A safra 2025/26 começou sob pressão no Centro-Sul do Brasil. De acordo com dados da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (UNICA), a moagem na segunda quinzena de junho somou 42,71 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, uma retração de 12,86% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado da safra até 1º de julho, foram processadas 206,2 milhões de toneladas, o que representa uma queda ainda mais acentuada, de 14,06%, frente às 239,95 milhões de toneladas registradas no mesmo intervalo da safra anterior.
Além do volume menor de cana, a qualidade da matéria-prima também preocupa. O índice de Açúcares Totais Recuperáveis (ATR) por tonelada caiu de 140,18 kg no mesmo período de 2024/25 para 131,53 kg agora — uma redução de 6,17%. No acumulado da safra, o ATR médio está em 122,19 kg/t, com variação negativa de 4,79%. O impacto da queda na qualidade é agravado pela baixa produtividade agrícola: segundo dados do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), entre abril e junho, o rendimento por hectare caiu quase 11% na comparação com o mesmo período do ano anterior. A combinação desses dois fatores resultou em uma perda superior a 15% no ATR por hectare colhido até o momento.
Com a moagem mais lenta e a cana menos doce, a produção industrial também foi afetada. A fabricação de açúcar na segunda quinzena de junho foi de 2,84 milhões de toneladas, recuo de 12,98% em relação às 3,27 milhões de toneladas do mesmo período do ano passado. Desde o início da safra, foram produzidas 12,25 milhões de toneladas de açúcar, frente a 14,29 milhões no ciclo anterior — queda de 14,25%.
A produção de etanol seguiu o mesmo ritmo. Foram fabricados 1,92 bilhão de litros no período, sendo 1,17 bilhão de etanol hidratado (queda de 17,70%) e 742,96 milhões de litros de anidro (queda de 17,00%). No acumulado da safra, o volume total produzido é de 9,43 bilhões de litros, 14,81% abaixo do registrado no mesmo intervalo de 2024/25. Desse total, 6,12 bilhões correspondem a hidratado (queda de 13,84%) e 3,31 bilhões a anidro (queda de 16,55%).
Por outro lado, o etanol de milho continua em expansão. A produção do biocombustível a partir do grão somou 373,62 milhões de litros na quinzena, alta de 22,57% frente ao mesmo período do ano passado. No acumulado da safra, a produção de etanol de milho já alcança 2,18 bilhões de litros, avanço de 22,12% em relação ao ano anterior.
As vendas também mostraram retração. Em junho, foram comercializados 2,8 bilhões de litros de etanol, 3,58% a menos do que em junho do ano passado. O etanol hidratado registrou queda de 4,63%, com 1,78 bilhão de litros vendidos, enquanto o anidro teve leve redução de 1,68%, somando 1,02 bilhão de litros. No mercado doméstico, a venda de hidratado foi de 1,71 bilhão de litros, 6,23% abaixo do volume comercializado no mesmo período do ciclo anterior.
Ainda assim, o etanol segue competitivo frente à gasolina em diversos estados. Segundo levantamento da ANP, na semana de 29 de junho a 5 de julho, o biocombustível apresentou paridade média nacional de 66,8%, com destaque para os estados de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná, onde o etanol foi mais vantajoso em todas as cidades avaliadas.
No acumulado da safra, a comercialização total pelas unidades do Centro-Sul soma 8,56 bilhões de litros, com retração de 2,59%. As vendas de hidratado representam 5,49 bilhões de litros (-5,10%) e as de anidro, 3,07 bilhões (-2,24%). A expectativa é de que a demanda por anidro cresça nas próximas quinzenas, com a entrada em vigor do E30, contribuindo para a expansão do uso de combustíveis com menor pegada de carbono.
No mercado de CBios, os dados da B3 até 11 de julho apontam a emissão de 22,58 milhões de créditos de descarbonização em 2025. A oferta total disponível para negociação entre partes obrigadas, não obrigadas e emissores soma 27,49 milhões de CBios. Segundo a UNICA, somando os créditos disponíveis e os já aposentados, o setor já atingiu cerca de 80% da meta estabelecida para o ano pelo programa RenovaBio.