questão de irrigação por gotejo”, destacou Paggiaro.

A companhia vai desembolsar R$40 milhões de reais no novo projeto de irrigação por gotejamento, mas Paggiaro destacou que não se pode analisar apenas quanto o investimento custará por hectare, porque toda a infraestrutura, montada na primeira fase do projeto – que vai incluir toda parte de obra civil, captação e escavação – vai servir para quase 4000 hectares posteriores.

Apesar do investimento para um projeto de irrigação por gotejo ser um pouco maior, o custo da operação será menor. “O estudo que fizemos é para, no mínimo, 10 colheitas, mas vemos usinas fazendo até 15 colheitas de cana com irrigação por gotejamento. Tudo isso é um facilitador e um diluidor dos custos finais.  Em função de tudo isso, do payback, optamos em trabalhar nesse primeiro bloco via gotejamento. Pelas vantagens agronômicas e técnicas optamos por esse manejo, mas também pelo menor custo de Opex”, disse à RPAnews.

O primeiro resultado com o uso do sistema de irrigação via pivô foi de 150 t/ha no primeiro corte de um canavial colhido com 11,5 meses. A expectativa é que este número suba na safra 2023/24.

Escolha de variedades é relevante para bons resultados

A irrigação por pivô foi um projeto implementado bem rápido pela Santa Adélia. O plantio da cana foi feito em agosto de 2021 e a colheita foi em agosto de 2022. O primeiro resultado com o uso do sistema de irrigação foi de 150 t/ha no primeiro corte de um canavial colhido com 11,5 meses.

“A curva de aprendizado é muito importante. Tivemos algumas falhas principalmente no controle da broca, então colhemos a cana com alta infestação desta praga, o que nos roubou um pouco da produtividade. Esse ano estamos muito mais adequados. O canavial colhido no ano passado está com oito meses e já tem 150 t/ha de acordo com a nossa biometria, então em agosto deste ano ele vai produzir mais, com certeza. Fizemos uma série de ajustes no manejo dessa irrigação”, explica Paggiaro.

A escolha da variedade é algo que tem pesado muito no resultado final. “Na área de pivô estamos com quatro variedades e as quatro ficaram muito próximas em produtividade, mas existe uma diferença entre a melhor e a pior de 15 t/ha, ou seja, essa escolha é muito importante e não temos tanta informação sobre as variedades em uso em sistemas de irrigação plena, principalmente”, disse.

Para o projeto de irrigação por gotejamento, a companhia realizou um bechmarking com outros irrigantes e decidiu que cerca de 80% da área vai ser plantada com variedades que já vem sendo usadas em irrigação por gotejamento.

“Nos outros 20% serão implementadas uma série de variedades que tem potencial para este sistema de manejo. Vamos usar para aprendizado e depois vamos escolhendo. As variedades que testamos no pivô são a CTC 9001, a CTC9004, a CTC4 e a IAC 5094. Todas estão bem parecidas hoje. Em termos de produtividade, a que mais produziu foi a CTC 9004 em primeiro corte, mas não foi uma diferença tão grande entre elas. Todas estão muito bonitas, a CTC 9001 está muito bonita visualmente este ano. Já a IAC5094 tem um porte mais ereto. Vamos medir os reflexos disso na colheita, ainda mais pensando que teremos um ambiente mais úmido”, explicou à RPAnews.

Além da questão das variedades, a fertilização dessa cana é totalmente diferente também. “Praticamente todo mês fazemos algum tipo de fertilização. No pivô fazemos por fertirrigação, mas no gotejamento fica mais facilitado esse processo”, disse.

Por enquanto, a companhia está investindo em irrigação apenas na unidade próxima a região de Araçatuba, mas está fazendo estudos sobre a capacidade hídrica do entorno de Jaboticabal para analisar se é possível realizar um crescimento mais verticalizado na unidade que fica na região, onde há uma escassez de terra livre para produção de cana-de-açúcar.

Natália Cherubin para RPAnews

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