Movimento ocorre paralelamente à busca do grupo por um novo sócio para a Raízen
Enquanto procura um sócio estratégico para fazer um aporte na Raízen, a Cosan, do empresário Rubens Ometto, foi procurada por investidores com interesse em comprar uma participação minoritária na holding, de acordo com fontes.
A possibilidade não é descartada pela empresa, mas a decisão de aceitar um novo aporte, e de qual sócio eventualmente escolher, é do fundador do negócio.
O assunto chegou a ser abordado, de forma superficial, na última teleconferência de resultados da companhia. O analista do Citi, Gabriel Barra, perguntou à diretoria se no caso da falta de um terceiro sócio para Raízen, além da Shell, a empresa não consideraria a entrada de um investidor estratégico na Cosan, já visando a sucessão do negócio.
O CEO da companhia, Marcelo Martins, respondeu: “Uma coisa não tem nada a ver com a outra, ou seja, não trazer um terceiro player para Raízen, não criaria a necessidade de trazer alguém no capital da Cosan”.
No entanto, ele disse que a questão sucessória é importante. “Com relação à sucessão em Cosan, sabemos muito bem que esse é um tópico muito importante. Para mim, esse é um tópico de primeiríssima urgência, juntamente com a questão da estrutura de capital, e teremos de, no decorrer do tempo, também endereçar isso”, afirmou Martins.
Ele reforçou que o assunto é discutido, mas que a decisão é de Rubens e da família Ometto.
A Cosan é a holding que congrega os negócios de Ometto, com seis empresas, incluindo nomes como Raízen, Rumo e Compass, que atuam nos setores de biocombustíveis e distribuição de combustíveis, logística e gás.
A dívida do grupo cresceu após alguns passos, como a compra de uma participação na Vale no final de 2022, na época estimada em R$ 22 bilhões, e que foi vendida em janeiro desde ano, com a ação na baixa, gerando R$ 9 bilhões.
O grupo fechou o segundo trimestre com uma dívida de R$ 17,5 bilhões, queda de 20% em 12 meses. “A empresa ficou muito desconfortável com o aumento do endividamento e eles passaram a tomar medidas nos últimos meses para reduzir, como a venda de ativos não essenciais e também potenciais vendas de participação”, comenta o diretor de um banco.
Apesar da argumentação de que uma entrada de um sócio na holding não se relacionaria com a falta de um novo investidor para a Raízen, fontes afirmam que a holding é muito mais atraente do que a investida em parceria com a Shell. Ou seja, receber o aporte dessa maneira seria mais fácil.
Na Faria Lima, executivos de bancos de investimento têm mencionado a possibilidade de um sócio na holding, o que ajudaria a capitalizar a Raízen. Segundo o diretor de um banco, mais do que na Raízen, há investidores interessados em comprar outros ativos do grupo, principalmente a Compass, mas a sinalização é que não haverá venda de outras empresas.
Na Raízen, o processo de venda de ativos continua, com as operações da Argentina em fase de recebimento de propostas não vinculantes, puxadas por empresas locais, segundo apurou a Coluna do Broadcast.
Já no Brasil, a empresa segue se desfazendo de usinas. A última venda foi em julho, de 55 usinas de geração distribuída, por R$ 600 milhões.
Procurada, a Cosan não comentou.
O Estado de S.Paulo| Talita Nascimento, Cynthia Decloedt e Altamiro Silva Junior